Eu fui para casa pensando em todas as coisas que havia conversado com Julia. Eu estive errada, menti e traí Dean. Mas eu me sentia ultrajada por tudo que ele havia feito. A culpa que senti pelo seu ciúmes, os sentimentos que eu reprimi por medo de perdê-lo e toda a nossa história estavam me sufocando.
Fui até seu closet e comecei a tirar todas as caixas da prateleira de cima, vasculhando tudo que pudesse me dar mais indícios do canalha que eu achava que ele era.
Passei pelas páginas dos diversos cadernos de contabilidade da nossa casa. Comecei a rasgar todas as páginas, jogando um por um no chão. Encontrei algumas camisinhas e idiotamente fiquei aliviada por ele ter ao menos consciência de se proteger. Alguns comprimidos sem receita ou identificação também estavam no meio de suas coisas e a caixa onde estavam voou pelo quarto com meu grito de ódio.
Liguei o notebook dele, eu sabia que Dean fazia backups de seus dados do celular em algum lugar e passei o dia inteiro praticamente obcecada com isso. Não comi ou descansei. Meu dia de folga do trabalho pelo surto do dia anterior só serviu pra me deixar mais ansiosa e fora de mim.
Meu conhecimento limitado de informática ainda superou o de Dean. Encontrei diversas fotos dele com uma loira de rosto angelical. Cliquei em um vídeo onde eles apareciam entre lençóis. Ele a filmava e ela sorria. "Sorria pra mim, querida.", a voz grave dizia e ela se divertia com olhos cor de mel que poderiam derreter o mais gelado dos corações. "Querida". O mesmo jeito que ele me chamava, a mesma entonação, os nossos lençóis na cama do apartamento onde moramos nos nossos primeiros três anos de casados. Terminavam o vídeo se beijando e a câmera deitada de lado na cama.
Este foi o primeiro momento do dia que eu chorei. Nem mesmo a certeza que ele dormia com outras pessoas me magoou como aquela demonstração de afeto. Limpei as lágrimas e entrei no quarto tropeçando nas roupas e coisas que eu joguei no chão. Entrei novamente no closet e peguei a última caixa de cima da prateleira, Dean tinha herdado uma arma de seu pai. Eu nem sabia mexer direito naquilo e nunca me interessei muito, mas fiz duas ou três aulas de tiro por insistência dele.
Eu sabia que era loucura mas havia uma parte de mim cega e sem noção das consequências. Mandei algumas fotos de Dean com sua "querida" pro meu telefone e saí de casa ainda desnorteada. Entrei no primeiro táxi que enxerguei na rua principal próxima ao prédio e dei o endereço do quartel de bombeiros. Uma tempestade se armava no céu, com relâmpagos e trovões e era exatamente assim que eu sentia meu interior.
Milhões de confusões passaram na minha cabeça durante o tempo em que o carro demorou para parar. A chuva já tinha começado, densa e fria. Dei uma nota muito maior do que o valor da corrida pro taxista e saí do carro antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.
Talvez Dean nem estivesse lá. Talvez seu plantão fosse mentira e ele estivesse transando com qualquer pessoa por aí. Eu estava sentindo uma dor tão grande que não tinha pensado exatamente no que eu ia fazer.
Entrei na porta principal e Edgar me olhou como se tivesse vendo uma assombração. Eu devia estar mais pálida ainda do que quando saí de casa, agora se somavam a fome, o frio da chuva e o nervosismo.
- Liv, está tudo bem? - ele perguntou se levantando da cadeira.
O quartel era um alojamento. Como os bombeiros tinham que passar muito tempo lá e o ambiente era o mais amigável possível. Eu já conhecia o lugar de alguns eventos e visitas familiares.
- Dean está aqui, Ed? - era a primeira vez que eu falava alguma coisa desde minha conversa com Julia. Minha voz quase não saiu.
- Está, Olivia. Ele chegou às seis. - ele disse espontaneamente. - Aconteceu alguma coisa?
Seis? Ele havia saído de casa pela manhã. Eu me senti a mais idiota das criaturas. Meu rosto deve ter ficado tão transtornado que Edgar não me perguntou mais nada.
- Ele está na sala de convivência com os outros - ele apontou o dedo para o corredor das escadas que levavam ao andar de cima.
Eu nem agradeci, apenas passei por ele e subi as escadas sentindo um enjôo imenso por todas as vezes que Dean me tocou. Minha cabeça pulsava. Eu cheguei à sala de convivência, de um lado estavam Connor e Nolan, jantando sentados à mesa rústica de madeira, do outro estava Dean, meio esticado no sofá, assitindo televisão.
Ele me olhou e deu um pulo. Se levantou do sofá com um expressão surpresa e veio na minha direção.
- Está tudo bem, querida? - ele prguntou e eu dei um grito o empurrando. Connor e Nolan se levantaram prontamente.
- Você é um filho da puta, Dean. Mentiroso. Onde esteve o dia todo? - avancei sobre ele batendo em seu rosto da forma que eu podia. Ele segurou meus braços gritando pra eu ter calma e eu mal conseguia vê-lo por causa dos olhos cheios de lágrimas.
- Liv, pare. - ele gritou e estiquei as pernas dando chutes nele. Suas mãos continuaram me segurando até que ele me empurrou de leve para trás e peguei o celular no bolso.
- Você é um doente, desgraçado mentiroso, "querido". - mostrei a foto do beijo entre ele e a loirinha e joguei o celular no meio do peito dele. - Eu odeio você.
- Liv. - ele veio andando na minha direção e eu andei para trás, limpando o rosto do choro e da água de chuva que escorria do meu cabelo.
Quando encostei na parede ele deu mais um passo para frente, nem pensei e tirei a arma que estava nas minhas costas, entre minha pele e a calça jeans. Connor se adiantou em nossa direção e Dean levantou as mãos na altura dos ombros.
- Olivia, por favor. - Dean falou olhando minha mão vacilante, tremendo muito mais do que antes.
- Eu odeio você. - falei com desespero. Meu juízo não funcionava direito. Vi Connor se aproximando, ele tinha os olhos assutados, mas sua expressão era preocupada.
Eu não tive a dimensão do que Dean havia feito comigo até o momento em que fiquei nauseada pelas atitudes dele. A noite que ele se foçou em mim me golpeou como um peso que caísse de uma vez na minha cabeça. Eu tive vontade de apertar o gatilho, mas entendi que isso traria consequências muito mais dolorosas pra minha vida do que já havia acontecido até aquele ponto.
Nunca tinha chorado de forma tão desolada na minha vida. Nunca me senti tão vazia e descartável.
O braço que estava esticado na direção de Dean se dobrou, eu olhei pra arma e a coloquei bem na têmpora, sentindo o metal frio do cano da arma na minha cabeça.
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Os 4
Short StoryQuando Olivia e Dean decidiram apimentar a relação com uma troca de casais não poderiam imaginar que estariam abrindo seu mundo para muito mais do que só prazer. Venha se apaixonar pela história de 4 pessoas com os destinos traçados da forma mais su...