XXIV - Entre garras e caninos.

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Sabia que retornar para meu clã não seria a melhor das experiências, mas o desprezo de meu pai superou todas as expectativas. Senti-me a menor das criaturas sob o olhar dele, mas não podia simplesmente baixar a cabeça. Eu não era mais aquela garotinha assustada que ele abandonou em uma floresta escura a mercê de predadores sanguinários, faria questão de mostrar isso a ele e a todos os lobos daquele clã. Iria vencer aquele desafio por mim e para honrar a confiança que Orion estava depositando em mim.

O caçador me confundia isso era um fato, mas também me trazia segurança. As mudanças que ele sofreu serviram para externar o caráter e a generosidade que ele permitia a poucos de verem. Seguiria viagem com ele para conhecer ainda mais dele, mesmo que isso significasse tirar da tumba certos sentimentos. Talvez as coisas pudessem ser diferentes agora, estávamos mais maduros e experientes ou eu estava apenas procurando por motivos para iludir-me novamente. De qualquer forma, deixaria isso para mais adiante. Agora precisava descobrir o que o velho alfa tinha para mim.

Segui Orion para o centro da aldeia, onde os habitantes começavam a se reunir a espera do pronunciamento de seu líder. Passei sem muita cerimonia pelas pessoas que se acumulavam em frente à barraca do alfo até que chegasse ao centro e assim pudesse ver e ouvir o que seria dito ali. Duas sentinelas guardavam a entrada da tenda a espera do líder, parece que a idade deixou meu pai mais cauteloso. Em minha infância nunca o vi recorrer a esses recursos, meu pai sempre se julgou capaz de se defender sozinho. Talvez temesse que depois de perder sua sucessora qualquer um pudesse tentar matá-lo para tomar a liderança para si, o que seria bem provável.

Mais uma vez a trombeta soou e alfa saiu de sua tenda acompanhado de sua companheira. Minha mãe estava com o semblante tomado pela tristeza e pela dor e quando seu olhar cruzou com o meu novamente quis ir até ela e abraçá-la, mas me contive. Meu pai não deixaria que eu me aproximasse de minha mãe, precisaria vencer aquele desafio.

- Meu povo. – Ele começou solene. – Os convoco aqui nessa tarde porque o desafio do clã foi exigido. – Murmúrios de espanto encheram o lugar. Todos se perguntavam que era o exilado que desejava retornar para a alcateia. – E como a lei decreta, o desafiante deve enfrentar um guerreiro de minha escolha. Os dois se enfrentarão em uma luta onde o vencedor será aquele que matar ou fizer seu adversário se render. – Senti os olhos de Orion em mim, ele não sabia do que esse desafio se tratava e com certeza ele iria querer algumas explicações. – Escolhi Ulfric, o melhor guerreiro que esse clã já viu. O único sobrevivente da fatídica noite em que nossos filhos foram mortos por lobos inimigos. – Engoli em seco sabendo de quem se tratava, o lobo que conseguiu voltar para casa e avisar o que havia acontecido. Sabia exatamente o que meu pai queria, ele me faria lutar com aquele que espelhava o ideal de lobo que ele almejava, aquilo que eu deveria ter sido. Meu pai queria me humilhar, fechei os punhos com força fazendo as juntas estalarem. – Os dois oponentes têm meia hora para se prepararem, escolham suas armas e retornem para esse local. – O alfa finalizou seu discurso e antes de retornar para sua tenda lançou-me outro olhar de desdém. Minha mãe abaixou a cabeça consternada e seguiu o marido.

Rapidamente os lobos da alcateia de dispersaram cochichando e fazendo indagações tentando descobrir quem era o louco que exigiu o direito ao desafio. Nenhum prestou atenção em mim, ou se perguntar quem eu era e o que estava fazendo ali. Menos mal, não precisaria ouvir suposições a meu respeito. Daria as respostas a eles quando chegasse o momento, agora precisava ouvir um sermão do caçador que me olhava fixamente. Ele esperou até que não houvesse mais ninguém por perto, seus olhos glaciais pareciam ainda mais frios. Não havia raiva ou ressentimento neles e sim preocupação. Ele detestava não saber de tudo, isso era um fato.

- Porque não contou que o desafio era lutar até a morte com um lobo cabeça oca? – O platinado cruzou os braços indignado, não deveria ser engraçado, mas era.

Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018Onde histórias criam vida. Descubra agora