Domenico Della Volpe nunca existiu. Todos os resquícios que eu poderia ter do tempo incrível que passara com ele, desapareceram. O quarto do hotel estava intocado. O seu cavalo que costumava ficar no clube tinha desaparecido. O carro que eu havia estacionado de qualquer jeito quando cheguei em casa naquela fatídica noite, nunca mais eu vi.
Eu estava me degenerando, de dentro para fora. Mas não podia falar com ninguém. Arthur e Lizzie nunca conheceram Dom. Eles conheciam Holden Vaughn. E mesmo se eu explicasse toda a história a eles, simplesmente não podia arriscar envolve-los nisso.
Naquela noite, eu passei muito tempo no carro. Chorei todas as lágrimas que pude. Soquei o volante, depois abracei, por que ele ainda cheirava como o perfume favorito de Dom. Quando eu entrei em casa, já era quase de manhã. Meu rosto não estava mais inchado.
Eu jurei a mim mesma que Arthur e Lizzie não saberiam que eu estava sofrendo. E eles nem perceberam. Ficaram tão felizes com a minha volta. Me abraçaram e beijaram. Eu agradeci por isso. Eles não podiam saber, mas eu precisava daquele carinho.
Alguns dias depois, Lorelai bateu em nossa porta. Nosso pai estava morto, ela avisou. A história era uma tentativa de roubo que deu errado. Alguns bandidos fugiram levando o seu carro e alguns bens pessoais.
Conforme Lorelai contava aquela história mentirosa, eu percebi seus olhares para mim. Ela sabia a verdade. Ou ela ou Anna tinham cuidado de esconder o que realmente aconteceu e criar uma farsa que não acabasse comigo presa por assassinato. Não me importei em perguntar quem foi, eu nem me importava.
— Vamos agora a divisão dos bens — o advogado da família começou a ler o testamento. Christopher tinha muito dinheiro. Ele tinha deixado a maioria das propriedades para Lorelai. Meu irmão ganhou acesso ao seu fundo de investimento, mais nada. Todo o resto ficou para mim, inclusive a empresa.
— Você pode ficar com a empresa — avisei Lorelai. — Eu não tenho interesse.
O resto do dinheiro, eu passaria para o meu irmão, com calma. Não queria dar a ele a chance de recusar.
Com a herança da minha mãe e de Geoffrey eu tinha dinheiro mais que suficiente para viver o resto da minha vida sem me preocupar em trabalhar. Eu não precisava de um centavo do dinheiro sujo de Christopher.
Quando o ano novo chegou Arthur e Lizzie estavam animados. Lorelai estava dando uma festa na nossa antiga casa. Eu não entendia direito essa recém descoberta amizade entre os três, mas não reclamava.
Arthur tinha um coração bom, se ele podia perdoar Lorelai, eu ficava feliz por ele. Era bom que ele tivesse mais pessoas na sua família. Já que eu não estava planejando ficar muito tempo.
Apesar de fingir muito bem quando outras pessoas estavam por perto, eu estava no fundo do poço. Não conseguia dormir sem ver Dom em meus sonhos e nunca tinha um final feliz. Todas as noites que eu tentava dormir, revivia sua morte. Então simplesmente parei de tentar.
Eu tomava remédios para me manter acordada e depois de alguns dias, quando não aguentava mais, me entupia de outros para dormir mesmo sem nenhum sono. Essa rotina estava me matando, mas não me importava.
Tomei um banho pela primeira vez naquela semana e deixei Lizzie me arrumar como sua boneca. Ela merecia por aguentar todas as minhas merdas.
— Que bom que vocês vieram! — Lorelai abraçou cada um de nós quando entramos em sua casa, nossa antiga. Tudo estava decorado em tons de prata. Muito brilho.
Procurei ao redor, ávida para encontrar um dos bares recém montados, onde eu poderia passar o resto da noite.
— Preciso conversar com você no meu escritório — a mulher pediu quando me abraçou.
Ela continuou conversando com meu irmão e eu aproveitei para me afastar. Aquele bar estava muito mais interessante.
— Whisky, puro — pedi. O garçom me entregou um copo com menos de um dedo da bebida. — Me dá isso aqui.
Tirei a garrafa da sua mão e enchi meu copo.
— Obrigada — agradeci. O sarcasmo era uma característica marcante na minha nova personalidade.
— Katherine — Lorelai apareceu ao meu lado novamente. — Eu realmente preciso que você venha comigo. Tem uma pessoa aqui para falar com você.
Por um minuto, meu coração parou. Me permiti ter esperança. Holden poderia estar vivo. "Tenha fé" ele pediu. Eu estava fazendo exatamente o oposto disso.
— Quem é? — eu perguntei, muito emocionada. O rosto de Lorelai se contorceu. Ela entendeu que tinha me dado falsas esperanças.
— Sinto muito, querida.
— Tudo bem. Vamos acabar logo com isso. — Eu a segui até um dos escritórios. Anna estava sentada na cadeira giratória, no escuro, com apenas um abajur aceso ao seu lado.
— Vou dar privacidade a vocês. — Lorelai bateu a porta de madeira atrás de nós.
— Isso é para me assustar? — perguntei.
— Desculpe, — Anna riu — sempre quis fazer isso.
Ela estava quase... feliz. E isso me irritou muito.
— Eu preciso que você venha comigo.
— Para onde?
— Hospício Rainha do Vale.
— Você quer me internar?
— Seu papai a interditou antes de morrer. Vai continuar assim enquanto você não entrar com um pedido para desfazer essa ordem judicial.
— Eu simplesmente não tive tempo de providenciar isso ainda.
— E nem vai. Vamos internar você novamente.
— O que? Por quê?
— Kate, confie em mim. — Eu percebi que ela estava falando sério. — Se despeça do seu irmão e da sua amiga, saímos assim que der meia noite.
Eu voltei para a festa, muito confusa e não era por causa da bebida. O que Anna poderia querer com esse plano eu não entendia, mas precisava confiar nela se quisesse saber.
Encontrei Arthur e Lizzie alguns minutos depois. Animados, dançando e beijando. Eu sabia que eles ficariam bem sem mim.
— Preciso ir embora — avisei.
— O que? Por quê? Não está gostando da festa, gatinha? Podemos levar você para casa.
— Não, não é isso. Eu estou indo embora. Não contei para vocês, mas aquele tempo que eu sumi, depois dos meus surtos, estive em um hospital psiquiátrico.
— O que? — Lizzie quase caiu no chão com o susto.
— Eu achei que estava melhor, mas não estou. Preciso voltar para lá.
— Kate, calma, você não precisa se internar num hospício, podemos cuidar de você.
— Não. Eu quero ir. Vou ficar bem lá. — Abracei os dois juntos. — Eu amo vocês e desejo tudo de bom para o seu casamento.
— Parece que você está se despedindo para sempre — Lizzie choramingou.
— Eu amo vocês — repeti.
Soltei os dois e fui procurar por Anna. Eu tinha fechado um ciclo aqui. O que quer que ela planejasse para mim, eu não voltaria mais para Santa Bárbara.
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Pura Luxúria (Completa) - Série Criminosos Irresistíveis - Livro 1
RomanceKatherine MacLaine tem tudo planejado na sua vida perfeita. Acabou de se formar em Yale e está pronta para assumir o negócio da família e talvez até casar com o namorado de longa data. A vida perfeita para a princesa certinha da família MacLaine. At...