Capítulo 55 - "Hoje eu entendi o porquê" (DANIEL) parte 3.

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     Não sei como ainda estou procurando. Minhas pernas doem, e meu ombro lateja de tanto me jogar contra portas. As maçanetas estouradas marcavam o caminho que tinha vindo, assim como os corpos no chão.

     Antes, eu já cheguei a me perguntar se conseguiria matar alguém. Se conseguiria puxar o gatilho, ouvir aquele som e ver o sangue escorrendo. Hoje, com a adrenalina, a dor, e acima de tudo, a esperança de encontrar Clara, isso nem passava pela minha cabeça. Puxar o gatilho era tão rápido quanto respirar instintivo.

     Alguém, um fantasma sem rosto, usando o uniforme do N.E.I.C.O.G.O.Z, pareceu tentar me impedir de abrir uma porta. Não esperei um segundo sequer pra apontar o revólver roubado para seu peito, atirando, e ouvindo o gotejar de sangue nas paredes brancas. Clara não estava dentro daquela sala. Mas isso não diminuiu minha vontade de procura-la.

     Tinha começado a entender o funcionamento daquele labirinto. Quadrados perfeitos, com pequenos corredores para ligar cada um dos quadrados. A iluminação ia diminuindo quanto mais nos perdíamos lá dentro, talvez para economizar luz. No meio, ficava a escola, mas depois dela, a iluminação era escassa.

     Mais portas trancadas, mais ferimentos no meu ombro, e menos tiros no revólver. Cada segundo que se passava, era um tormento, uma gota de suor que escorria no meu pescoço, mais raiva e medo que inundava meu coração.

    As luzes caíram, o corredor seguinte era mais escuro do que qualquer outro. Parecia ter sido abandonado correndo, ou semi destruído. Uma lampada de led piscava no chão. Desviei, devagar, tomando cuidado para não tomar um choque. Mas claro, não foi o suficiente. Minha perna roçou na fiação da lampada, de leve, e uma desgraça de energia passou pelo meu corpo.

     _ Caralho, poha!!!_ Gritei, xingando minha própria burrice.

     _ ALOOU! TEM ALGUÉM POR AI!!!?_ Uma voz gritou, vindo de uma das portas daquele corredor escuro, que eu não tinha reparado terem um visor, e barras._ ALGUÉM!!!

     Arregalei os olhos. Clara. Tinha que ser Clara, não podia ser outra! Uma das portas balançou, desesperada, e esqueci qualquer coisa e qualquer dor que estivesse sentindo. Corri, balançando as grades também, mas sem conseguir abrir.

     _ Ei, que que você pensa que ta fazendo?!_ Uma mulher, alta, os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo alto, gritou, vindo no corredor, correndo. Sem hesitar, atirei, e a mulher caiu agonizando. Assim que o corpo parou de tremer, corri para o molho de chaves que balançou quando ela caiu, torcendo para serem as certas.

     Minha mão tremia enquanto tentava colocar as chaves na porta, uma por uma e alguma coisa se quebrava dentro de mim, quando ela não virava ou não destrancava a porta de metal. O coração palpitou, alto e forte, quando a maior d todas elas girou e o familiar clique de destrancado quase fez ele parar

     A porta se abriu, e entrei correndo, um sorriso maior que o meu próprio rosto. Mas a cabeleira loira, curta e o rosto cheio de rugas na testa não era de Clara.

     A mulher na minha frente parecia saber muito bem quem eu era. Seu sorriso imenso tirava o foco dos braços trêmulos e finos demais. Suas roupas estavam sujas de sangue ou pó em alguns pontos, e rasgadas, com pequenas marcas de mordidas e roídas. A pele da moça estava quase azul por causa do frio que fazia ali, ela parecia não ver o Sol a anos.

     Mesmo sem fazer a mínima ideia de quem ela era, a moça me abraçou forte, lagrimas pingando na minha blusa. Mais de perto, reparei que o corpo dela estava coberto de cicatrizes, algumas superficiais, mas a maioria bem feias.

    Ela afastou o rosto, me encarando, e segurou minhas bochechas com as duas mãos.

     _ Você lembra muito a sua mãe._ Disse, a voz baixa e rouca, mas firme. Foi como um tapa na cara, mas um tapa bom, se isso é possível. Ela reparou na minha cara de confuso, e sorriu, me encarando com a expressão firme e feliz. Os olhos brilharam, esperançosas._ Você não deve se lembrar de mim. Meu nome é Lara, eu era uma das melhores amigas da sua mãe.

Gêmeos Contra O Apocalipse Zumbi (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora