II - No rastro.

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Saí daquele vilarejo antes que fosse ainda mais extorquido. Romero o gnomo estava louco para levar o resto de meu ouro embora com seus conjuntos de cela e arreios de preços exorbitantes. Obvio que acabei com a alegria dele, não estava a fim de virar um chamariz para ladrões e salteadores. A ideia era ser discreto até não ser mais possível, optei pelo conjunto mais simples e barato que encontrei.

Peguei a estrada principal fazendo Nevasca manter um galope constante, coisa que ela estava detestando inicialmente. Tive que mantê-la sob controle para que não saísse galopando em disparada sem rumo. Agora minha montaria seguia meus comandos parecendo emburrada, se é que um equino fica emburrado.

Por volta do meio dia senti a estática familiar que as aberturas emitiam. Olhei em volta e a única coisa que se via era a interminável massa verde que era a floresta que cobria toda Iridia. A abertura estava a minha esquerda, teria que sair da estrada e embrenhar-me entre as árvores. Puxei as rédeas e guiei Nevasca para dentro da floresta. Conforme chegava mais perto da passagem Nevasca ficava inquieta. A abertura ficava no meio de uma clareira, não sentia a presença de nenhuma criatura por perto. O lugar estava vazio e silencioso como a cabeça de um ogro.

- Vamos lá garota. – Instiguei Nevasca. Receosa minha montaria avançou devagar, deixei que ela seguisse seu próprio ritmo. Sabia como a energia da abertura a estava deixando inquieta. – Vai ficar tudo bem. – Sussurrei para não assustá-la. Nevasca bufou como se me mandasse calar a boca. – Ok, ok. É isso ganho por ser gentil. – Revirei os olhos. Ao atravessarmos a égua relinchou e sacudiu a crina claramente contente com seu feito. – Muito bem, nunca duvidei que conseguiria. – Melhor eu me apressar e fazer o que vim fazer, já estou conversando com minha montaria.

A abertura trouxe-me para outra floresta, como não levei nenhuma flechada então não fui parar direto na dimensão élfica. Segui em frente esperando chegar a alguma estrada. Diferente de Iridia aquela dimensão era quente e abafada, começava a suar debaixo das roupas. Se não encontrasse nada em vinte minutos iria fazer uma parada. Como uma luz no fim do túnel a estrada finalmente apareceu e a arvores diminuíram, a estrada de terra trazia as marcas de um tráfego movimentado.

- Vamos ver o que essas marcas têm a nos dizer. – Saltei da cela. Alonguei as constas e caminhei um pouco para fazer o sangue voltar a circular. – Isso é bom. – Grunhi satisfeito.

Abaixei-me e analisei as pegadas, marcas de cascos e de rodas. Sem sombra de dúvida uma grande comitiva havia passado por ali a poucos dias. A profundidade das marcas das rodas mostrava que estavam carregando alguma coisa pesada. A constância das pegadas dizia que seus donos estavam em marcha. Sem sombra de dúvida achei os rastros de um dos exércitos que se locomoviam para a dimensão sombria. Aquilo sim que era sorte. As chances de entrar em um combate eram grandes e isso deixou-me em frenesi.

- Certo Nevasca. Hora do almoço. – Se precisasse entrar em lutar não faria isso de barriga vazia.

Retornei para a floresta, afrouxei a cela da Nevasca e deixei que ela pastasse tranquilamente. Sentei-me recostado a uma árvore e comi um sanduiche de queijo e carne seca, não era um manjar, mas serviria. Alimentado bebi um pouco dá água de meu cantil, levantei espreguiçando-me indo até minha égua que pastava tranquilamente por perto. De sua cela tirei um balde dobrável que o Gnomo me deu de brinde, era o mínimo que ele poderia fazer depois de ter me extorquido na maior cara dura. Despejei água no balde e dei para Nevasca beber, coisa que que ela fez em segundos e ficou me olhando pedindo por mais.

- Nananina não moça. Vai ter que aprender a economizar. – Tampei o cantil e guardei o balde. A equina branca relinchou e me empurrou com o focinho nada satisfeita com a porção de água dada a ela. – Não seja malcriada. Se demorarmos a encontrar uma cidade vou procurar um rio e então vai poder beber até sair pelas orelhas. Mas agora precisamos ir. – Apertei a barrigueira dela tomando cuidado para a espertalhona não encher os pulmões de ar só para quando terminar de afivelar liberar o ar e deixar a cela frouxa e assim acabar me derrubando o que seria no mínimo constrangedor.

Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018Onde histórias criam vida. Descubra agora