Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018

X - A loba e o caçador.

Gostava de visitar a dimensão de ferox, porque era uma das poucas dimensões que permanecia intocada, selvagem como em seus primórdios quando os primeiros seres vivos começaram a surgir. Ia para aquelas terras quando precisava fugir um pouco das modernidades terráqueas e para conseguir flechas de boa qualidade. Os povos guerreiros daquela dimensão faziam as melhores, e o melhor de tudo é que eles são discretos. Não fazem perguntas desnecessária e não são bisbilhoteiros, vendem o que tem de vender e pronto. Simples, rápido e sem complicações.

Depois de comprar o que queria de um fornecedor conhecido, resolvi dá uma volta pelo único mercado da dimensão. Os habitantes dos diferentes povos que viviam naquela dimensão iam ali para trocar, e conseguir mantimentos que a floresta não lhes dava. Era o único lugar que inimigos declarados não brigavam, conviviam em harmonia, o mercado era como se fosse uma área neutra. Alguns refugiados que não tinham para onde ir se abrigavam também, era comum esbarrar em alguns maltrapilhos que ocasionalmente pediam esmola. O Mercado também abrigava o único orfanato de toda a dimensão então era fácil encontrar crianças correndo por entre as barracas.

Parei em uma barraca para apreciar um belo entalhe de uma lança, quando ouvi um burburinho não muito longe. Gritos enfurecidos misturavam-se a um choro copioso, eu poderia deixar para lá se a dona do choro não fosse uma criança. Suspirei resignado e deixei a lança de lado e fui ver que algazarra era aquela. Andei pouco metros até encontrar uma roda de homens e mulheres bastante zangados, que proferiam insultos para alguém no meio da roda. Mesmo sendo mais alto que todos ali, não conseguia ver quem era o alvo de tanta raiva. Sem escolha abri as asas, e sobrevoei a pequena multidão irada. No centro do círculo se encontrava um homem parrudo e uma garotinha que ele segurava pelo braço com brusquidão.

- Vou te ensinar a não roubar mais. – O homem tirou um cutelo que trazia no cinto e segurou a mão da menina com a outra.

- Por favor não... – Ela soluçou apavorada. Sabia muito bem o que aquele brutamontes queria fazer. Em ferox o ladrão que tivesse o azar de ser pego com a boca na botija tinha a mão direita decepada para servir de sinal, qualquer um que faltasse aquele membro era reconhecido imediatamente como sendo alguém que foi pego furtando. Em circunstâncias normais não interferiria, no entanto era visível que aquela menina vivia nas ruas e roubava para sobreviver, e visto sua magreza era obvio que ela não era muito boa nisso.

- Já chega! Solte a menina. – Minha ordem reverberou pelo mercado. Todas os presentes olharam para cima. O burburinho de raiva deu lugar ao espanto.

- Não se meta em nossas leis guardião. – O homem brandiu o cutelo desafiador.

- Não foi um pedido. – Abri a mão direita, imediatamente na palma se formou uma massa de ar congelada. – Foi uma ordem. – Lancei o raio gelado em direção ao cutelo que se congelou instantaneamente.

- Ah! – Assustado ele deixou sua arma improvisada cair.

- Não vou repetir. – Preparei outro ataque. A menina aproveitando que seu carrasco estava distraído soltou-se dele e correu, a vi esconder-se atrás de um amontoado de barris.

- Tudo bem guardião, mas fique sabendo que se pegar aquela pestinha roubando novamente, ninguém irá salvá-la. – O homem pegou o cutelo congelado e foi embora resmungando. Pouco a pouco, os que assistiam a cena fizeram o mesmo desapontados por não terem seu espetáculo horrendo.

Recolhi minhas as asas e pousei. Andei tranquilamente até o esconderijo da pequena ladra. Espiei por cima dos barris a encontrando abaixada e tremendo como vara verde enquanto tapava os ouvidos com as mãos. Meu plano inicial era tirá-la daquela dimensão e levá-la para outra, onde não corresse o risco de ter algum membro decepado. Iridia seria um bom lugar, Genoveva a anã poderia ficar de olho nela; no entanto algo chamou minha atenção.