capítulo 12

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Acordei no sábado de manhã com uma ressaca monstruosa, e só conseguia pensar que era aquilo mesmo que eu merecia. Por mais que detestasse a insistência de James de negociar algum tipo de relação comigo, com a mesma facilidade com que discutia uma fusão empresarial, no fim acabei entrando no jogo. Meu desejo por ele  justificava o fato de eu assumir um risco calculado e quebrar minhas próprias regras.
Eu me consolei com a ideia de que ele também estava quebrando algumas das dele.
Depois de um banho bem longo e quente, fui para a sala e encontrei Petros deitado no sofá com seu netbook, parecendo muito bem desperto e revigorado. Levando em consideração que noite passada, ele passou a madrugada toda cuidando de mim, enquanto eu bebia um drinque atrás do outro na companhia de James e Kloé que voltou horas depois.
Sentindo o cheiro de café na cozinha, fui até lá e
enchi a maior caneca que consegui encontrar.O que fez com que alguns dos empregados que estavam lá, me olharem com espanto. Já que eu quase nunca ia lá, mas minha ressaca era tanta que não conseguiria comer nada por hora. — Bom dia, dorminhoca, ele disse.
Segurando com as duas mãos minha tão necessária dose matinal de cafeína, eu me juntei a ele no sofá.Petros apontou para uma caixa na mesa de centro. —Chegou enquanto você dormia.
Deixei a caneca de café sobre a mesa e apanhei o embrulho de papel pardo. Meu nome estava escrito diagonalmente na tampa da caixa com uma caligrafia floreada. Dentro dela havia uma garrafinha âmbar
com os dizeres CURA RESSACA pintados em uma fonte estilo retrô e um bilhete amarrado com ráfia no gargalo em que se lia: “Beba-me”. O cartão de visitas de James estava cuidadosamente aninhado no
papel de seda que protegia o embrulho.Ao analisar o presente, considerei-o bastante conveniente. Desde que havia conhecido James, eu tinha entrado em um mundo fascinante e sedutor em que quase nenhuma das regras conhecidas do bom senso se aplicava. Eu estava desbravando um território desconhecido, o que era ao mesmo tempo excitante e assustador.Olhei para Petros, que encarava a garrafa com um ar de dúvida.— Saúde. Tirei a rolha e bebi o conteúdo sem pensar duas vezes. Tinha gosto de xarope para tosse, espesso e doce. Meu estômago se contraiu de desgosto por um momento, depois esquentou. Limpei a boca com as costas da mão e enfiei a rolha de volta na garrafa vazia.— O que era isso?, perguntou Petros.— Pelo tanto que queima, mais álcool.
Ele franziu o nariz. — Um método eficiente, mas desagradável.E funcionava mesmo. Eu já estava começando a me sentir melhor.
Petros apanhou a caixa e retirou de lá o cartão de James. Ele o virou e mostrou para mim. No verso, James  havia escrito “Me ligue” com uma letra apressada e anotado seu telefone. Peguei o cartão, envolvendo-o com minha mão. Aquele presente era a prova de que ele estava pensando em mim. Sua determinação e insistência eram sedutoras. E uma espécie de elogio.Não havia como negar que James havia derrubado todas as minhas barreiras. Queria sentir de novo aquilo que experimentei quando ele me tocou, e adorei o modo como reagiu quando eu o toquei. Quando parei para refletir sobre o que não faria para ter suas mãos sobre meu corpo de novo, não consegui pensar em muita coisa.Petros quis me passar o telefone, mas fiz que não com a cabeça. — Ainda não. Quero estar bem lúcida quando falar com ele, e ainda estou meio zonza.
— Vocês dois pareciam estar se dando muito bem ontem à noite. Ele parece muito a fim de você.- disse Petros com as sobrancelhas formando uma ruga no meio de sua testa. — E eu estou muito a fim dele.- respondi, e o vi baixar o olhar de uma forma triste. Aninhando-me no canto do sofá, apoiei o rosto no estofamento do encosto e abracei os joelhos. —A gente vai sair, se conhecer melhor, fazer sexo casual-mas-fisicamente-intenso e continuar sendo independente. Sem vínculos, sem expectativas, sem compromisso. Petros apertou um botão no netbook e a impressora começou a expelir folhas de papel do outro lado da
sala. Ele fechou o computador, deixou-o sobre a mesa de centro e passou a dedicar toda a sua atenção amim. — Existe a possibilidade de que vire algo mais sério?.- perguntou ele, me olhando de uma forma desesperada.— Acredito que não, Eu não estou atrás de um conto de fadas, Petros, principalmente com um figurão como James. Aprendi
com minha mãe o que significa estar ao lado de homens poderosos. É comprometimento total em troca
de uma entrega parcial. O dinheiro bastou pra fazer minha mãe feliz, mas pra mim não é suficiente.
Meu pai amava minha mãe. Ele a pediu em casamento, queria passar sua vida com ela. Isso só aconteceu porque ele tinha o currículo expressivo e a conta bancária polpuda que ela exigia de um marido. O amor não era um pré-requisito para o casamento na opinião de Amélia Wolf, como seu
olhar provocador e sua voz sussurrada eram irresistíveis para a maior parte dos homens, ela nunca precisou se contentar com menos do que desejava.
Olhei para o relógio e vi que já eram dez e meia. — Acho que preciso ir me trocar.— Adoro passar o dia no spa com a minha irmã. Petros sorriu, e isso afastou a melancolia do meu estado de
espírito. —Quando termina, eu me sinto como uma deusa.
— Sim, A deusa da persuasão.- respondeu ele. Soltei uma risada anasalada, e me aproximei dele um pouco mais. O olhando agora ainda mais de perto, pude memorizar seus traços, e reparar em seus lindos contornos. Ele é muito bonito, nesse aspecto eu era uma mulher de sorte. — Posso te fazer uma pergunta?, Petros me olhou nos olhos, e molhou os lábios, assentindo com a cabeça. — Você já se apaixonou por alguém?.- percebi que minha pergunta, o deixou ligeiramente desconfortável. O que o fez, se remexer no sofá, desviando o olhos de mim. — Nunca pensei que fosse, mas existem momentos na vida que é impossível não se deixar cativar.- respondeu sustendo o olhar, de cabeça erguida. — E ela é de onde você veio?.- perguntei interessada. Ele parecia enfrentar uma luta interna, sobre continuar com aquele assunto, mas ao mesmo tempo parecia querer me contar algo. — Isso não importa, ela nunca olharia pra mim mesmo.- afirmou ele, o que me fez fechar a cara. — Você só pode estar de brincadeira, quem não olharia pra você, isso sim.- disse o fazendo sorrir pra mim. Me levantei e ia seguir para a escada rumo ao meu quarto, quando ele disse: — E você olharia?, sorri com sua pergunta. — Já olhei, respondi lhe dando as costas e subindo para o meu quarto.

