Eu bati de leve em sua mão, indignada.
Kou riu e chacoalhou a mão fingindo dor.
—Ok, ok. É brincadeira, eu sairia para jantar com a Irene do Red Velvet. - ele continuava a chacoalhar a mão como se o tapa tivesse ardido. ̶̶̶̶ Não que com você seria chato... Mas acabamos de nos reconhecer...
Eu ri. Conhecíamo-nos apenas pelas longas ligações de Lee, e ela na época me mostrara uma foto de quando eles eram crianças, os cabelos pretos e lábios carnudos dele ainda estavam ali. Seus olhos tinham a mesma serenidade da foto, Kou só estava uns 20 anos mais velho. Fazia tanto tempo já...
— Até eu sairia para jantar com a Irene. ̶̶̶̶ sorri e dei mais uma colherada no sorvete. ̶̶̶̶ Se fizéssemos esse jogo de perguntas atualmente, eu teria respondido o porteiro do meu prédio.
Kou curvou se na mesa gargalhando.
— Por quê?
— Queria descobrir porque ele é tão rabugento.
Ele estava prestes a soltar mais um comentário com um ar risonho, quando um carro do lado de fora da loja de conveniência buzinou e nós nos viramos. O riso se extinguiu de seu rosto.
O vidro do passageiro desceu, e uma mulher no volante acenou para nós. Ou para Kou, o que eu não havia percebido.
— Preciso ir. ̶ ele se levantou, com o olhar sério e a voz fraca.
O segui até a porta e o observei encarar o veículo.
Kou virou-se para mim, os olhos frios e abriu a porta do passageiro.
— Você demorou. ̶ a coreana lá dentro praguejou com ele. Kou apenas se sentou no banco, deixou a porta aberta, e ficou olhando para frente como se estudasse uma maneira de quebrar o vidro.
Continuei parada observando.
A coreana bufou, saiu do carro e deu a volta subindo na calçada.
Me lançou um olhar cortante de superioridade, enquanto arrastava os olhos rapidamente dos meus pés até a cabeça com desgosto. No canto de seus lábios rubros, brilhou um sorriso maldoso. Um arrepio percorreu minha espinha.
Super simpática ela.
Os saltos vermelhos contrastavam com o casaco e o batom, ela usava um vestido creme bem justo nas coxas, e tinha o cabelo liso que chegava quase a altura do quadril. Olhei automaticamente para meu vestido florido e meus alls stars amarelos, eu parecia uma criança perto da maestria de suas roupas de grife.
Ela não disse nada, apenas continuou me encarando como se eu usasse um vestidinho de botijão de gás, néon, cheio de purpurinas, que no caso, era brega de qualquer jeito.
Nós duas nos encarávamos simultaneamente.
— Pode olhar o quanto quiser, querida. ̶ ela abriu um sorriso cínico. ̶ O que é belo é feito para se admirar.
Apoiou um braço na porta aberta e o outro no banco de Kou, se inclinando e deixando o encurralado.
Virou se uma última vez para mim, e se aproximou, encostando os lábios finos na máscara que ele usava.
O beijando sobre o pano, e deixando seu batom marcado ali.
Virei meu rosto para o outro lado, encabulada com a situação.
A coreana voltou o olhar para mim, como uma ameaça, como um lobo marcando o território, e sorriu.
Kou nem se mexeu, seus olhos vazios mostravam indiferença, parecia uma estátua de mármore, com a marca de batom vermelho sinalizando a quem pertencia.
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Coordenadas de um Coração
Fiksi PenggemarNão existe apenas um caminho para chegar a um coração. Nem apenas um norte para a felicidade. Procurando um novo destino em suas vidas, Emili e Helena só têm uma coisa em comum, um intercâmbio para Coréia do Sul. Mesmo com tantas diferenças, elas...