capítulo 20

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Estava pensando na minha mãe quando saí da Maximun, às cinco horas. O Bentley branco- pérola estava à espera
no meio-fio e, quando viu que eu me dirigia para lá, Petros desceu do carro e sorriu para mim.
— Boa tarde, Blair.
— Oi. Eu retribuí o sorriso. — Como está, Petros?
— Mais o menos. Ele contornou por trás do carro e abriu a porta para mim.
Eu observei o seu rosto, parecia angustiado. — O que houve?, perguntei, o observando pelo retrovisor. — É complicado. Disse ele enquanto, ligava o carro e saia gentilmente da frente do edifício. O percurso foi feito em um silêncio absoluto, e aquilo estava mesmo me incomodando. Era evidente que algo afligia Petros, eu só não sabia o que era.  Me ajeitei melhor no assento e olhei pela janela, para a cidade que eu tanto amava. Na calçada ao meu lado, estranhos se aglomeravam ombro a ombro em torno de um pequeno balcão, comendo fatias de pizza. Por mais que estivessem próximos, a distância entre eles era enorme,
revelando a habilidade única dos nova-iorquinos de ser uma ilha em meio a um mar de pessoas. Os pedestres caminhavam apressados em todas as direções, ignorando um homem que entregava panfletos
religiosos e o cachorrinho postado a seus pés.
O ritmo frenético da cidade injetava nas pessoas tamanha vitalidade que os pedestres ali pareciam andar
mais depressa que em qualquer outro lugar. Era um tremendo contraste com a velocidade indolente e sensual do Sul da Califórnia, pra onde eu havia feito algumas viagens e onde eu moraria com certeza. Nova York era uma dominatrix no auge da forma, estalando o seu chicote e torturando seus súditos sem um pingo de dó.
Minha bolsa vibrou ao meu lado no assento, e eu peguei o celular. Dei uma olhada rápida na tela e vi que era Kloé. Sábado era o dia dos nossos papos semanais, uma ocasião que eu aguardava
ansiosamente, mas deixei a ligação cair na caixa postal e conversar com ela quando estivesse me sentindo melhor. Eu estava irritada com a minha vida com meus pais, com meus avós, com o universo. Quando cheguei em casa,  fui recebida por Brooklyn, e um lindíssimo
vestido preto Doce & Gabbana em cima do sofá.
— Não é uma maravilha?, disse a minha irmã, que usava um lindo vestidinho de mangas curtas no estilo anos 1950 estampado com cerejinhas. Seus cabelos loiros emolduravam seu rosto.
Uma coisa eu precisava admitir: ela fazia a moda de qualquer época parecer glamorosa.
Durante a minha vida toda, sempre me disseram que eu era parecida com a minha mãe, mas os meus olhos eram
castanhos claros como os do meu pai, diferentes de suas íris límpidas e azuis, e minhas curvas abundantes também eram uma herança da família Wolf. Por mais que eu malhasse, minha bunda não
iria encolher, e o tamanho dos meus seios me impedia de usar qualquer peça que não proporcionasse um
belo suporte. O fato de James achar meu corpo tão irresistível me deixava impressionada, já que antes ele só se interessava por morenas altas e esguias.
Larguei minha bolsa sobre um banquinho ao lado do balcão e perguntei: Para o meu jantar com Juliet hoje à noite? Minha irmã me deu um “ joinha” acompanhado de pulinhos de empolgação. — Ah. Foi tudo o que eu disse, antes de subir e deixar minha irmã e Constance que conversam animadamente sobre a perfeição do vestido.
James não tentou entrar em contato de forma nenhuma.
Não recebi nada no celular depois da minha mensagem na hora do almoço. No e-mail também não.
Nem um bilhete.
Esse silêncio era desesperador. Principalmente depois do novo alerta diário do Google, com fotos e vídeos de nós dois no Golden Park feitos por celular. A visão de nós como um casal — a paixão e o desejo, a intensidade estampada em nosso rosto, a felicidade da reconciliação — era ao mesmo tempo doce e amarga.
Uma dor cresceu no meu peito. Se nossa relação não desse certo, eu conseguiria parar de pensar nele? Tive que me esforçar para me recompor, afinal eu tinha um jantar com Juliet à mãe de James e até então suas intenções eram ocultas para mim.  Uma hora depois, eu já estava pronta e me olhava admirada no espelho. Ouvi dois toques na porta, e virei minha cabeça na direção da porta para ver quem era. Era Petros, vestido impecavelmente como sempre. — Tudo pronto? Perguntou, enquanto pelo reflexo do espelho notei que seus olhos passeavam pelo meu corpo, que estava marcado dentro da que vestido justo. — Tudo, confirmei. — Está muito ansiosa?, Olhei para ele. — Não muito. James não vai estar lá.
— Tem certeza?
— Sim, será somente eu e a mãe dele. — humm, murmurou ele, passando a mão nervosamente sobre o cabelo. —  As palavras não significam merda nenhuma sem uma atitude pra comprovar o que elas dizem.