                         —•—

Depois de passar várias horas agradabilíssimas no spa, minha irmã me deixou em casa e saiu à procura de uma câmera nova para Scott. Aproveitei esse tempo livre para ligar para James. Mesmo estando sozinha, tive que digitar o número dele várias vezes antes de enfim
tomar coragem para completar a ligação.Ele atendeu ao primeiro toque. — Blair.
Fiquei surpresa por James saber quem era, e confusa por alguns instantes. Por que ele tinha meu
número na lista de contatos? — Hã... Oi, James.
— Estou aí perto. Estou chegando.
— Quê? Parecia que eu havia perdido uma parte da conversa. — Chegando aonde?
— Na sua casa. Estou virando a esquina, Blair.
James desligou e eu fiquei olhando para o telefone, tentando assimilar o fato de que em poucos momentos estaria novamente com ele. Um tanto desorientada, fui até a porta onde fiquei  à espera dele, que chegou ainda enquanto eu ainda assimilava tudo. Poucos instantes depois, James estava à  minha porta.Foi quando eu lembrei que estava usando apenas um robe de seda fina e que já estava maquiada e
penteada para o evento da noite. Que tipo de impressão aquilo causaria nele?
Fechei bem o robe antes de deixá-lo entrar. Ele apareceu sem ser convidado, e eu não tinha a intenção de seduzi-lo nem nada do tipo.
James ficou parado na porta por um bom tempo, percorrendo com seu olhar desde a ponta dos meus cabelos até os meus dedos do pé pintados em estilo francesinha. Eu também estava impressionada com
a aparência dele. A maneira como ele estava vestido, com um jeans surrado e camiseta, fez com que eu quisesse despi-lo com os dentes.
— Valeu a pena ter vindo até aqui para ver você assim, Blair. Ele entrou e trancou a porta atrás de si.— Como está se sentindo?
— Bem. Graças a você. Obrigada. Senti um nó no estômago por causa da presença dele, que fazia​ com que eu ficasse meio tonta.. — Mas não foi por isso que você veio aqui. — Vim até aqui porque você demorou pra ligar.
— Eu não sabia que tinha um prazo.— Eu precisava falar com você ainda hoje, e também queria saber se está tudo bem depois de ontem à
noite. Seus olhos assumiram uma expressão séria ao passear por mim. Seu rosto de tirar o fôlego parecia emoldurado por seus cabelos negros impecáveis. — Você está linda, Blair. Acho que nunca desejei
tanto alguém como agora.
Com essas poucas palavras, simples e diretas, já fiquei toda excitada e carente. Vulnerável demais.
— O que você tem pra falar de tão urgente?— Vamos juntos ao evento de hoje à noite.
Levei um susto, surpresa e animada com o pedido. — Você vai?— E você também. Vi a lista de convidados e sei que sua irmã também vai. Podemos ir juntos.
Pus a mão sobre a garganta, dividindo minha preocupação entre o fato de ele saber tanta coisa sobre mim e o que havia acabado de me pedir. — Não foi isso que eu quis dizer quando pedi pra gente passar
algum tempo juntos.
— Por que não? Era uma pergunta desafiadora. — Qual é o problema de irmos juntos a um evento a que nós dois já iríamos de qualquer forma?
— Não é só um jantarzinho íntimo. É um evento de muita visibilidade.— E daí? James chegou mais perto e acariciou com o dedo um dos cachos do meu cabelo.Havia um tom sugestivo em sua voz que me fez estremecer. Eu conseguia sentir o calor de seu corpo
largo e rígido e o aroma masculino de sua pele. A cada minuto que passava, eu me deixava levar mais
por seu charme.
— As pessoas vão tirar conclusões, principalmente minha irmã. Ela já está farejando sua solteirice no
ar.Baixando a cabeça, James pressionou seus lábios contra a curvatura do meu pescoço. — Não me importa o que as pessoas vão pensar. Sabemos o que estamos fazendo. E pode deixar que eu me
encarrego da sua irmã.
— Se você pensa assim, eu disse, quase sem fôlego, — é porque não a conhece muito bem.
— Pego você às sete. Sua língua percorreu a veia pulsante da minha garganta e eu me derreti sob ela. Meu corpo amoleceu quando ele me puxou para mais perto.
Ainda assim, consegui dizer: — Eu não disse que sim. — Mas não vai dizer que não. Ele mordeu o lóbulo da minha orelha. —Não vou deixar..

            Entre Anjos & Demônios™ (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora