Capítulo 15

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Eu ouvia somente um som bem agudo, como quando escutamos uma explosão ou um barulho muito alto. Via Dean mexendo a boca, mas sua voz não era inteligível. Ele mexia as mãos e fazia um sinal de não com a cabeça, mas parecia que eu enxergava tudo em câmera lenta.
Meu indicador se moveu, tremendo e eu só queria que meu corpo parasse de doer tão profunda e absurdamente.
- Olivia! - a voz de Connor soou grave, num volume que me despertou do transe, eu olhei pra ele e respirei profundamente.
Connor se aproximou e abaixou meu braço, tirando a arma da minha mão. Ele a entregou a Nolan e me abraçou tão forte que foi difícil respirar. Esse contato súbito e a sensação de estar contida me fez voltar aos poucos à realidade e me dei conta do que eu quase fiz.
Connor segurou minha cabeça contra seu peito e consegui ouvir seu coração disparado, sentindo suas mãos geladas.
- Está tudo bem. - ele dizia com a respiração completamente descompassada. - Tudo bem agora.
Nolan falou algo sobre chamar a polícia e Dean disse que não era necessário. Eu só conseguia entender alguns flashes do que era dito ao meu redor, meio amortecida.
- Preciso ir embora. - falei com o que me sobrou de capacidade de raciocínio. Connor me segurou ainda mais forte, como se pudesse me fixar ao chão. Dean estava sentado no sofá com a cabeça entre as mãos.
Eu olhei pra ele e me retorci com a memória da noite anterior. Pareciam duas pessoas diferentes. Eu não conhecia quem ele era de verdade.
- Connor, leve Olivia. - Edgar pediu assim que chegou na sala.
- Não. - Dean se levantou do sofá protestando e eu o olhei furiosa. Era inacreditável que ele ainda achasse ter qualquer direito a opinar sobre o que aconteceria comigo.
Connor me soltou por uns minutos e deu um soco tão forte em Dean que ele caiu no sofá. Nolan e Edgar seguraram Connor antes que ele voasse para cima de Dean. Eu saí andando e desci as escadas, precisava me afastar de qualquer lugar que tivesse remotamente a ver com Dean.
Quando saí na rua a chuva voltou a me molhar e saí pela calçada sem saber pra onde ir.
Connor segurou meus ombros. Me virei pra ele vendo-o se molhar todo. Ele me guiou para dentro do carro de Edgar e dirigiu. Eu só fechei os olhos, abatida e cansada.
Connor não tinha mais uma casa. Separado de Julia ele estava ficando provisoriamente no quartel. Eu não queria ir para a minha casa, tão cheia de memórias sobre Dean.
Paramos em um hotel e logo estávamos abrigados da tempestade. Eu continuava tremendo, tirei as roupas e entrei no chuveiro, deixando a água quente me percorrer, depois sequei meu cabelo e me enrolei num roupão. Connor havia pedido comida e eu empurrei algo pra dentro do corpo enquanto ele tomava banho.
- Liv, deite-se e descanse um pouco. - ele pediu vendo meu olhar perdido.
- Ele me traiu este tempo todo. - falei finalmente. - Eu estava preocupada com não ser suficiente pra ele depois de Julia e na verdade eu nunca fui, Con. Eu sou muito burra.
- Ele é um cretino. Não é você que é burra. - ele falou meio consternado. - Você precisa parar de pensar nisso e descansar. Eu não sou bom com palavras, às vezes o que quero dizer não sai como eu queria. Mas acredite, ele é o errado nisso tudo.
- E nós? O número de vezes que ele esteve com outra mulher importa mais do que a vez que eu estive com você?
- Eu não sei, Liv. Talvez não. Honestamente eu queria me sentir culpado por aquela noite. Mas eu não consigo. Eu queria você mesmo que você ficasse com ele. Isso não me torna um homem melhor do que ele. Mas era um preço que eu estava disposto a pagar pra ficar com você. - ele esfregou uma mão na outra, num ato de nervosismo. Seu rosto estava inteiro contraído e eu me encolhi na cadeira.
- Eu sabia que de nós quatro eu era a que ia surtar primeiro. - confessei. - Eu desisti logo no início justamente por medo de nos tornarmos meros amantes. O que eu sentia por você era maior e melhor do que isso.
- Eu desisti de viver uma vida que não era a minha, Liv. Casado com alguém que não amava mais. - ele suspirou. Era preciso coragem pra entender isso. Uma coragem que eu não tive.
- Uma vida que não era a minha. - repeti repassando meus últimos tempos com Dean na memória.
- Eu estou irresistivelmente apaixonado por você, Olivia. Eu nunca tive tanto medo quanto hoje. E foi porque eu pensei que você fosse... - sua voz sumiu, seus olhos ficaram vermelhos e marejados.
Eu comecei a me sentir um pouco menos ansiosa. Apesar de não conseguir sentir qualquer coisa sexual naquele momento, meu corpo se aqueceu finalmente.
- Descanse, por favor. Eu quero que saiba que está segura e protegida. - ele garantiu, mas nem precisava. Eu já me sentia assim.
Levantei da cadeira e o abracei. Ele afundou o nariz no meu cabelo e respirou fundo. Então me deitei na cama e fechei os olhos.
De alguma maneira antes de dormir eu ainda abri os olhos e o vi deitado ao meu lado, sem nenhuma menção de invadir meu espaço ou me desrespeitar.
Confiança. Checado.

Pela manhã acordei e vi Connor dormindo. Foi a primeira vez em dias que eu senti que meu sono foi reparador. Sabia que ainda havia muito a arrumar, tanto na minha cabeça quanto na minha vida. Mas a ausência de segredos e angústias me fizeram mais confiante.
Eu sentia que podia encarar Dean sem me sentir culpada, e eu precisava disso para poder me libertar dele.
Connor havia solicitado o serviço de lavanderia e também havia trazido meu celular, mas repeli a ideia de vê-lo. Fui ao banheiro e me vesti. Passei as mãos pelas ondas do cabelo e lavei o rosto.
Quando saí ele estava se trocando. Se virou pra mim terminando de fechar a calça.
- Bom dia, Olivia. - ele falou rouco de sono e me lembrei da noite anterior. Como sua voz me trouxe de volta e como meu nome em seus lábios parecia algo sagrado.
Cruzei o quarto e o beijei, segurando seu rosto entre minhas mãos. Agradecida por ele me enxergar no meio de toda tormenta.
Ele passou um braço pela minha cintura e a outra mão pela minha nuca, me segurando forte num beijo que demorou tempo demais pra acontecer, enquanto eu "insistia numa vida que não era mais minha".

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