Parei, observando a multidão de corpos na frente, e sentindo a multidão de pessoas atrás. As pessoas, dispostas a reorganizar suas vidas, esperavam apenas um sinal, que não demorei em dar.
Era a casa deles, como um dia foi a minha.
Fernando estava certo. Só porque não considerávamos mais aquele nosso lar, não significa que outra pessoa não considere. E para aquelas pessoas, aquele lugar era a unica casa que existia.
Fiz um sinal, e a multidão se dispersou. Muitos fungavam, olhando aquela cena de morte. Muitos começaram a recolher os corpos, chorando sobre quem conheciam, e colocando arrumados em pilhas.
Decidimos que queimaríamos os corpos. Seria difícil ter covas para enterrar todos, e apenas enterrar cinzas é mais simples. Mas, o que não é simples, é olhar pra todos os rostos sem vida, inimigos ou não, ver a morte dentro deles e ter que colocar junto com uma pilha de muitos outros.
Trabalhamos, durante não sei quantas horas, e as ruas foram, gradativamente voltando à sua cor normal, o sangue e os corpos desaparecendo de vista. A tristeza continuava no mesmo lugar, mas atenuada pelo trabalho duro.
No fim do dia, cansados, os rostos sujos e corações apertados, levamos os corpos, um por um, em uma caravana subindo as escadas, para as ruas de Santa Maria Del Monte, onde uma alta fogueira os esperava. Alimentamos o fogo com corpos.
Não vi Louis em lugar nenhum, durante todos os momentos em que subimos e descemos, aquelas escadas com corpos. Não me incomodava realmente, sabia que a ruiva conseguia se cuidar e que estávamos seguros a essa altura.
O corpo do meu pai, eu mesmo fiz questão de carregar lá pra cima. Nando não se opôs, ele parecia até satisfeito em poder chorar sobre o corpo de Clara, que fez questão de carregar até a fogueira, e ligeiramente feliz quando percebeu que o rancor que sempre senti do nosso pai já não existia mais.
Eu também estava feliz por isso. Mas, papai ter morrido antes de poder saber, antes de passarmos um tempo juntos. Isso... Isso fazia mais lágrimas brotarem nos meus olhos, e eu já não me importava em contê-las.
Melissa, Yasmim, Tia Marina, Yeva e os outros, nós subimos com pesar, uma dor imensa. Mas, Veronika Page, foi jogada no fogo quase teatralmente, como uma punição que merece.
Poderia dizer que foi gratificante ver aqueles olhos tão zuis definharem e serem consumidos pelo fogo.
Quando o último corpo foi colocado dentro da fogueira, Louis apareceu, Delanay ao seu encalço. Tinha me esquecido que Delanay foi capturada junto comigo, e ao ver ela ali, viva, um pouco mais magra, as rugas e as olheiras mais aparentes do que nunca, foi como se mais um choque de realidade me atingisse, e o universo me dissesse de novo "o apocalipse não esta acontecendo só com você, não se esqueça disso!". As duas se juntaram à nós, enquanto fazíamos uma roda para homenagear todos os nossos mortos.
Nando se adiantou, os olhos fixo no fogo, o silêncio opressor à nossa volta, e começou a falar:
_ Não da pra dizer o que nós sentimos por vocês. Não dá pra contar toda a dor, que estamos todos sentindo. Porque ela é infinita, incontável._ Sua voz falhou, e meu irmão fungou._ Todos aqui, vivos ou mortes, respirando ou sem que nossos corações batam, somos, fomos e sempre seremos vitimas do apocalipse.
Meu irmão se afastou, e enquanto voltava ao seu lugar do meu lado, Louis se adiantou, apertando o ombro dele para confortar. Se virou ao público, que chorava baixinho, e tomou o lugar para falar.
_ Mas apenas quem sofreu uma grande perda sabe como é importante se reconstruir._ Louis começou, a voz tão firme quanto era possível estar._ O quanto, mais importante que a dor, é a esperança. O mundo nos fez vitimas, mas o mais importante agora é mostrar a todos como podemos nos reconstruir, como somos fortes pra isso! Transformar a dor em força, e usar essa força pra mudar o mundo._ Todos, subitamente pareciam interessados, e olhavam para Louis, toda a dor que povoava nossa alma brilhando nos olhos como esperança._ O vazio das nossas vidas, não poderá ser preenchido com mais dor, e sim, colocando esperança e reconstruindo nossa casa. Porque ela ainda existe, e ainda vai ser a casa de muita gente!
Nós concordamos, a multidão compadecida com as palavras de Louis.
Observamos o fogo, juntos, durante muito tempo. A noite já estava alta, quando as pessoas começaram a descer de volta pra vila, levando o restante das suas famílias. Mas eu, Nando, Clara, Devon e Louis, não nos importamos com os possíveis perigos que aquela noite e a grande e ata fogueira poderia nos causar.
Zeloides não pareciam mais tão perigosos assim.
Não foram os Zeloides à nos tirar nossas famílias, foram seres humanos, como nós, à fazer tudo isso. Foram seres humanos, pensantes, que nos atiraram nesse abismo de tristeza.
_ Delanay quer assumir a direção dessa vila._ Louis murmurou, encostando o ombro em Nando._ Sem Mason, Veronika ou a família Karlan aqui nessa vil, não vejo ninguém melhor do que ela...
Concordamos, ainda em silêncio. Encaramos um pouco mais o fogo antes de continuar, Devon murmurando dessa vez.
_ Não vou continuar morando aqui._ Devon anunciou, murmurando._ Pegar minhas coisas e sair, não sei se consigo ficar aqui depois de tudo o que aconteceu, não sei... Vou recomeçar, em um lugar onde seja melhor...
_ Também não quero mais ficar aqui, não mais._ Resmunguei._ Vou também, não quero mais ficar em um lugar onde aconteceu tanta coisa.
_ Vou com você._ Nando anunciou._ Não vou deixar que o meu irmão, minha única família se perca de mim.
Concordamos mais uma vez, a fogueira minguando um pouco a cada momento.
_ Acho que vou com vocês._ Lara me comunicou, sorrindo um pouco pra mim._ Quero estar perto de vocês agora...
Segurei a mão dela em concordância.
A unica que não disse nada, foi Louis. Ela encarou o além por muito tempo, e nós fizemos o mesmo, esperando até a fogueira desaparecer.
Tomei um banho, longo e revitalizante. Aproveitei até o último momento para dormir naquela cama quente e confortável. Comemos um café da manhã extremamente reforçado, depois de quase 16 horas de sono, em total silêncio com Nando, observando cada movimento meu, enchemos mochilas com roupas limpas e mantimentos doados pela vida, caminhando para fora.
Lara estava nos esperando na porta do grande prédio, uma mochila nas costas e Devon ao seu encalço. Todos juntos, para uma nova vida.
Louis não estava por perto, mas não condenávamos ela por isso. Ela ainda tinha uma família aqui, e achávamos completamente plausível ela ficar.
Juntos, com as malas nas costas e o coração no mundo, olhamos para a escadaria, nos preparando psicologicamente pra isso.
_ Não acredito que realmente iriam embora sem mim!_ Louis gritou, correndo rapidamente pra se juntar a nós, o cabelo meio molhado e uma mochila enorme nas costas.
Sorri, um sorriso imenso no rosto.
_ Achamos que você ia querer ficar aqui com Delanay!_ Nando pegou o braço dela, puxando-a para mais perto de nós.
_ Delanay é minha avó, e por mais que eu a ame muito, sei que aqui, ela está segura!_ Louis sorriu._ Além de que vocês são amigos, e amigos são a família que a gente escolhe. Eu escolhi ir com vocês.
Depois disso, o abraço coletivo foi inevitável. Louis me encarou, sem dúvida nenhuma de vir conosco. A tinta desbotada dos seus cabelos brilhou na nossa frente, rebatendo a luz doentia da vila. Nos viramos, sorrindo, ignorando completamente a tristeza que ainda povoava nosso coração, e subimos às escadas, em direção novamente, do mundo.
Depois desse capítulo, nós estamos encerrando nossa história!! Tem apenas o Epílogo pra vocês e Meu Deus, como meu coração está desmaiado com o discurso da Louis e do Nando, de como todo mundo desenvolveu suas personalidades nesse mundo!! Estou tão feliz em ver mais um ciclo se fechar e outro se abrir!!! Mas vou segurar as dedicatórias para o próximo capítulo.
Coloquem suas opiniões e teorias finais nos comentários e não se esqueçam da estrelinha linda que me ajuda demais!!!
Beijinhos milhos pra pipoca!!!
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Gêmeos Contra O Apocalipse Zumbi (Concluído)
Science FictionLivro 3 da saga apocalipse. A 5 anos, o segundo apocalipse assolou o planeta Terra. Maior, mais forte, mais destrutivo do que nunca esteve. As pessoas moradoras da América, foram as principais desfavorecidas. Climas fáceis para o vírus se espa...