capítulo 16

3 0 0
                                    

Não me lembro bem do que aconteceu depois que chegamos. Os flashes dos fotógrafos explodiram ao nosso redor enquanto andávamos pela área de imprensa, mas eu mal me dei conta disso, estava sorrindo
apenas por obrigação. Na verdade, estava retraída e ansiosa para me livrar da tensão que James exalava na minha direção. No momento em que entramos, alguém chamou seu nome e ele se virou. Saí de fininho, olhando ao
redor, para os outros convidados, que lotavam a entrada acarpetada do evento.
Quando cheguei à recepção, apanhei duas taças de champanhe da bandeja de um garçom que passava
e virei uma delas enquanto procurava por Brooklyn.  Quando a vi do outro lado do salão junto de Scott e Petros, fui direto até lá, descartando a taça vazia sobre uma mesa no caminho.— Blair.  A expressão da minha irmã se iluminou ao me ver. — Já falei como esse vestido ficou maravilhoso em você?.Ela me abraçou,  —  Obrigada. Dei um gole na segunda taça de champanhe, lembrando do que a pouco havia acontecido, seu cheiro cravado em mim me fazia caça-lo pelo salão.Petros tomou a frente, pegando-me pelo cotovelo. Só de olhar para meu rosto ele percebeu que eu
estava chateada. Balancei a cabeça, mostrando que não queria falar sobre o assunto naquele momento.
—  Mais champanhe, então?, ele perguntou, gentil.
—  Por favor.
Senti que James se aproximava antes mesmo de ver o rosto de minha irmã se iluminar como a Times Square em noite de Ano-Novo. Scott também pareceu se ajeitar.— Blair. James apoiou a mão na parte inferior de minhas costas nuas, e uma onda de choque percorreu meu corpo. Com seus dedos grudados em mim, perguntei-me se ele sentia a mesma coisa.— Você fugiu.
Fiquei gelada com o tom de reprovação que ouvi em sua voz. Eu o fuzilei com um olhar que dizia tudo aquilo que eu não podia falar em público. — Scott, você conhece James Lorentz?
— Sim, é claro. Os dois se cumprimentaram.
James me puxou mais para perto. — Temos a sorte de acompanhar as duas mulheres mais bonitas de Nova York.
Scott concordou, abrindo um sorriso para minha irmã.
Virei o restante do meu champanhe e troquei com gratidão a taça vazia pela que Petros havia me
trazido. O álcool produzia uma leve queimação no meu estômago, e ajudava a desatar um pouco o nó que havia se formado lá dentro.
James se inclinou na minha direção e cochichou em um tom áspero: —  Não se esqueça de que você
está comigo. O cara era maluco? Que conversa era aquela? Meus olhos se estreitaram de raiva. — Olha só quem
fala.— Aqui não, Blair.  Ele acenou com a cabeça para todos e me levou dali. —  Agora não.
—  Nem nunca, murmurei, concordando em ir com ele só para poupar minha irmã daquela cena.Virando taças de champanhe, eu me coloquei no piloto automático e passei a agir num modo de autopreservação ao qual não recorria havia muitos anos. James me apresentou a algumas pessoas, e acho que minha atuação foi boa — falando nos momentos certos e sorrindo quando necessário —, mas
não estava prestando a mínima atenção. Eu estava mais preocupada com a parede de gelo que se ergueu
entre nós, com minha raiva e minha mágoa. Caso eu ainda precisasse de alguma prova da determinação de James em evitar interações sociais com as mulheres com quem dormia, tinha acabado de obtê-la.
Quando o jantar foi anunciado, fui com ele para a mesa e mal toquei na comida. Bebi algumas taças de vinho tinto que serviram junto com a refeição e ouvi James conversar com as demais pessoas à
mesa. Não prestei a menor atenção às palavras, apenas à cadência e o tom sedutor e equilibrado da sua
voz. Felizmente, ele não tentou me integrar à conversa. Acho que eu não diria nada que prestasse. Só voltei a demonstrar interesse quando, em meio a uma salva de palmas, ele subiu até o palco. Eu
me virei na cadeira e o observei enquanto caminhava em direção ao púlpito, incapaz de deixar de
admirar sua elegância natural e sua beleza impressionante. A cada passo que dava ele impunha atenção
e respeito, o que era uma proeza, considerando suas passadas tranquilas e sem pressa.
