É bom estar de volta

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— Você acha que eles vão querer me ver? – perguntei aflita enquanto ruía minhas unhas.

— São seus pais Selena, eles te amam

Estava na casa de Alessia, apesar de não me recordar se ela havia ou não uma casa, ela passou tanto tempo comigo e agora percebo que não sei nada sobre sua vida nem mesmo sabia que ela tinha uma casa, estava escondida lá, ainda não tinha coragem de olhar meus pais, o medo de ser rejeitada tomava conta de mim, apesar de Alessia tentar me confortar que será diferente.

Tomei um banho e deitei na cama, não conseguia dormi, ficava repassando textos na minha cabeça para dizer aos meus pais assim que eu os encontrar, '' eu estava possuida'' '' me desculpem por ser pecadora'' '' eu fui obrigada a fazer isso'', tudo que eu pensava parecia uma mentira, eu não estou possuída, - eu acho que não – eu não fui obrigada a fazer isso, mas sim eu sou um pecadora e Deus me castigou, será que meus pais vão me perdoar após saber que Deus já me castigou o suficiente? Esses pensamentos duraram a noite inteira, desci até a cozinha, encontrei uma garrafa de vodka na geladeira, abrir tomando um gole grande em seguida, sentir como se minha garganta estivesse queimando e meu estomago também, peguei a garrafa, sentei na cadeira e apesar de como eu me sentia ao tomar aquilo eu não conseguir parar, apenas continuei.

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— SELENA? SELENAAAA? – Sentir alguém batendo no meu rosto, abrir os olhos devagar, Alessia me olhava espantava – Ai meu deus, graças a Deus você esta bem, POR QUE VOCÊ BEBEU ISSO TUDO? VOCÊ PODERIA TE MORRIDO SABIA?

— Que horas são? - tentei me levantar do chão da cozinha mas meu corpo inteiro doía

— São 8 horas da manhã, eu estava indo para a escola, mas não vou deixar você sozinha nesse estado.

— Não se preocupe comigo, pode ir, eu estou bem prometo.

— Vem Selena – ela pegou nos meus braços tentando me levantar – Vamos tomar um banho e te levarei a um hospital em seguida para tomar alguma coisa.

— NÃO, todo mundo me conhece aqui, todos os médicos me conhecem aqui, eu não posso sair, não posso ser vista ainda

— Tá bom, apenas tome banho, vou até a farmácia comprar algum remédio para curar a ressaca que você deve estar sentindo.

Entrei no chuveiro, enquanto minha cabeça doía devido ao tanto de álcool que eu ingerir na noite passada, eu só conseguia pensar o tanto de coisa que eu já passei durante esses meses, a vida é uma loucura, você acha que esta bem, você acredita que você é feliz, até algo aparecer e mostrar que tudo que você vivia era uma mentira, eu estava cega com tanto amor falso, acreditava que as pessoas me amavam me convenci que queria ser líder de torcida, que queria ser presidente estudantil, pois são pessoas respeitadas, não são? Todo mundo ama essas pessoas, elas estão sempre nas melhores festas, estão sempre acompanhadas de muitas pessoas, nunca estão sozinhas, isso é uma ilusão, tudo isso é uma ilusão, essas pessoas somem assim que você perde seu posto, então você se da conta que esteve sempre sozinha.

Paro para recordar os momentos que eu sentir que era realmente feliz, mas felicidade de verdade, como quando minha mãe me levou ao seu primeiro desfile, eu pude ver todas aquelas modelos que apenas assistia pela tv pessoalmente, no dia que foi a família inteira para a praia, eu e José sentados na areia construindo um castelinho de areia, Amanda e Brit na minha casa nas nossas noites de festas de pijama, onde apenas brincávamos de guerra de travesseiro, comíamos besteiras e riamos a noite toda, de repente veio os momentos com ela na cabeça, mesmo que eu não queira admitir, mesmo que eu queira esquecer, eu não posso negar o quanto eu me sentia feliz ao lado dela, ela foi o melhor erro da minha vida, se foi castigo ou um presente não sei dizer, mas ela me fez perceber coisas que ninguém faria, hoje eu posso dizer que eu sei o que é amar.

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— Eu estou pronta, quero ver meus pais – disse a Alessia assim que ela entrou pela porta.

Olhando o caminho até minha casa, nada havia mudado, as casas ainda eram as mesmas, a Senhora Lurdes molhando as plantas, o Sr Manoel varrendo sua porta, nada parecia ter mudado, mas no fundo eu sei que tudo havia mudado. Sentada no banco do carro criando coragem para descer, Alessia me olhava com o sorriso de sempre, segurando minha mão.

— Vamos Selena, você chegou até aqui. – apenas acenei positivamente com a cabeça

Desci do carro, sentir que todos haviam parado o que estavam fazendo e me encaravam espantadas, ignorei os olhares, respirei fundo e continue caminhando em direção a minha casa, eram meio dia, esse horário normalmente ninguém estaria em casa, nem mesmo José, Alessia abriu a porta com a sua chave,  eu entrei e para minha surpresa todos me aguardavam no sofá

— MINHA FILHA – minha mãe levantou rápido do sofá vindo em minha direção me abraçando em seguida, sentir lagrimas do seus olhos cair na minha roupa, não pude conter as minhas também, não falamos nada apenas continuamos abraçadas

— SELENA VOCÊ ESTA DE VOLTA – José agora se juntava ao abraço, minha mãe deu espaço para que pudéssemos nos cumprimentar melhor, me abaixei e dei um abraço apertado nele, que saudades que eu estava do meu irmão

Mas foi diferente com meu pai, ele estava lá, mas não tinha feito um movimento, ainda não me encarava, não falou nada, apenas continuou sentado lendo seu jornal, sentir minha garganta doer, podia sentir o quanto ele ainda me odiava, ele nunca vai conseguir me perdoar.

— Você esta com fome Selena? Posso pedir para preparem seu prato preferido, ou eu posso pedir sushi para você, ou então te levar para almoçar? Você quer almoçar fora? Podemos ir naquele seu restaurante que você ama – minha mãe falava sem parar.

— Eu estou bem, obrigada mãe

— Você não parece bem, olha como você esta pálida minha filha – ela apertava meu rosto – Você não tem se alimentado bem?

— Você deveria comer alguma coisa Selena – pela primeira vez meu pai falava comigo, sentir meu coração acelerar, não podia conter minha felicidade

— Podemos todos comer juntos, não é?

— Sim, Sim – minha mãe se animava – Vou pedir para encomendar sushi

— Hm mãe, acho que eu prefiro carne, muita carne

— churrasco, vou encomendar o melhor churrasco da cidade para você, suba troque de roupa, você deve estar cansada não é? Seu quarto ainda continua o mesmo, você pode banhar enquanto a comida chega, vou preparar a banheira para você – minha mãe correu para o andar de cima para preparar a banheira do meu quarto.

— Faça o que sua mãe disse Selena – Meu pai me ordenava, apenas acenei positivamente com a cabeça

Subir as escadas, entrei no meu quarto, e ele continuava o mesmo, sentir vontade de chorar ao ver minha cama arrumada, minha tv grande em frente, meu notbook onde selecionava minhas roupas, abrir meu guarda roupa e todas minhas roupas estava lá, arrumadas e cheirosas, meu quarto estava limpo é como se eles estivessem esperando eu voltar, sentir uma lagrima cair do meu rosto, eu pensei que seria diferente, pensei que eles iam brigar comigo e me expulsar de casa, mas fui tão bem recebida, eu amo meus pais.

— Mãe - Chamei assim que ela saiu do banheiro – Desculpa- corri para abraça-la novamente

— Vamos esquecer isso ok? passou, nos te amamos Selena e ficamos preocupados com você

— Me desculpa eu não queria, eu so... – minhas lagrimas começaram a cair sem parar – eu só não sabia o que fazer.

— Vamos conversar sobre isso outro dia, esta bem? Agora tome seu banho, relaxe que eu vou pedir nossa comida.

Deitei na minha banheira e sem perceber adormeci lá, acordei com Alessia me chamando para ir almoçar, sair do banheiro, abrir meu notbook para procurar uma camisola e naquele momento achei isso muito ridículo, é apenas uma camisola, abrir a porta do meu guarda-roupa e eu escolhi manualmente.

Desci as escadas e estavam na mesa todas as pessoas que eu amo, em uma conversa aleatória sobre o que o amiguinho do José tinha feito algo com a professora, minha mãe sorria e meu pai também, assistir aquela cena me deixou feliz é como se nada tivesse mudado, era bom estar de volta.

The heart wants what It wantsOnde histórias criam vida. Descubra agora