capítulo 18

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— Como está a sua segunda?, ele perguntou, e sua voz me deixou toda arrepiada.
— Ocupadíssima. Olhei para o relógio e me assustei ao constatar que faltavam só vinte minutos para o meio-dia.
— Ótimo. Ele fez uma pausa. — Tentei ligar pra você ontem. Deixei umas mensagens. Queria ouvir sua voz.
Fechei os olhos e respirei fundo. Precisei recorrer a toda a força de vontade que tinha para resistir à
tentação de ouvir as mensagens dele. Até Petros se envolveu na causa — eu disse a ele para me segurar caso a tentação falasse mais alto. — Queria ficar sozinha, e aproveitei para trabalhar um pouco.
— Recebeu as flores que mandei?— Sim, são lindas. Obrigada.— Elas me lembraram do seu vestido, aquele que você usou na primeira vez que nos vimos. – O que ele estava fazendo? Eu estava começando a pensar que ele sofria de algum distúrbio de múltiplas personalidades. — Algumas mulheres diriam que você está sendo romântico.— Só me importa o que você diz.  A cadeira rangeu quando ele se levantou. — Pensei em passar na sua casa... Senti vontade.
Suspirei, já desistindo de tentar entender. — Ainda bem que você não fez isso.
Ele fez outra longa pausa. — Eu mereci essa.— Não falei isso pra castigar você. É a verdade.
— Eu sei. Olha... Eu providenciei um almoço aqui no escritório,
Depois que nos despedimos no evento, fiquei pensando se ele queria mesmo me encontrar depois de se recuperar de sabe-se lá que processo desencadeado pela nossa relação. Era uma possibilidade que eu
vinha remoendo desde sábado à noite, ciente de que precisava afastá-lo de mim, mas ao mesmo tempo torturada pelo desejo de estar com ele. Queria sentir de novo aquele momento puro e perfeito de intimidade que compartilhamos.
Mas aquele único momento não justificava todos os outros em que ele fez com que eu me sentisse um lixo.
— James, não temos por que almoçar juntos. Acabamos confundindo as coisas na sexta e...bom, o assunto foi resolvido no sábado. É melhor deixar tudo como está.— Blair. Ele baixou o tom de voz. — Eu sei que estraguei tudo. Me deixe explicar. — Não precisa. Está tudo bem. — Não está, não. Preciso ver você.  — Eu não quero...
— Podemos fazer isso do jeito mais fácil, Blair, ou então dificultar as coisas.  Sua voz endureceu e meu
coração disparou. — De qualquer forma, você vai me ouvir. Fechei os olhos e aceitei o fato de que não ia me livrar tão facilmente, com uma simples conversa ao telefone. — Tudo bem. Eu vou aí.— Obrigado. Ele soltou um suspiro bem audível. — Mal posso esperar pra ver você.
Pus o telefone no gancho e fiquei olhando para as fotos na minha mesa, tentando elaborar o que
precisava dizer e me preparando para o impacto de rever James. A ferocidade da minha reação física à presença dele era impossível de controlar. De alguma forma, eu precisava acabar logo com aquilo e
seguir em frente. Mais tarde eu pensaria em como lidar com o fato de ter a possibilidade cruzar com ele  ao longo dos dias, meses e anos seguintes. Por ora, eu só precisava pensar em como sobreviver à hora do almoço.
Optando por ceder ao inevitável, voltei para o trabalho comparando o impacto visual de algumas fotos, da nova sessão com a Ashley Moore. Ouvi batidas na porta, e murmurei um “ Entre”, era Brooklyn. Ela estava pálida, e parecia bem mais magra, que o normal. — Você está bem?, perguntei franzino o cenho. — Estou, é só um mau- estar passageiro. Falou ela, se aproximando e se sentando em minha frente. — Tem certeza?, insisti. — absoluta, é só o estresse Blair, já já passará. — Tudo bem.- respondi ajeitando uma papelada que estava sob a minha mesa. — Blair, o conselho está pressionando que você se case logo, na verdade isso é coisa da Meredith, ela que vem inflamando o conselho para te apressar. — Aquela mulher pavorosa não se cansa mesmo, não é? Ela quer a presidência, de qualquer jeito. Rosnei. — O que você pretende fazer?, perguntou minha irmã, com uma evidente preocupação na voz. — Esgotar todas as minhas opções, se nada der resultado, terei que partir pro plano B. — E qual seria esse? — Na hora certa, você saberá.- respondi analisando os portas-retrados encima da minha mesa. Olhei a foto dos meus pais em um abraço apaixonado, e desejei que tudo isso fosse apenas um pesadelo, e que quando eu acordasse, eles estariam aqui para não me deixar fazer, o que eu estava prestes à fazer.
Entrei no escritório luxuoso de James e já procurei com os olhos o sofá onde tinha acontecido nosso primeiro contato mais íntimo.
O almoço estava servido no bar — dois pratos cobertos com tampas de metal.
— Quer que eu guarde sua bolsa? Olhei para ele e percebi que havia tirado o paletó e que o mantinha pendurado no braço. Estava ali parado, com sua calça e seu colete feitos sob medida, uma camisa e uma gravata impecavelmente
brancas, seus grossos cabelos negros ao redor do rosto de tirar o fôlego, seus olhos de um castanho escuro brilhavam. Em resumo, ele me fascinava. Eu não conseguia acreditar que tinha transado com um
homem tão lindo.
Foi quando lembrei que aquilo não havia significado nada para ele.— Blair.
— Você é muito bonito, James. As palavras saíram da minha boca sem que eu me desse conta.
Ele pareceu surpreso, e amenizou um pouco a intensidade de seu olhar. — Fico feliz que goste do que
vê. Entreguei minha bolsa a ele e me afastei. Precisava manter distância. Ele pendurou o paletó e a bolsa no cabide e se dirigiu ao bar.
Cruzei os braços. — Vamos acabar logo com isso. Não quero mais sair com você.
James passou a mão pelos cabelos e bufou. — Não acho que você queira isso. – Você não tem que achar nada, pensei.
De repente eu me senti cansada, exaurida de tanto lutar contra mim mesma por causa dele. — Quero, sim, de verdade. Foi... um erro.
Ele cerrou os dentes. — Não foi. A maneira como me comportei depois é que foi um erro.
Olhei bem para ele, surpresa com sua capacidade feroz de negação. — Eu não estava falando de sexo,
James. Estava me referindo ao fato de concordar com o tipo de relação que se estabeleceu entre nós. Estava na cara que ia dar errado desde o começo. Eu deveria ter seguido meus instintos. — Você não me quer mais?— Não é isso. É que...
— Não como eu disse no bar. De verdade.Meu coração disparou. — Do que você está falando?
— De tudo. Ele chegou mais perto. — Eu quero ser seu, hoje, amanhã, e todos os dias que se segurem.— Não foi isso que pareceu no sábado.  Apertei ainda mais os braços.
— Eu estava... inseguro.
— E daí? Eu também.
Ele pôs as mãos na cintura. Depois cruzou os braços como eu. — Por favor, Blair.
Vi que ele estava remoendo alguma coisa e senti um fio de esperança. — Se é isso que você tem a dizer, estamos conversados.— Não estamos, não.— Se você vai entrar em parafuso toda vez que a gente transar, não temos nem por que começar.
Ele estava visivelmente escolhendo as palavras. — Estou acostumado a ficar no controle. Eu preciso disso. E você mandou essa ideia para o espaço na limusine. Eu não soube como lidar com isso.— Jura?— Blair. Ele chegou mais perto. — Nunca fiz isso antes. Pensei que nem fosse capaz. Agora que​ aconteceu... não posso abrir mão. Não posso abrir mão de você. É muito simples, James. Por mais que o sexo seja bom, uma relação puramente sexual pode mexer seriamente com sua cabeça se o convívio com a outra pessoa não fizer bem pra você.
— Nada disso. Admito que pisei na bola. Não posso mudar o que aconteceu, mas tenho o direito de ficar puto se você não quiser mais sair comigo por causa disso. Você impôs as regras e eu concordei,mas você não abriu mão de nada pra se adaptar a mim. Precisamos encontrar um meio-termo. Seu rosto estava carregado de frustração. — Você precisa ceder pelo menos um pouco. Olhei bem pra ele, tentando entender o que estava acontecendo e aonde aquilo ia chegar. — O que você
quer, James?, perguntei calmamente.
Ele me abraçou e segurou meu queixo com uma das mãos. —Quero continuar me sentindo como me
sinto quando estou com você. Só me diga o que preciso fazer. E não se comporte assim quando eu fizer bobagem. É tudo novidade pra mim. Um aprendizado.
Pus a minha mão sobre seu coração e senti que estava disparado. Ele parecia ansioso e apaixonado, e
isso me levou ao limite. O que eu deveria responder? Deveria seguir meus instintos ou usar o bom senso? — O que exatamente é uma novidade pra você?— O que for preciso pra passar o maior tempo possível com você. Na cama e fora dela.
A onda de satisfação que me arrebatou naquele momento foi absurdamente poderosa. — Você é capaz de imaginar como vai ser complicada a nossa relação, James? Ela mal começou e eu já estou exausta.
Além disso, tenho umas coisas para resolver comigo mesma, além da maximun... e de um casamento arranjado... Meus dedos cobriram sua boca antes que ele a abrisse. — Mas acho que vale o esforço, e quero
muito você. Então não tenho escolha, não é?— Blair. Você é terrível. Sabe que não precisa de um casamento arranjado, case-se comigo. Sua proposta me tirou o chão, meu sangue fluiu na velocidade da luz.
James me levantou do chão, posicionando um dos braços abaixo da minha bunda
para fazer com que minhas pernas enlaçassem em sua cintura. Ele me beijou com força e esfregou o
rosto contra o meu. — Nós vamos ser felizes.
— Até parece que vai ser fácil. Eu sabia que era uma pessoa difícil de lidar, e ele estava se mostrando tão difícil quanto.
— O que é fácil não tem graça. Ele me carregou até o bar e me sentou em um banquinho. Tirou a tampa do meu prato e revelou um enorme cheesebúrguer com fritas. Ainda estava quente, graças à pedra aquecida sob a bandeja.— Humm, murmurei, percebendo como estava com fome. Depois daquela conversa, meu apetite voltou com toda a força. Ele abriu meu guardanapo com um movimento brusco e o estendeu sobre meu colo, aproveitando para apertar meu joelho. Depois se sentou ao meu lado. — E então, essa coisa, como funciona?— Você pega com a mão e come com a boca.
Ele me lançou um olhar de falsa censura que me fez rir. Era bom poder sorrir. Era bom estar com ele pelo menos por um tempinho. Dei uma mordida no meu sanduíche, soltando um gemido quando senti
todo o sabor. Era um cheesebúrguer tradicional, mas delicioso.— Bom, né?
— Muito bom. Na verdade, acho que não me incomodo de ficar com um cara capaz de oferecer
sanduíches tão bons.  Limpei a boca e as mãos. — Você faz questão de exclusividade?
Quando ele pôs o lanche de volta no prato, ficou absolutamente imóvel. Não saberia nem por onde começar a adivinhar no que estava pensando. — Pensei que isso fosse parte do acordo. Mas vou deixar
bem claro, pra que não reste dúvida: não existe mais nenhum homem na sua vida, Blair.
O caráter imperativo de seu tom de voz e a frieza de seu olhar me fizeram estremecer. Eu sabia que ele tinha um lado cruel; havia aprendido a identificar e evitar homens com esse aspecto sombrio no olhar. Mas os alarmes não soaram para James como deveriam. — Mulheres tudo bem?, perguntei para
amenizar a conversa.
Ele ergueu as sobrancelhas. — Eu sei que seu guarda-costas é afim de você. Você
também?? Neguei com a cabeça— É um incômodo pra você?
— Dividir você com qualquer um,  é um incômodo. Está fora de cogitação. Seu corpo é meu, Blair.— E o seu é meu? Exclusivamente?
Seus olhos brilharam. — Sim, e espero que você faça proveito dele com frequência e em excesso. Ora, então... — Mas você já me viu nua, provoquei, baixando o tom de voz. — Já sabe o que vai ter em
troca. Eu não. Adorei o que vi de você até agora, mas não foi muita coisa.— Podemos resolver isso já. A ideia de vê-lo tirando a roupa pra mim fez com que eu me inquietasse no assento. Ele percebeu e
abriu um sorriso perverso.
— Melhor não, eu disse, já lamentando. — Já cheguei atrasada do almoço na sexta.
— Hoje à noite, então.
Engoli em seco. — Com certeza.
— Vou terminar tudo até as cinco. Ele voltou a comer, completamente à vontade com o fato de ter acrescentado uma sessão de sexo de virar a cabeça aos nossos compromissos para o dia.— Não precisa. Abri o pequeno vidro de ketchup que havia na bandeja. — Preciso ir à academia depois do trabalho. — Podemos ir juntos.
— Sério? Virei o vidro de cabeça para baixo e dei um tapinha no fundo. Ele o tirou de mim e usou sua faca para tirar o ketchup e pôr no meu prato. — Acho até melhor gastar
um pouco de energia antes de arrancar sua roupa. Assim você vai conseguir andar amanhã.
Olhei bem para ele, perplexa por ter dito aquilo sem a menor cerimônia e com uma expressão no rosto que demonstrava que não era apenas uma brincadeira. Senti meu sexo latejar de ansiedade. Não
seria nada difícil ficar absolutamente viciada em James Lorentz.
Comi algumas batatas fritas, imaginando se não havia ninguém mais viciada em James. — Ananda pode ser um problema.
Ele engoliu um pedaço do sanduíche e depois deu um gole em sua coca-cola. — Ela me disse que falou com você e que a conversa não foi nada boa.
Admirei mentalmente a trama dela e sua tentativa de me jogar para escanteio. Eu teria que tomar muito cuidado com ela, e James precisaria fazer alguma coisa a respeito — como tirá-la do caminho, e ponto final.
— Não, não foi nada boa, confirmei. — Não gostei nem um pouco de saber que você não respeita as mulheres com quem fode e que, assim que você enfiou seu pau em mim, estava tudo acabado.
James ficou paralisado. — Ela disse isso?— Exatamente isso. E também que está mantendo você em banho-maria até estar pronto pra sossegar.— Ah, é mesmo? Ele baixou o tom de voz até se tornar quase sinistro.
Senti um nó no estômago. Sabia que a partir dali as coisas poderiam dar muito certo ou muito errado. Tudo dependia do que James diria a seguir. — Você não acredita em mim?
— Claro que acredito.
— Ela pode ser um problema pra mim, repeti. Não queria deixar o assunto morrer.
— Ela não vai ser um problema. Vou falar com ela.
Detestei a ideia de que ele falasse com ela, porque me deixou morta de ciúmes. Achei melhor deixar isso bem claro logo de início. — James...
— Sim? Ele já havia terminado o sanduíche e estava comendo as batatas.— Sou muito ciumenta. Isso me tira do sério. Remexi minhas batatas. — Talvez você queira pensar a respeito. Está mesmo disposto a lidar com uma pessoa com problemas de autoestima como eu? Foi uma
das coisas que me fez pensar duas vezes antes de ficar com você. Eu sabia que ficaria maluca vendo a mulherada babando por você, sem poder fazer nada a respeito. — Agora você tem o direito de fazer algo a respeito..

            Entre Anjos & Demônios™ (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora