XIV - Tratado de paz.

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Armei a barraca de Zaniah e com cuidado a coloquei dentro com cuidado. A loba adormeceu profundamente deixando-me em um impasse. Poderia voltar para deixá-la em casa e então voltar e correr o risco de o príncipe elfo voltar com sua palavra, ou resolver o conflito mais rápido possível. As duas opções eram horríveis sem dúvida. De todos os imprevistos que poderiam acontecer, o ferimento de minha aprendiza era o pior. Ainda precisava entender o que aconteceu com ela, poderia usar isso contra o príncipe elfo se caso precisasse.

Minha cabeça girava com inúmeras indagações sem resposta. Forcei-me a focar no que realmente importava agora, estava sendo observado. Sentia a aura dele, era um anão e não estava muito longe. Talvez a solução para meu atual impasse tenha vindo até mim no final das contas. O intruso sem dúvida era um olheiro, estava ali para observar e saber se os intrusos que no caso éramos eu e Zaniah, eram um risco. Anões não são um povo de hábitos sutis, se quisessem atacar já teriam feito isso.

- Sei que está aí espionando. – Não somos inimigos, estamos aqui para acabar com a guerra entre vocês e os elfos. Sou um guardião e preciso falar com seu líder o quanto antes, iria pessoalmente até ele, mas minha aprendiza foi ferida e não irei deixa-la sozinha. – O silencio se fez presente, somente se ouvia o som do vento soprando entre as folhas e pássaros cantando no alto das árvores.

- Prove que é realmente um guardião. Você parece muito mais com um daqueles traiçoeiros orelhas pontudas. Não me admiraria se fosse mais uma das ardilosas armadilhas deles. – A voz grave e retumbante vinha de algum lugar a minha esquerda, no entanto a densa folhagem impedia que localizasse a posição exata dele.

- Mereço isso. – Em uma situação normal rastrearia o anão e bateria a cabeça dele contra uma árvore até que acreditasse em mim, mas no momento não podia arriscar. A contragosto virei-me em direção da voz e procurei por meu colar. Ouvi claramente um ofegar de assombro vindo de um arbusto quando a armadura cobriu cada pedaço de pele de meu corpo e minhas asas abriram-se em minhas costas. – Isso basta para que minha palavra seja aceita?

- Sim honorável filho dos alados. Meu senhor virá vê-lo o mais rápido possível. – Podia imaginar o homenzinho curvando-se desajeitadamente. O som inconfundível de passos se fez presente enquanto o anão corria de volta para seja lá onde fosse seu acampamento.

Bom. Um dos problemas foi resolvido por hora, não havia mais nada a ser feito a não ser esperar. Naquela dimensão já passava do meio dia e o sol brilhava a pino sobre as densas copas das árvores. Enquanto esperava pelo líder anão iria preparar algo para comer, não tardaria para a loba despertar e precisaria se alimentar. Acendi uma fogueira e comecei os preparativos para fazer um ensopado. Não demorou para um aroma agradável se fez presente.

- Orion... – Zaniah murmurou dentro de sua barraca. Deixei o ensopado cozinhar mais um pouco e fui ver a loba. Engatinhei para dentro da barraca encontrando a morena acordada, sua expressão de dor dizia tudo.

- Você está horrível. – Comentei.

- Obrigada por me animar. – A voz sussurrada estava carregada de sarcasmo. – Estou com sede. – Peguei o cantil que estava ao lado dela e o destampei, com cuidado ergui um pouco sua cabeça e derramei um pouco d'água em sua boca. Aos poucos ela bebeu até saciar a sede. – Desculpe por estragar tudo... no final das contas era melhor que eu tivesse mesmo ficado em casa...

- Não vamos começar com auto recriminação. – Tampei o cantil e o coloquei de lado. – Conte-me o que aconteceu.

- Entrei na floresta e tudo estava indo perfeitamente bem, derrubei alguns elfos que estavam escondidos nas arvores. Estava escondida atrás de uma árvore quando fui atingida... não senti a aura dele e muito menos o ouvi e farejei. Só estou viva porque por instinto desviei alguns centímetros e a flecha se cravou em meu ombro. Logo depois alguém mandou que a batalha cessasse e então o elfo saiu do esconderijo e foi embora me deixando lá... ferida... sozinha... fiquei com medo Orion... – A loba desviou o olhar para que eu não a visse chorando.

Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018Onde histórias criam vida. Descubra agora