XX - Confusa.

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Orion estava estranho, não estranho para os parâmetros dele; porque o caçador era naturalmente fora dos padrões. Com certeza esse era o charme dele, no entanto vê-lo mais pálido que uma folha de papel embranco e nitidamente com medo de algo assustou-me. E por mais que estivesse lutando para não transparecer o quanto esse ser meche comigo, não consegui conter a preocupação. A final, desde quando o caçador se assustava com alguma coisa? Se bem que até a noite passada não tinha conhecimento de que ele sabia dançar. Talvez Orion tivesse razão e havia coisas que não sabia sobre ele. Só não sei se quero descobrir.

- Já tomou café da manhã? – A voz profunda e grave do dono de meus pensamentos atualmente tirou-me de meus devaneios confusos.

- Ah... – Forcei-me a olhar aquelas duas pedras quase sem cor que eram os olhos dele. Ainda havia um resquício de emoção mal disfarçada nelas, no entanto havia quase desaparecido e ele voltava ao normal. – Ainda não, vinha justamente ver se já havia acordado para ir tomar café...

- Com você? – Ele interrompeu-me agora subitamente animado.

- Não disse isso. – Estreitei os olhos.

- Ótimo, vou apenas fazer minha higiene matinal e já me junto a você. – Orion levantou-se ignorando-me totalmente e rumou para o banheiro.

- O que raios deu nesse homem? – Manei a cabeça desistindo de tentar entender esse guardião. Era melhor sair desse quarto antes que eu enlouquecesse. Como se já não bastasse ter acordado abraçada a ele. Aquela lembrança fez um arreio subir pela espinha e uma imensidão de sentimentos e sensações retornarem como uma tsunami devastadora arrematando meu interior.

Desci para a taberna que ao contrário da noite anterior estava quase vazia e silenciosa, coisa que agradeci. Precisava de um pouco de quietude para recolocar a cabeça no lugar e os pensamentos em ordem. Será possível que esse platinado só reapareceu para tirar minha paz? Tudo estava indo tão bem até eu salvá-lo. Relutava com todas as minhas forças em admitir o quanto a presença dele me abala ao mesmo tempo que trazia segurança.

Ele é irritante e terrivelmente teimoso, mas foi o único que me aceitou como sou. O único que viu algum potencial em mim, que cuidou e deu abrigo quando não havia mais esperança, foi meu primeiro amor... aquele sentimento adormecido havia acordado e trouxe as reações adversas com ele. Era só o que me faltava, eu em plenos vinte e seis anos agindo como uma adolescente recém saída dos cueiros que cora toda vez que o crush chega perto. Era patético e eu me recusava a passar por isso novamente, Orion é bonito e me tira do eixo, mas não teria o coração partido novamente devia isso a mim mesma. Conhecia muito bem a sensação e não estava a fim de repetir a dose.

Sentei-me na mesma mesa em que jantei e esperei pela refeição, que não demorou a ser servida. A dona da taverna colocou a minha frente uma jarra com leite junto com duas canecas, um pão quentinho, fatias do que parecia ser de presunto e para completar um bolo de milho muito cheiroso. Salivando tirei um pedaço generoso do pão e sem me importar com quem estivesse perto coloquei tudo na boca esquecendo minhas boas maneiras estava faminta demais para pensar educação. Orion escolhei aquele exato momento para dá o ar da graça. Despreocupado caminhou até onde eu estava, ele fitou-me sem nenhuma descrição antes de sentar.

- Algumas coisas não mudam. – Ele comentou e serviu-se do leite.

- O que... – Forcei o pão a descer goela a baixo quase engasgando no processo. – Quis dizer?

- Eu nada. – Ele se fez de inocente. Mas o sorriso zombeteiro dizia justamente o contrário. Esse guardião não foi inocente nem quando nasceu. – Podemos seguir viagem hoje.

Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018Onde histórias criam vida. Descubra agora