Desde que nos conhecemos, um sentimento nasceu aqui no meu coração, e eu sei Blair, que eu não tenho nada à mais que o meu amor para te oferecer, mas eu quero que você saiba, que é tudo seu, é tudo muito sincero. Limpo como água, você é maravilhosa. Ele me abraçou. — Você é tão corajosa, Blair. Tão forte e sincera. Você é um milagre. Meu milagre. Seu rosto se transformou em uma máscara inexpressiva, com uma naturalidade tão grande que dava para perceber que aquilo era parte da natureza dele. —Recomecei do zero quando conheci você. Tudo o
que eu pensava que era, tudo o que eu achava que precisava... Ele balançou a cabeça. — Você é a única pessoa que eu realmente quis, que me conhecesse de verdade. Me afastei — Não me diga uma coisa dessas. Nem pense nisso. — Somos amigos Petros, e eu não posso te perder. —  Eu não devia ter contado. Seria melhor se você não soubesse. Acariciei seu rosto, seus cabelos, seus ombros. Ele era traumatizado como eu, mas o motivo ainda era
desconhecido para mim. — Está tudo bem, Petros. Ele ainda me  segurava contra ele, sua língua molhou os lábios.. — Me desculpa Blair.. – foi tudo o que ele disse antes de aproximar seus lábios dos meus, e me beijar intensamente. Seu beijo era calmo, e cheio de sentimento. E não posso negar em dizer, que não era bom. Mas não era o beijo que fazia borboletas voarem no meu estômago, não era o beijo que me tirava a sanidade. Me afastei dele ofegante, o olhar dele era carregado de emoções, muitas que eu nem saberia decifrar. — Petros, eu te acho incrível, te garanto que qualquer mulher teria muita sorte de te-lo. E eu não quero perder, a amizade, a ligação que temos. Mas não me peça pra escolher, por quê será ele, a minha escolha. Seus olhar desolado encontrou os meus, e eu não tive tempo nem para dizer um “ me desculpe ” ele saiu, deixando pra trás um rastro do seu cheiro, e o meu coração apertado. Respirei fundo, buscando me concentrar no jantar que eu teria com Juliet. Peguei minha bolsa, e sai do meu quarto, descendo para a sala e encontrando Albert. — Vou leva-la, disse ele com um leve sorriso. Procurei algum rastro de Petros, mas não havia nada. Entrei no carro, e através da janela vi ele cada vez mais distante.
Cruzamos os portões imponentes com iniciais em ferro fundido e seguimos por uma alameda circular até onde estavam a entrada. Albert e eu entramos por ali, e ele me amparou pelo braço quando meus
saltos insistiram em se enterrar no caminho de cascalho até a porta da casa.
Ao entrar na luxuosa mansão, fui recebida pela mãe de James.
Apreciei a cena, imaginando que a perfeição  seria ainda maior se James estivesse
presente. Sua mãe  era simpática, — Blair. A mãe de James me puxou para junto dela e beijou minhas duas bochechas sem tocá-la.  —Estou tão feliz por finalmente ter um tempo com você. Que moça mais linda você é! E adorei seu vestido.
— Obrigada.
Ela passou as mãos por meus cabelos, meu rosto, e depois meus braços. Era algo difícil de suportar,
já que ser tocada por estranhos às vezes desencadeava uma reação de ansiedade em mim. — E seu cabelo,
essa é a cor natural dele?
— Sim, respondi, surpresa e confusa com o questionamento. Quem perguntaria isso logo de cara a alguém que nem conhece?
— Que interessante. Seja bem-vinda. Espero que se divirta bastante. Estou muito feliz com sua presença, venha entre.
Apesar da elegância do ambiente e do número incontável de empregados, a atmosfera  era casual e relaxada. — Sente-se, pediu Juliet. Enquanto ela contornava o grande sofá branco de sua sala, me sente observando a bela decoração do ambiente. — Me acompanha em uma taça de vinho tinto?, perguntou ela. — Claro, concordei enquanto ela pedia duas taças à sua empregada. — Então como você está, desde bem, – ela se ajeitou no sofá, parecia desconfortável. — O assassinato de seus pais? engoli em seco, afinal não era um assunto fácil para mim. — Minha irmã e eu, temos aguentado a barra. Lógico que é uma ferida que não cicatriza, mas temos tentado focar no trabalho. Ela me olhava, como se tentasse ler meus pensamentos. — Foi realmente uma perda inigualável, alguma pista do assassino?, perguntou ela, enquanto pegava uma taça, com o vinho. — Por enquanto nenhuma, a polícia ainda está analisando as câmeras de segurança,  e interrogando  as testemunhas. — Espero que descubram logo, quem foi. E que essa pessoa pague, mofando atrás das grades.- disse ela de cara fechada. — Eu também.- respondi levando a taça aos lábios, sentindo o líquido me esquentar por dentro. — Você está apaixonada pelo meu filho?
Prendi a respiração por um instante. Mas depois relaxei e respondi simplesmente: —Estou. — Foi o que pensei, disse ela se sentando mais próxima. — James me falou que o conselho da Maximun está te pressionando para se casar, e se você parar para pensar você teve sorte Blair. James está apaixonado por você, tanto quanto você por ele. Aceite o pedido dele, e se case. Assim você garante à presidência, e o amor da sua vida.- disse ela, com os olhos em um brilho intenso. Mas quando abri minha boca para responder, notei que seu olhar se fixou atrás de mim. E parecia tenso, e rígido. Virei lentamente para trás, para ver quem era, quando dei de cara com James. Ele estava com uma roupa bem informal — jeans e camisa branca para fora da calça, com o colarinho aberto e as mangas dobradas —, mas estava tão lindo que humilhava qualquer outro homem presente ali.
O desejo que se acendeu dentro de mim quando o vi foi arrebatador. Notei que sua mãe estava se afastando de mim, mas não conseguia deixar de me fixar em James, cujos olhos escuros brilhantes
fuzilavam os meus.
— O que você está fazendo aqui?, ele soltou, irritado.
Eu me encolhi diante de tamanha grosseria. — Como é?
— Você não deveria estar aqui. Ele me agarrou pelo cotovelo e começou a me arrastar para dentro da casa. — Eu não quero você aqui.

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