Capítulo 14

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—"Cara do lamén" fica legal, mas qual seu nome de verdade? – continuávamos parados observando a casa.

As mãos no bolso, uma distância respeitável.

— Kou.

— Emili.

Ele me olhou demoradamente. Seus olhos não eram estranhos.

— O lámen de legumes te fez bem?

Eu não contive o sorriso.

—Aquilo é milagroso. – ri baixo tentando desviar meu olhar.

Ele suspirou pesadamente.

— Estava chorando não estava?

Abri a boca para mentir.

— Lámen de pimenta não é tão ardido assim. – ele arqueou uma sobrancelha.

Continuei olhando para o chão, envergonhada demais para lhe olhar.

— Estava. – confessei baixo.

— Algo muito ruim?

Delicadamente ele tentava entrar, sem machucar ou ser invasivo, apenas entrar.

— Primeiro amor.

— Hum. – ele balbuciou, olhando para baixo também, enquanto começávamos a andar para longe da casa. Deslocados com o rumo da nossa conversa.

— Minha amiga me disse ontem que amor que machuca não é amor. – era a única coisa que eu lembrava com clareza da noite de ontem. – Não sei se acredito...

Kou virou seu rosto em minha direção, e mesmo sendo estranhos um ao outro, confessar problemas era mais fácil daquela maneira. Ficamos em silêncio, ele pela liberdade que eu lhe dera de me entender, e eu receosa pelo que dissera.

— Eu amava Lee.

Sua confissão baixa me fez estremecer. Ele amava Lee? Ele era o amigo que ligava para ela todas as tardes, ou aquele que a conhecera numa sorveteira? Fazia tantos anos...

— Por que não a ama mais?

— Eu ainda a amo, mas ela sumiu. Fugiu do meu amor.

Era extremamente estranho pensar dessa maneira. Onde está você Lee? Por que não contou a esse homem?

— Por que não acredita no que sua amiga disse?

Viramos a esquina e continuamos seguindo reto, sem nem calcular o caminho, simplesmente andando. Estávamos desconfortáveis conversando assim, estranhos normais conversam sobre o tempo ou sobre as horas, não sobre pesos e problemas pessoais.

O fato de Lee ser importante a nós dois era como uma ligação indireta, que nos fazia sentir próximos distantes. Pelo menos para mim.

Eu puxei um pouco de ar, e olhei atentamente para seus olhos escuros. Não paramos de andar, nem de nos olhar.

— Promessas ao pôr-do-sol nunca são quebradas... – ri com amargura, e percebi os olhos dele se espremerem tentando entender.

— Tínhamos essa piada por culpa da minha avó. Meu avô lhe pediu em namoro dentro do opala dele, em um pôr do sol, e os dois ficaram juntos por quase 62 anos de casado.

A piada fez efeito, sua risada esganiçada acompanhou meus olhos curiosos.

— Do que está rindo?

— Isso é extremamente bonito... – ele se explicou e eu sorri.

— Minha avó me deu o opala depois que o vovô faleceu. Eu conheci meu namorado nas aulas de direção...

Coordenadas de um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora