O desespero que percorria meus átrios deu lugar ao alívio. Aquela menininha estava a salvo, por enquanto. Continuei do seu lado até que os médicos terminassem de aplicar remédios e medir sua pressão. Hyun-Jae cochilava e às vezes acordava com um sobressalto, mas sua mão continuava enlaçada à minha, como se ela quisesse me prender ali.
— Hyung Jae... – sussurrei apertando suas mãos, com os olhos marejados – Está tudo bem agora.
—Unnie, estou com medo...
— O que foi? – seu rosto estava pálido e aposto que o meu não estava diferente. Gostaria de poder apagar essa noite da memória, mas acho que seria impossível. As imagens de Emili ensanguentada e da linha reta na tela do monitor mostrando a falta de batimentos cardíacos iriam me assombrar pelo resto da minha vida. Para sempre.
— A bruxa, – seus olhos aterrorizados encontraram os meus. – ela esteve aqui! Ela quem fez isso comigo.
— Está tudo bem Jae, não tem mais nenhuma bruxa aqui. Vou te deixar descansar – quando estava prestes a soltar sua mão, ela segurou a minha mais forte.
Os médicos ainda andavam pelo quarto e cuidavam dela, éramos seis ao todo, e não me preocupei de continuar ali enquanto eles trabalhavam. Eu não a deixaria sozinha.
— Helena, por favor, – as lágrimas escorriam pelas suas bochechas, passavam pelo pescoço e caiam no leito, uma mais rápida que a outra, sua voz era baixa, e eu nem conseguia crer que ela estava ali com os olhos abertos me fitando. Aquele sufoco de segundos atrás ainda me prendia. – não me deixe aqui sozinha.
Meu coração se partiu. Agora eu também chorava.
— Não vou sair do seu lado, não vou a lugar nenhum, vou cuidar para que ninguém te machuque, prometo. Bruxa nenhuma. – eu acariciava seus cabelos com delicadeza, como se ela fosse um cristal que se quebrava com qualquer movimento mais forte. Sabia que a bruxa agora era a parada cardíaca, sabia que aquela criança indefesa de oito anos estava sozinha, sabia que ela estava doente. E era por isso que eu não queria voltar para o Brasil.
— De dedinho? – disse estendendo o dedinho com dificuldade.
— De dedinho.
* * *
Uma enfermeira entrou na sala, achei que havia vindo par dar alguns remédios, mas ela se dirigiu a mim.
— Senhorita Helena?
—Sim?
— Uma senhora na recepção pediu para que lhe entregassem isso.
Peguei o papel de suas mãos e agradeci.
“Comecei a gritar seu nome na recepção como uma louca. Descobri o endereço desse hospital depois de um século tentando pronunciar as frases em coreano do Google tradutor para o moço bondoso que pegou seu telefone. (Espero que meus netos sejam os filhos dele. Não sei nem como se fala o nome dele, mas tudo bem.) Ele também me ajudou com o taxista até aqui e na recepção quando eu estava gritando. Se você recebeu esse bilhete, por favor, me deixe subir até seu quarto, e espero que esteja com todos os ossos no lugar. Dependendo do ocorrido, eles não vão mais ficar...Mamãe Dora.”
Por que minha mãe havia vindo até aqui? Eu não podia sair logo após fazer a promessa de não deixar Hyun-Jae. E fora Kim Dong Yul que lhe ajudara a chegar até aqui?
— Por favor, peça a senhora para vir até aqui, ela é da família, então a entrada está liberada, certo? – meus olhos encontraram os de Jae – Não vou sair do lado dessa menininha hoje.
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Coordenadas de um Coração
FanfictionNão existe apenas um caminho para chegar a um coração. Nem apenas um norte para a felicidade. Procurando um novo destino em suas vidas, Emili e Helena só têm uma coisa em comum, um intercâmbio para Coréia do Sul. Mesmo com tantas diferenças, elas...