Capítulo 36 - "Luto" ( FERNANDO) parte 3

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     Eloise estava morta. E não conseguimos fazer nada pra impedir. Pelo contrário, nós causamos isso. De qualquer forma, nós causamos isso.

     Não dissemos uma palavra. Os sentimentos se encarregavam de falar por nós. Era estupido enterra-la. Ela morrera enterrada, os últimos momentos dela foi sob pilhas e mais pilhas de concreto e gesso, sendo desenterrada. Mas mesmo sendo estupido, fizemos. Seria pior deixar o corpo de Eloise ali nos escombros, sem nem sequer um funeral, e algumas lágrimas.

      Cavamos uma cova com as mãos mesmo, na falta de uma pá, os três cavando a terra ferozmente. Dos três, eu derramava mais lagrimas, por motivos que nem sequer entendia direito, mas que eram vários. E extremamente doídos também.

     Demoramos varias e varias horas pra cavar, virando a noite sem dizer uma palavra. E o dia já começava a raiar quando finalmente achamos que a cova estava funda o suficiente. Colocamos delicadamente o corpo frio e inerte da garota lá dentro. Devon teve o sangue frio o suficiente pra ficar com a arma dela,  e ninguém contestou. Ainda precisávamos de alguma arma para nos proteger, de qualquer jeito.

     Coloquei Eloise na cova, cobrindo ela de novo com a terra que tiramos.  Murmurei algo que se parecia com um adeus, mas não muito parecido, sem conseguir segurar as lágrimas.

     _ Não era pra ser assim..._ Murmurei, minhas lagrimas regando a terra que agora cobria Eloise.

     _ Não era pra ser assim..._ Louis repetiu, a expressão tomada por uma tristeza ainda mais profunda do que quando Delanay foi levada._ Era pra você estar com a gente minha pequena... Pra lutar com a gente... Eloise, você era a garotinha mais forte que eu pude conhecer... Você manteve um laço que nem o tempo vai ser capaz de desatar. Sua vida, mesmo curta, foi honrada, porque sabemos que sempre lutou pelo que acreditava, e defendeu suas convicções como o leão que sabemos que sempre foi._ Louis pegou uma flor, pequena, amarela. Uma flor do tamanho  significado que Eloise tinha. Daquelas que nascem, florescem, depois se transformam em dentes-de-leão e são levadas pelo vento. Ela colocou a flor sobre o túmulo improvisado, e recomeçou a dizer._ Que sua alma descanse em paz e com Deus, e que saiba que seus feitos só serão levados pelo tempo e pelo vento, para serem ditas em outros lugares. O apocalipse leva a culpa por te levar, mas as pessoas são encarregados de não te esquecer.

     Eu não esperava que a pessoa fizesse aquele discurso maravilhoso sobre Eloise. E eu simplesmente estava impressionado com aquelas palavras, sem conseguir compreender a profundidade e o significado que infringiam a nós...

      _ Sentiremos muito a sua falta, Eloise..._ Murmurei, secando uma das lagrimas.

     Eram poucas palavras, mas era tudo o que conseguia dizer no momento.

     Estávamos exaustos. Mortos de cansaço, emocionalmente e fisicamente. Despedaçados de todas as formas possíveis e imagináveis. Mas precisaríamos nos reformar. Daniel estava por aí, preso, provavelmente junto com Delanay. Os dois ainda precisavam da gente. Era como Louis disse, mesmo sem parecer agora, nós somos uma ameaça.

     Acabamos dormindo no chão da floresta mesmo de exaustão. Não deveríamos, o frio do chão rouba o calor do corpo e pode nos matar, mas agora, nem nos importávamos pra isso. Ninguém teria cabeça pra montar a barraca e os sacos de dormir. Não tinha chance nenhuma...


   " O rosto de Eloise me observou nos meus sonhos aquela noite.

     Um pouco deformada, sangrando e pálida, exatamente como morreu, ela me olhava, os olhos abertos, mas completamente imóvel. Parecia que aquele rosto me assombraria, e isso me preocupava que a pequena  virasse pra mim, o que Tia Fabiana foi pra Clara.

     O sangue que escorria do rosto de Eloise formava uma poça embaixo dos meus pés. Era ruim ver ele assim, ver o sangue escorrendo e o rosto dela novamente.

     Mas o que era pior, foi o arrepio que subiu pela minha espinha, quando vi as pupilas invertidas, as presas que saíam da boca dela, e a pele pálida demais até pra um defunto.

     Me incomodava, e muito, que Eloise poderia ter virado um Zeloide."


     O Sol já estava alto no céu quando acordamos. As nuvens de ontem deixaram o céu escuro e a noite úmida, sem nem fazer chover, como eu achava que fariam. E agradeci aos céus por isso.

     Devia ser meio dia, talvez um pouco menos. Minha cabeça doida loucamente, mas dessa vez, era de fome. Louis e Devon pareciam dois túmulos de tão calados, e não era eu que ia dizer alguma coisa agora. Comemos algumas futas, e pão que estavam dentro da mochila, enganando um pouco a fome.

     Louis resolveu ficar com a arma de Eloise, pegando a arma do cinto de Devon. Era a única forma que tínhamos pra nos proteger, e eu não me importava nem um pouco que fosse responsabilidade de Louis fazer isso, nem me importava de estar desarmado. Sinceramente, parecia melhor do que sempre ter uma arma mão, do que ter a responsabilidade de puxar o gatilho...

     Caminhamos em total silêncio por mais ou menos uma hora. Ainda estávamos dentro daquela cerca que rodeava a base. Parecia que toda a floresta que rodeava a base, estava em luto, como nós. O sistema de rede elétrica da base foi destruído, junto com todo o resto, por isso, a cerca elétrica, agora era apenas uma cerca normal, que escalamos e passamos por cima. Um pedaço do tecido da minha calça foi arrancado quando subi, porque a cerca elétrica também tinha uma cerca de arame farpado, que me deixou com um arranhão na parte de trás da coxa.

     Ajudei Devon a passar sem ter metade do corpo arrancado pela cerca elétrica, e Louis pulou pelo arame farpado como um gato.

     Mas foi só quando passamos para o outro lado, pisando com os pés na grama de fora da base, que nós três percebemos que não sabíamos pra onde iríamos agora...

     _ De volta pra vila?_ Quebrei nosso silêncio de luto, me sentindo um pouquinho mal por isso. Olhei para os dois, as expressões sérias se encarando por alguns momentos.

     _ Acho que é tudo o que podemos fazer agora..._ Louis murmurou.

     _ De volta pra vila._ Concordamos.


     Gente, sinceramente, capítulo SEM DESGRAÇA NENHUMA!!! Se você leu ele, marque apenas três acontecimentos: Luto, Louis com a arma, e de volta a  vila. Se você leu só essa nota, não perdeu nada. Coloquem suas teorias, se tiverem nos comentários, e por favor, não se esqueçam de dar aquela estrelinha linda, pra minha criatividade voltar, por que estamos precisando!

     Cap 19 do mês das festas! Até amanhã!!


Gêmeos Contra O Apocalipse Zumbi (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora