Capítulo 7

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Connor desceu da moto sem entender nada do que se passava, eu apoiei as mãos nos joelhos e curvei o corpo, respirando fundo e tentando diminuir ao menos um pouco os sentimentos que causavam um enjôo no meu estômago. Ele se aproximou e colocou a mão nas minhas costas, preocupado.
- O que está acontecendo, Liv? - sua voz soava tensa. A mão nas minhas costas se mexeu para cima e para baixo, como um consolo para meu nervosismo e eu soltei o ar com força.
Estávamos entre a enorme faixa de areia que antecedia o mar e o ar meio salobro que entrava nos meus pulmões me ajudou a segurar o tremor dos meus músculos. Connor me levantou como se eu fosse uma boneca inanimada e me abraçou. Tudo que eu menos precisava naquele momento era seu contato compreensivo, depois das minhas recentes constatações eu tinha certeza que precisava ficar longe dele e da sua aura gentil, entretanto sair de seus braços parecia uma tarefa quase impossível quando meu coração começava a se acalmar só pelo calor de seu corpo com o meu.
- Você está bem? Por favor, converse comigo. - ele pediu no meu ouvido e eu apertei os olhos. Eu sabia o que precisava fazer, sabia que tinha que voltar pra casa, com o homem que eu escolhi pra envelhecer comigo.
- Tudo bem. - menti descaradamente. Absolutamente nada estava bem. - Só me senti mal.
Ele suspirou como se não tivesse acreditado em uma palavra do que eu disse.
- É o fim disso tudo não é? - foi um murmúrio que saiu dele, me mostrando que ele compreendia que minha catarse estava relacionada aos eventos da última semana. Apenas fiz um sim com a cabeça e ele me abraçou mais forte. O que começou como uma forma de conter minha ansiedade e me dar amparo virou um abraço de despedida meio doloroso.
Voltamos para a moto e mesmo que eu estivesse a milímetros de distância dele, não ousei encostar em seu corpo, ou segurar nele. Desci da moto quando chegamos na minha casa e agradeci friamente quando devolvi o capacete pra ele, virei de costas, sabendo que em poucos passos eu estaria dentro do prédio, de volta à minha realidade. E eu precisava dela.
Con pegou na minha mão e me puxou de volta, ele tirou seu capacete e pela primeira vez seus olhos estavam cinzas, sem o brilho que eu tanto admirava. Sem nem descer da moro, com o tronco virado pro meu lado ele me puxou pelo pescoço e me beijou.
Eu entendi o mito de que garotas de programa não beijam na boca para não tornar as relações pessoais. A propósito, isso não é verdade, elas beijam sim, mas acho que como o sexo é meio cenográfico com elas, os beijos também devem ser. De qualquer forma, um beijo é mais pessoal do que o sexo. Nós costumamos usar beijos para demonstrar amor, e é beijando que dizemos "eu me importo, eu cuido, eu entendo, eu desejo". Se um beijo de uma mãe pode curar até um machucado no joelho do filho, o que um beijo não faria com um coração, certo?
"Não tornar as relações pessoais", que tipo de afirmação era essa? Se sexo não é pessoal, o que mais seria?
O beijo de Connor era mais do que pessoal, um afago incrível no meu ego, na minha alma e um tapa no meu juízo. Eu nem pensei se algum vizinho podia nos ver, se qualquer pessoa conhecida estaria passando na rua onde eu morei pelos últimos anos. Só fiquei envolvida pelos lábios dele, sentindo o leve pinicar da sua barba no meu rosto. Ele encostou a testa na minha e ficamos assim de olhos fechados, meus dedos instintivamente acariciando suas orelhas e o cabelo curto loiro da parte de trás da sua cabeça.
- Deixa eu subir com você. - ele pediu e voltei a mim, abrindo os olhos. Fiz um não rápido com a cabeça.
Me afastei dele e entrei no prédio, tomando consciência de que estávamos no meio da rua, subitamente preocupada com a possibilidade de termos sido vistos. "isto não é um casamento aberto", minha frase favorita do domingo passado agora estava fundindo a minha cabeça, definitivamente eu e Dean não podíamos dormir com outras pessoas por aí, muito menos nos apaixonar por outras pessoas.

Depois de um banho e algum tempo dormindo longe de qualquer coisa que me lembrasse Julia e Connor eu comecei a me reconhecer novamente. Aproveitei para corrigir alguns dos trabalhos dos meus alunos. Meu trabalho como professora de literatura era pouco condizente com as minhas ideias sobre o amor. Dean chegou cansado e me beijou rapidamente antes de ir tomar banho. Me contou brevemente sobre seu dia e apesar de parecer ter sido exaustivo ele ainda estava sorridente. Voltei a ler algumas palavras nos papéis à minha frente, estávamos na sequência literária de Shakespeare, especificamente a obra Otelo, que tratava a traição e o ciúmes como os algozes da virtude. Um arrepio me percorreu ao ler a linha "Iago sabia que de todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável. O ciúme da traição ainda mais causador da cegueira dos homens".

Me levantei da cadeira em direção ao banheiro e espiei o corpo de Dean pelo box. O vapor embaçava o ambiente todo e me despi antes de entrar com ele debaixo do chuveiro.
Massageei suas costas e ele se virou pra mim, me puxando para baixo da água quente. Nos beijamos demoradamente.
- Preciso que concorde comigo. Não me arrependo de nada que fizemos, mas preciso que sejamos só nós dois agora. Por favor. - pedi e ele assentiu.
- Liv, o que você quiser, estou com você. - ele me encostou no azulejo gelado e levantou minha perna para entrar em mim.
Fechei os olhos e puxei sua bunda contra meu corpo, soltando um suspiro arrepiado quando o senti latejando de desejo contra meu sexo quente e molhado. Dean me beijou o pescoço e eu o dele.
Ele fazia ondas com o corpo que culminavam com suas estocadas em mim, e eu estremecia com esse contato profundo e íntimo. Eu e Dean nunca fizemos sexo lento e carinhoso, eu gostava quando ele se metia em mim de forma forte e rápida, e ele o fazia exatamente na medida.
Eu estava tomada por ele, prensada contra a parede e não consegui evitar lembrar dele entrando em Julia por trás, causando nela a expressão de prazer mais enlouquecedora que já vi nela. Apertei meus braços em volta de Dean e gemi alto. Lembrei de Dean fodendo Julia com afinco sobre a cama e senti o corpo queimar em espasmos quase violentos.
Dean puxou minha outra perna para o alto e se enfiou mais fortemente em mim, me tirando o fôlego. Não consegui evitar a associação com a imagem de Connor e Julia contra a parede do terraço do restaurante e meu interior se remoeu. Gritei com a estocada final de Dean em mim, antes de chegarmos ao orgasmo e o agarrei com raiva, cravando as unhas em suas costas. Ele se contraiu de dor e jogou a cabeça para trás apertando os olhos e respirando fundo. "De todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável.".

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