James não lembrava nem um pouco aquele sujeito vulnerável depois da nossa foda desmedida na limusine. Na verdade, parecia outra pessoa. Ele havia voltado a ser o homem que conheci no evento da Nicki, absolutamente controlado e naturalmente poderoso.
— Quando sai de meu país à seis anos atrás, ele começou, — Para estudar na Mackenzie University, eu não imaginava onde eu poderia chegar, no fundo não acredita em mim o suficiente, não via potencial. Mas lá viram, e me lapidaram como uma jóia rara e preciosa. Então muito do que sou hoje, devo à essa instituição que tanto me ensinou e me moldou para o presente que vivo hoje. Por isso irei financiar à “Bolsa Setembro”, que irá custear bolsas de estudos à alunos do país todo.
Fiquei vidrada nele. James era um grande orador, e seu tom de barítono era hipnotizante. Mas era o tema de seu discurso, tão pessoal para mim, e sua maneira apaixonada e às vezes surpreendente de
abordá-lo que me emocionou. Comecei a amolecer, sentindo minha fúria injuriada e minha
autoconfiança ferida dando lugar ao deslumbramento. Minha visão sobre ele mudou quando me vi apenas como mais um membro de uma plateia atenta. Ele não era mais o homem que tinha acabado de
magoar meus sentimentos; era apenas um palestrante habilidoso falando sobre um pedaço da vida dele, alí diante de tantos espectadores que nem ousavam piscar. Quando terminou, eu me levantei e aplaudi, surpreendendo tanto James como a mim mesma. No
entanto, os demais logo se juntaram a mim naquela ovação, e comecei a ouvir as conversas que zuniam  ao redor, desmanchando-se discretamente em merecidos elogios.
— Você é uma mulher de sorte.
Virei-me para ver de quem era a voz que havia dito aquilo, e me deparei com uma bela ruiva que parecia ter pouco mais de vinte e oito anos. — Somos só... amigos. Seu sorriso sereno fazia de tudo para me desmentir.
As pessoas começaram a abandonar as mesas. Eu estava prestes a pegar minha bolsa e ir para casa quando um rapaz se aproximou para falar comigo. Seus olhos de um tom de verde acinzentado eram gentis e amistosos. Bonito e
ostentava um sorriso jovial, ele arrancou de mim o primeiro sorriso sincero desde que saí da limusine.—  Olá.
Ele parecia me conhecer, o que me deixou na desconfortável posição de fingir que fazia alguma ideia de quem ele era. —  Olá.
Ele deu uma risada, despreocupada e charmosa. — Meu nome é Ryan Benson, sou proprietário da Forbes.
—  Ah, é claro. Senti meu rosto esquentar. Eu não conseguia acreditar que estava tão mergulhada na autopiedade que não fui capaz de fazer essa associação de imediato.
—  Você ficou vermelha.
—  Desculpe. Ofereci a ele um sorriso envergonhado. —  Não sei muito bem como dizer que li uma reportagem sobre você sem que isso soe meio esquisito.
Ele riu. — Fico feliz que tenha lembrado. Só não me diga que foi na coluna social.
— Não, eu me apressei em esclarecer. — Na Rolling Stone, talvez?
— Isso eu consigo aceitar. Ele estendeu o braço para mim. — Quer dançar?
Dei uma olhada para James, parado diante da escada que levava ao palco. Estava cercado de pessoas ansiosas para falar com ele, em sua maioria mulheres.—  Como você pode ver, Lorentz vai demorar um pouco, disse Ryan, parecendo se divertir com a situação.
—  Pois é. Eu estava prestes a me virar quando reconheci a mulher ao lado de James — Ananda Rodríguez. Apanhei minha bolsa e me esforcei para sorrir para Ryan. — Eu adoraria dançar.
De braços dados, fomos até a pista. A banda começou a tocar uma música lenta, e seguimos naturalmente o  ritmo da música, com movimentos suaves. Ele era um dançarino habilidoso, ágil e seguro quanto à sua  capacidade de conduzir.
— Então você é amiga do Lorentz?—  Não exatamente. Acenei com a cabeça para Petros quando ele surgiu ao meu lado com uma loira
escultural.  Nós nos conhecemos em um evento, que fui obrigada a ir pela minha mãe. — Ah. Ele sorriu. — Males do ofício.— Sim. — Você deve estar muito a fim dele para passar dos encontros casuais  para um
evento como este.
Praguejei em silêncio. Sabia que as pessoas iam tirar conclusões, mas não estava nem um pouco
disposta a ser humilhada. —  James conhece minha irmã, que foi quem me convidou para vir, então era só uma questão de duas pessoas irem ao mesmo lugar no mesmo carro ou em carros separados. Menti.
—  Então você está desacompanhada?
Respirei fundo, sentindo-me desconfortável, apesar da fluidez com que nos movíamos na dança.— Bom, comprometida eu não estou.
Ryan abriu seu carismático sorriso galã.  —  Minha noite acabou de mudar pra melhor.
Ele preencheu o restante do tempo da dança com piadinhas divertidas sobre a indústria musical, que me fizeram rir e esquecer um pouco James.
Quando a música terminou, Petros estava a postos para a próxima dança. Nós dançávamos bem, Relaxei em seus braços, agradecia por ter seu apoio moral.— Está se divertindo?, perguntei.— Fiquei bobo durante o jantar quando percebi que estava sentado ao lado da principal organizadora da
Semana de Moda de Nova York. E ela deu em cima de mim!– Ele sorriu, mas seus olhos pareciam
assustados. — Pela primeira vez apareço em um lugar como este... vestido deste jeito... é inacreditável. Você mudou minha vida completamente, Blair. —  E você tem sido salvação da minha sanidade mental. Estamos quites, pode acreditar. Ele apertou minha mão e me olhou bem nos olhos. — Você não parece estar nada contente. O que foi
que ele fez? — Acho que a culpa é minha. Depois a gente conversa sobre isso.
— Você está com medo de que eu arrebente a cara dele na frente de todo mundo.
Suspirei. — Acho melhor não, por causa da minha irmã.
Petros deu um beijo de leve na minha testa. — Ele já estava avisado. Sabe o que vai ter pela frente.— Ah, Petros. O carinho que eu sentia por ele me provocou um nó na garganta, apesar de meus lábios
sorridentes demonstrarem um divertimento relutante. Eu deveria saber que Petros daria uma de irmão mais velho para cima de James. Era a cara dele.
James apareceu ao nosso lado. — Agora é minha vez.
Não foi um pedido.
Petros parou e olhou para mim. Eu concordei. Ele se afastou fazendo uma reverência, com os olhos grudados em James.
Ele me puxou para perto e partiu para a pista de dança da mesma maneira como fazia tudo na vida —com uma confiança absoluta. Dançar com James era uma experiência completamente distinta em relação aos meus dois parceiros anteriores. Ele possuía ao mesmo tempo a habilidade de Ryan e a
intimidade com meu corpo que Petros demonstrava, mas seu estilo era ousado, agressivo, de uma sensualidade inerente.
Não ajudou muito o fato de, apesar da minha infelicidade, eu me sentir seduzida por aquele homem do qual tinha me sentido tão íntima pouco tempo antes. Seu cheiro era magnífico, recendendo a sexo, e
o modo como ele me conduzia, com passos ousados e arrebatadores, fez com que eu sentisse um vazio
dentro de mim, no lugar que ele havia ocupado pouco tempo antes.— Você não para de fugir, ele murmurou, provocando-me.
— Mas pelo jeito Ananda soube ocupar meu lugar rapidinho.
Ele ergueu as sobrancelhas e me puxou para mais perto. — Está com ciúmes?—  Fala sério...
Olhei para o outro lado.
Ele fez um ruído de frustração. — Fique longe do Ryan, Blair.
— Por quê?
— Porque estou mandando..

            Entre Anjos & Demônios™ (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora