capítulo 22

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Acordei no meio da noite com o coração disparado e a respiração acelerada. Desorientada, fiquei
imóvel por alguns instantes, tentando despertar e lembrar onde estava. Fiquei toda tensa quando me dei
conta, do sonho que eu acabara de ter. Meus pais cobertos de sangue, os gritos deles..– tentei buscar o ar, que parecia escasso em meus pulmões. As lágrimas rolavam pelo meu rosto, e o meu peito ardia. A luz foi acessa clareando o quarto todo, levantei minha cabeça vendo Petros entrar rapidamente no quarto, com um evidente desespero. Ele veio em passos largos, até mim e se sentou na beira da cama. — O que houve? Blair. Você estava gritando, disse ele com suas sobrancelhas franzidas. — Meus pais, tinha muito sangue. Eu mal conseguia falar, meu corpo todo tremia. Petros pareceu entender, que se tratava de um pesadelo e me puxou em um abraço confortante. Ficamos alguns minutos assim, meus soluços eram tudo o que se ouvia, as mãos de Petros fazia um carinho delicado em minhas costas. Ele se afastou calmamente, e passou o polegar embaixo dos meus olhos, tirando as lágrimas que faziam seu curso pelo meu rosto. — Está tudo bem, foi só um pesadelo. — Pareceu tão real, era como se eu pudesse ver eles agonizando. Foi horrível Petros, foi assustador, eu disse escondendo meu rosto entre as minhas mãos. — Eu estou aqui, não precisa ter medo. Ele acarinhou o meu rosto — Pode voltar à dormir. — Não vou conseguir, tenho medo de voltar naquele pesadelo, falei sentindo um nó na garganta. — Vou ficar aqui com você, não precisa se preocupar. Olhei nos olhos dele, ele parecia até um anjo. Petros cuidava de mim, feito um, e isso ninguém podia negar. Meu corpo ainda tremia, e um medo absurdo me dominava, me deitei e Petros puxou o edredom me cobrindo. Ele passou pro outro lado da cama, e me puxou para deitar a minha cabeça em seu peito. Com uma mão ele acarinhava meus cabelos, e a outra ele segurava firmemente minha mão. Minha respiração foi regularizando, e minhas pálpebras pesando,  a imagem de James me preencheu, seu sorriso perfeito me fazendo voar.
Acordei na manhã seguinte com à vaga lembrança da noite anterior, tudo ainda estava começando a se materializar em meus pensamentos. Me levantei e fui até o banheiro tomando um banho e fazendo minhas higiene, me troquei e arrumei meu cabelo em um alto rabo de cavalo. Fiz uma maquiagem um pouco mais pesada que o normal, na intenção de esconder minhas olheiras e cara de quem havia chorado na noite anterior. Desci as escadas e encontrei Scott no fim dela, ele parecia ter acabado de acordar também e sua cara não estava nada boa. — Bom dia, Scott. Está tudo bem? perguntei me aproximando, seus olhos denunciavam que algo estava errado. — Bom dia, Blair. Não está nada bem, A Brooklyn não está bem, ela não está segurando nada no estômago, tem tido tonturas, e alguns sangramentos nasais. Meu pai é médico, me deixe chamá-lo aqui para ele ver o que ela tem.. – foi quando notei que Constance estava ali, ela que falava com ele antes que eu chegasse. — Senhorita Blair, o que eu estava falando ao Scott é que não precisa chamar o pai dele. O Doutor Frank é o médico da família, me deixe ligar para ele, falou Constance que parecia aparentemente irritada, com certeza com Scott. — Tudo bem, Scott. O Doutor Frank nos conhece desde meninas, ela estará em boas mãos, falei o acalmando. Constance saiu apressada, para ligar para o médico. Dei meia volta e subi novamente as escadas, entrando no quarto da minha irmã,  Ela estava pálida como eu já havia à visto a uns dias atrás. Meu estômago pareceu virar, meu coração apertou. — Brook o que você está sentindo?? Perguntei afobada, me sentando ao seu lado. — Muita dor pelo corpo, enjôo, tonturas, disse ela com a voz tão baixa, que precisei me esforçar para ouvir. — E por que só agora, eu fiquei sabendo disso? Você parecia bem ontem, estava tão alegre.. — Eu não quis te preocupar, você já tem tantos problemas, que eu não quis ser mais um. Disse ela tossindo, e me olhando com tristeza. — Nunca mais diga isso, ou pense isso. Você é minha irmã, eu amo você com todo o meu coração. E se você não está bem, eu também não estou, falei me sentindo ofendida pelo pensamento dela. — Me desculpe, murmurou ela se afundando no colchão. Respirei fundo tentando me acalmar,  ouvi a voz da Constance no corredor e sai para saber do que se tratava. Scott estava discutindo com ela,  ainda sobre o médico. — Parem vocês dois, ficar discutindo não resolverá o problema. Scott o Doutor Frank virá, vamos ouvir primeiro o parecer dele, se depois você ainda tiver dúvidas, você poderá trazer o seu pai, combinado? Falei olhando pra ele, que estava inquieto. Ele concordou com a cabeça, e entrou no quarto. Passei por Constance e desci as escadas novamente, me sentei para tomar apenas uma xícara de café bem quente, torcendo para que a cafeína levasse todos os meus problemas embora. Vi Petros se aproximar e se encostar no batente da porta, que dividia a sala de jantar da cozinha. — Como está se sentindo? Perguntou ele me analisando a distância. — Estou bem, mas estaria melhor se a Brooklyn não estivesse mal, respondi amargurada. — Vamos esperar o médico, se Deus quiser não será nada grave, falou ele me confortando. Eu terminava a terceira xícara de café, quando o Doutor Frank chegou. O comprimentei rapidamente, e o levei até o quarto de Brooklyn. Onde ele ficou por mais de quarenta minutos, e antes de sair me chamou para conversar. — Bem Blair, o que sua irmã tem é uma anemia profunda. Ela precisará tomar algumas vitaminas, dizia ele. — Mas Doutor, ela já vem tomando vitaminas à um bom tempo, respondi confusa, com as sobrancelhas franzidas. Ele me pareceu desconcertado, e rapidamente pareceu procurar uma resposta. — A anemia de sua irmã, é muita profunda. Somente essas vitaminas não à ajudará, recomendo que a dosagem seja dobrada, respondeu ele com um aceno de “ ok” para Constance que estava no quarto, — Qualquer coisa, fiquem à vontade para me chamar, continuou ele. Achei estranho, mas até ai o Doutor Frank nunca foi muito previsível. Concordei e me despedi antes que ele passasse pela porta, sorri levemente pro Scott que assistia tudo muito irritado. — Esse médico de vocês só pode estar de brincadeira, como ele pode dizer que ela tem uma anemia sem ao menos pedir um exame detalhado?, disse ele perplexo. — Scott, ele é um médico muito competente, e nos conhece desde criança. Ele sabe o que diz, tentei tranquiliza-lo. — Blair, por favor. Me deixe trazer meu pai, se ele confirmar o que esse Dr. Frank disse eu vou ficar mais sossegado, pediu ele em súplicas. — Tudo bem, concordei. Se isso o faria ficar mais tranquilo, não tinha por quê eu não deixar. — Isso é uma falta de respeito, com o Dr. Frank. Ele é médico dessa família desde da época dos seus avós, vociferou Constance, com uma irritação fora do normal. — Constance, está tudo bem. Uma opinião a mais não fará mal algum, a tranquilizei, mas ela saiu pisando duro. — Não liga pra ela, Scott. Constance sempre cuidou de nós duas como se fôssemos filhas dela, isso tudo é só zelo, falei enquanto olhava minha irmã dormir serenamente. — Eu vou para a maximun, qualquer novidade é só me ligar, que virei correndo, fui até minha irmã e passei a mão no rosto dela que estava quente. Sai deixando Scott cuidando dela, peguei minha bolsa no quarto e desci encontrando Petros apostos para me levar para a revista. Entrei no Bentley e me aconcheguei no banco, observando o dia cinza que estava do lado de fora. Por conta do trânsito, demorou mais que o esperado para que eu chegasse e isso já me fez ficar de mau- humor. Quando passei pelas portas de vidro da maximun, fui recepcionada por Zack que vinha como uma avalanche me informar sobre todas as prioridades do dia, mal tive tempo para respirar. Quando notei as horas, já se passavam das duas da tarde e eu nem havia almoçado ainda. Recebi uma mensagem de James, avisando que havia mandado  o motorista dele me buscar para que eu almoçasse com ele. Insisti dizendo que poderia ir perfeitamente com Petros, mas ele continuou dizendo que se fosse escolha dele Petros nem trabalhava comigo mais. Decidi não discutir e simplesmente aproveitar o almoço ao seu lado, avisei Petros que iria com Louis o motorista de James e que qualquer problema com a Brooklyn para que me ligassem imediatamente. Petros pareceu imensamente incomodado, mas concordou e permaneceu na maximun. Alguns minutos depois eu já entrava em sua sala, o almoço foi servido em sua mesa do escritório mesmo..

Ele comeu um pedaço do filé, que ainda estava quente por ter sido mantido em uma gaveta aquecida,
e disse calmamente: — Você é gulosa.   — Dã. Eu estou morrendo de fome, olhe as horas. Já era para eu ter almoçado.   — Fico feliz que não tenha ido, assim você pode vir almoçar comigo.  — Realmente. Aliás essa comida está maravilhoso, afirmei levando mais uma garfada a boca. — Mandei o chef Oliver Danson preparar especialmente para você, falou ele com sua áurea convencida. — Como você conseguiu isso? Perguntei boquiaberta, afinal esse é um dos chef's  mais renomados do mundo. — Sou podre de rico, respondeu ele com a naturalidade de quem diz as horas.  Fiz um gesto desdenhoso com a mão, que englobava todo o seu patrimônio, que sozinho devia ser de  uns
cem milhões de dólares. — Quem se importa com isso? — Ora, eu, por exemplo.  Ele sorriu.
Espetei com o garfo minha batata frita. A comida do Oliver Danson era quase tão boa quanto sexo.
Quase. — Seu dinheiro só me interessa se você puder parar de trabalhar e virar meu escravo sexual.
— Em termos financeiros, isso é possível, sim. Mas você se cansaria de mim e me daria um pé na
bunda. E depois disso eu faria o quê? Ele parecia estar se divertindo com a conversa.  — Acho que você
provou seu ponto de vista, não é?
Terminei de mastigar e depois falei: — Quer que eu prove de novo?.
— O fato de você ainda estar com tesão só comprova o meu ponto de vista.  — Humm. Dei um gole no vinho. — Resolveu fazer suposições agora? Ele me fuzilou com o olhar e comeu mais um pedaço da carne mais macia que eu já tinha
experimentado. Incomodada e inquieta, respirei profundamente e perguntei: — Se não estivesse satisfeito com a nossa
vida sexual, você me diria?.
— Não seja ridícula, Blair.
Quem mais traria esse assunto à tona depois dos momentos que tivemos? — Tenho certeza de que não
ajuda muito eu não ser do tipo com que você costuma sair.
— Pode parar por aí mesmo.
— Como é?
James largou os talheres. — Não vou ficar aqui parado ouvindo você destruir sua autoestima.
— Ah, é? Então só você tem o direito de falar? — Pode me provocar o quanto quiser, Blair, não vou discutir agora.   — Quem disse que... Fiquei quieta quando vi que ele estava rindo. E era verdade. Eu gostava de discutir, problematizar era comigo mesmo.  Ao sair da mesa, ele disse apenas: “Espere aqui”.
James voltou pouco depois, deixando uma caixinha de anel ao lado do meu prato e retomando seu
lugar no assento. Aquilo me atingiu como uma pancada. A primeira reação foi de medo, e me fez gelar.
A segunda foi de desejo, e fez um calor se espalhar por meu corpo.
Minhas mãos tremiam. Agarrei os dedos e percebi que meu corpo todo estava tremendo. Sem saber o
que pensar, olhei bem para James.
Sentir seus dedos acariciando meu rosto ajudava a aliviar um pouco a ansiedade que tomou conta de mim, abrindo espaço para um terrível desejo. — Abra, ele falou.
Com toda a cautela, puxei a caixinha mais para perto e abri a tampa. “Oh.”
Aninhado no forro de veludo preto, havia um anel como nenhum outro. Camadas de ouro entrelaçadas como em uma corda e unidas por pequenas cruzes cobertas de diamantes.
— Amarras, murmurei, “sustentadas pelas cruzes.” A associação das cruzes ao nome James foi inevitável.
— Não exatamente. Vejo a corda como uma representação de suas múltiplas camadas, não como uma
amarra. E, sim, as cruzes são as intersecções entre mim e você. Nossos dedos entrelaçados. Ele
terminou seu vinho e reabasteceu nossas taças.

Eu estava com o coração na mão.  Noites sem conseguir dormir direito não tinham ajudado em
nada. Era impossível para mim entender por que ele me queria tanto, apesar de sentir a mesma coisa a seu respeito. Havia milhares de mulheres em Nova York que poderiam tomar o lugar que eu ocupava em sua vida, mas só existia um James Lorentz.

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