Capítulo 19

2.8K 175 2
                                    

Entrei no lugar que chamei de casa por algum tempo e não senti mais como se pertencesse a ele. "São só coisas.". Foram minhas coisas, mas agora eu era mais importante do que elas. Olhei no relógio, obviamente antes de subir eu me certifiquei que Dean não estaria em casa, mas era provável que ele chegasse a qualquer momento.
Arrumei algumas coisas em caixas e as fechei. Achei irônico estar separando coisas para uma casa, sendo que eu nem tinha uma. Me peguei pensando em quanto ficaria um frete para o Havaí, na ideia mais encantadoramente doida que Connor teve. Eu mesma quis ir embora com Dean e ele foi relutante. Eu seguiria Connor para o inferno se ele me chamasse.
Mas eu estava com os dois pés no freio para esta mudança, por causa da situação de Julia. Tinha falado a Con que preferia esperar mais um tempo antes de algo tão drástico, pelo menos na esperança que ela decidisse contar a ele sobre o bebê.
Coloquei minhas roupas dentro de uma caixa, sapatos, separei coisas para doação e estava arrumando os cosméticos na pia do banheiro quando olhei Dean na porta pelo reflexo do espelho. Me virei de frente pra ele o rapidamente e o encarei. Sua aparência era péssima, olheiras profundas e uma palidez nova pra mim, acostumada com o tom mais dourado de sua pele.
Elizabeth cumprira sua palavra, ele segurava um envelope pardo na mão com a logomarca do escritório dela. Dean me encarava derrotado, abatido, como se tivesse tomado a pior das surras na rua.
- Eu não vou te machucar. - ele disse claramente chateado.
- Pelo tanto de coisas que você já fez pelas minhas costas, acho melhor ficar de frente pra você agora. - apertei os olhos e falei friamente. - Vim deixar as chaves para as visitações e pegar algumas coisas.
- Está morando com ele? - ele perguntou prendendo a mandíbula. - Claro que está. Ele não está ficando mais no quartel. Só pode estar com você.
- Eu não vou ter essa conversa com você. - desviei dele para sair do banheiro.
- Olivia, há alguns dias você estava aqui, nessa cama comigo, dizendo que me amava.
- Você estava chamando Julia durante o sono, Dean. Você transava com aquela mulher das fotos na nossa cama. Na cama onde você dizia que me amava. - eu já estava no meio do quarto para ir embora, mas me virei e empurrei ele.
- Eu mereço, Olivia. Você pode me xingar, descontar tudo em mim, mas você sabe que me ama. E eu te amo. - ele segurou minha mão e eu puxei de volta.
- Você só ama a si mesmo, Dean.
- Liv. - ele me encostou na parede com tanta força que bati a cabeça e fiquei paralisada de medo. - Fique comigo.
- Não. - tentei empurrá-lo.
Dean colocou a mão no meu pescoço e apertou de leve, encostando a boca na minha. Minha força não era suficiente para afastá-lo de mim. Olhei pro relógio novamente. Meu trato com Connor era que se Dean chegasse eu desceria em 10 minutos, no máximo. Caso contrário ele subiria.
Mal terminei de pensar isso e a campainha tocou. Dean se afastou de mim e ficou me olhando meio aturdido.
Saí do quarto e fui embora com Connor, carregando o que eu já tinha arrumado.

Dean assinou os papéis do divórcio e enviou para Elizabeth no dia seguinte. Eu avisei Connor por mensagem. Quando saí da escola vi Connor encostado em sua moto, iluminado pelo pôr do sol, com seu sorriso mágico aberto pra mim. Me aproximei dele e o abracei, sendo erguida do chão pelos seus braços ao redor da minha cintura.
Subi na moto com ele e ele pegou alguns caminhos diferentes, inclusive pela avenida beira mar, e observamos o dia terminando na areia.
- Posso pedir minha dispensa? - ele disse passando o braço pelas minhas costas.
- Havaí, certo? Ainda não. - eu disse olhando pro oceano e encostando a cabeça em seu rosto. - Já disse que ainda tem mais um assunto que precisamos resolver.
- Eu sei. - ele suspirou.
- Eu não posso te contar ainda. Mas você vai saber logo, Con. Sinto muito. Não gosto de segredos.
- Não me importo, Liv. Eu já imaginava que ficaríamos aqui por mais tempo. Só estou provocando você pra não se esquecer que temos um futuro ótimo esperando por nós.
- Estou aproveitando meu presente, Con. Mas iremos, eu prometo.
- Já que estamos falando em promessas, preciso te mostrar algo.
Ele me levantou pelas mãos e batemos a areia. Em poucos minutos estávamos entrando numa casinha situada numa praia mais afastada. As portas da sala davam quase na areia e Connor ficou observando minha reação.
- A gente não pode morar num hotel até decidir nossa vida, Liv. O que achou? - ele sorriu.
Olhei ao redor e me senti em casa. Foi surreal ver como um espaço vazio com Connor dentro parecia tão aconchegante e acolhedor.
- Eu amei. - falei pulando em seu pescoço e beijando sua boca.
Connor fez amor comigo no chão da nossa nova casa. Eu nunca havia estado tão feliz ou em paz na minha vida.Me deitei em seu peito ainda nua, e ficamos olhando nossas mãos se entrelaçando na penumbra da sala. Era tudo tão perfeito que meu coração explodia em esperança e felicidade.
- Estou tão feliz. Só nós dois. - falei com um sorriso entalhado no rosto.
- Só nós dois. - ele riu e beijou meus dedos.
Fomos ao hotel para dormir e no dia seguinte poderíamos fazer os trâmites do aluguel. No caminho eu abracei Con sobre a moto como se meu corpo quisesse entrar no dele. Eu não conseguia entender como vivi sem ele tanto tempo.

No meio da madrugada senti Connor virar o corpo para atender o telefone. Ele estava com a voz rouca de sono e o silêncio da noite me permitiu escutar a voz de Edgar exasperada no outro lado da linha.
- Connor, é um incêndio na sua rua. Do lado da sua casa. Julia está lá?
Nós dois pulamos da cama no mesmo instante.

Os 4Onde histórias criam vida. Descubra agora