- Jongno-gu, Ihwa-dong, 101, Daehak-ro, quarto 156... - repeti várias vezes esse endereço para não errar o caminho. Era o lugar onde eu começaria a desenvolver meu projeto, era uma oportunidade única e nem Dora nem ninguém arruinaria essa chance. Não queria deixar minha vida a mercê dos desejos dos outros. Estava realmente levando a sério aquele projeto. Fiz minha inscrição. Ignorei todas as chamadas de Dora, os olhares de Emili, rasguei minhas passagens e segui minha bússola interior.
Já tinha feito as contas, se realmente o projeto me interessasse eu arrumaria um emprego de meio período para pagar o aluguel e as contas do apartamento, além de poupar alguns trocados. Não precisaria de Dora.
Não iria voltar. Se ela quisesse me ver dentro daquele avião teria que fazer isso à força.
Depois de alguns minutos no metrô da linha 4, cheguei ao meu destino. Adentrei o hospital universitário confiante.
Andando mais para frente avistei o guichê de recepção e me dirigi até a atendente. Expliquei o porquê de ter vindo e ela me disse onde estava o quarto da pessoa que eu ajudaria com as aulas, depois me deu todas aquelas orientações chatas e óbvias juntamente com meu crachá. Agora era comigo.
Eu não gostava de hospitais, ninguém no mundo gostava, e aquele era maior do que qualquer hospital que eu já fora no Brasil. Os largos corredores brancos se estendiam até onde minha vista alcançava, os pacientes passavam em macas, apoiados em enfermeiros ou sozinhos. O cheiro de produtos de limpeza e remédios me incomodava.
- Viro à esquerda, subo a escada, continuo reto e encontro o elevador, viro à direita... Ou será que ela disse esquerda? Ah droga, não lembro! - Por que esse lugar tinha que ser tão grande? -Bom, eu descubro mais para frente.
Meu celular tocou e eu ignorei. Na verdade, era a oitava chamada de Dora que eu ignorava. Não podia atendê-la. Já sabia sua resposta sobre a possibilidade da minha participação no projeto, e não queria ouvi-la. Eu decidira não passar mais uma tarde à toa no meu sofá, olhando para a janela, e esperando minha mãe dizer sim aos meus planos.
Segui o caminho que ainda lembrava.
- 101, 102, 103, 104, 105,106... O quarto 156 deve estar lá pra frente, parece que não vai ser tão difícil.
Nona chamada. Minha decisão estava tomada e nada me traria para dentro daquele apartamento embolorado novamente.
Comecei a andar sem rumo pelos corredores da direita, três, quatro, cinco corredores extensos, a numeração dos quartos não era a que eu procurava. Eu era tão ruim em matemática assim?
Foi então que me dei conta que estava perdida.
- Argh! Eu não acredito - disse bufando tão alto que duas enfermeiras se viraram para mim. Sorte era que eu podia xingar em português. - Será que eu vou ter que olhar num mapa?
Arregacei as mangas e segui com passos duros o corredor branco. Estava irritada com meu senso de direção.
- Você parece perdida, senhorita... - uma voz soou numa esquina do corredor. Em coreano. Sugestivamente esperando que eu dissesse meu nome.
-Não estou, obrigada. - disse com cara de poucos amigos.
-Muito prazer senhorita "não estou, obrigada". - a voz soou mais próxima, quase como um murmúrio baixo no meu ouvido. - Você alega não estar perdida, mas já rodou esse corredor três vezes...
Arrepiada com a falta de espaço, eu me virei e topei com um homem.
Pretendia fazer uma cara de desdém, entretanto a surpresa dominou o meu rosto.
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Coordenadas de um Coração
FanficNão existe apenas um caminho para chegar a um coração. Nem apenas um norte para a felicidade. Procurando um novo destino em suas vidas, Emili e Helena só têm uma coisa em comum, um intercâmbio para Coréia do Sul. Mesmo com tantas diferenças, elas...