Capítulo 9

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Sorri animada. Fazia tempo que eu estava querendo encontrar e sair com um amigo. Por causa dos péssimos acontecimentos do dia, rever Park veio muito a calhar. Eu não fiz muitos amigos na faculdade, na verdade nenhum, e sentia necessidade de conversar com alguém sem ser Helena, necessidade de simpatia.

— Sente-se. - dei leves batidinhas na cadeira de ferro ao meu lado.

Sentando se ele esticou o pescoço pelo vidro a nossa frente, provavelmente procurando o homem do lámen. Eles haviam se encarado por alguns segundos e durante esse tempo o clima caiu. Senti curiosidade e a minha língua foi rápida demais para pará-la.

— Vocês se conhecem? - disse gesticulando com a cabeça pra a rua vazia. Ele entendeu sobre que eu estava falando.

— Ah err... Somos apenas conhecidos... – tinha certeza que ele torcia para que eu não notasse o tremor na sua voz, para que eu não notasse a mentira.

Conhecidos não se encaram friamente. Conhecidos se cumprimentam e seguem seus caminhos. Embora eu notasse a evidente mentira resolvi ignorar, todos temos um assunto que não queremos conversar sobre, além disso não era bom eu conversar sobre coisas desagradáveis. Eu mal tinha amigos, não podia perder esse.

— Lámen de legumes! É o muito bom, não? - ele analisava a embalagem laranja com grandes escritos em amarelo e verde em suas mãos pequenas. Estava tentando mudar de assunto.

—De agora em diante é o meu favorito também... - o calor do lámen penetrou por entre meus dedos e a lembrança das palavras e da silhueta do homem que havia saído da loja a alguns minutos atrás preencheu meu coração e desabrochou um leve sorriso no meu rosto. Ele havia sido diferente.

— Achei que você nunca fosse me ligar... - cerrei meus olhos -. Um número coreano me ligou todas as noites, pensei ser você nas primeiras vezes.

Mostrei o histórico de chamadas no meu celular.

— Eu pensei que você estaria um pouco deslocada aqui. Mas não tive tempo de ligar. Decidi te ver para saber como foram os primeiros dias. – Ele se desculpou enquanto pegava o celular na mão e lia os números do celular.

Na tela brilhavam 23 chamadas recebidas.

Sua expressão mudou, seus olhos corriam pela tela do celular.

— Você conversou com essa pessoa? - Seu olhar atônito não saía do celular.

— Ninguém nunca dizia nada, não conversamos. - disse em um suspiro - Mas eu pude ouvir uma respiração pelo outro lado da linha. - Não queria dizer como aquela respiração me deixava calma e confortada, ele me acharia estranha.

— Só pode ser um admirador secreto... - ele lançou um olhar desafiador e brincalhão.

—Sem chances! Meu namorado acabaria com ele. - ao pronunciar a palavra "namorado" o rosto de Luan me veio a mente, e um pedaço do meu coração rachou prestes a quebrar novamente. Meu sorriso se contorceu em uma feição de dor, precisei cerrar a mandíbula para não permitir que as lágrimas voltassem.

— Você tem namorado? - ele parecia interessado para minha surpresa. - Como arrumou um coreano tão rápido? - ele parecia brincalhão, mas um pingo de ansiedade transbordou em seus olhos.

—Ah não - soltei um riso conveniente - Ele é brasileiro, Luan. - Uma pontada de tristeza me penetrou. E para esconder os olhos marejados abaixei o rosto.

—Ei, porque está triste?- ele tomou a liberdade de levantar meu rosto com os dedos em meu queixo - Eu disse alguma coisa errada?

— Não, você não fez nada de errado... - disse olhando em seus doces olhos. - É que meu namoro não vai muito bem, Luan anda um pouco seco comigo desde que vim para cá. Tem sido difícil, não tenho ninguém para conversar sobre minhas dificuldades, principalmente em relação a minha colega de quarto. Ele nunca está do outro lado da linha para me ouvir. - Não esperava abrir tanto meu coração para Park, mas era como se nos conhecêssemos há anos. Eu sentia que podia confiar nele.

Coordenadas de um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora