VII - Laços.

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Poucas vezes em minha longa existência fui surpreendido; na verdade podia contar nos dedos de uma mão todas essas vezes. Naquele dia o suicídio das duas guerreiras harpias entrou para essa pequena lista, esperava qualquer coisa delas; mas tirar a própria vida não era uma dessas coisas. Elas eram um povo orgulhoso, preferiam perder a vida em uma batalha do que tirá-la com as próprias mãos. Esse ato era um verdadeiro sacrilégio.

Mil e um pensamentos rondavam em minha cabeça como se fossem um enxame furioso de abelhas prontas para picar. E a grande maioria desses pensamentos eram sobre esse tal preferido, que tragicamente descobrir também ser conhecido como cavaleiro negro. Tinha acabado de colocar um novo item em minha lista de prioridade, primeiro iria alcançar esse contingente que marcha por essa dimensão, depois iria atrás desse cavaleiro negro; se ele não me achasse antes. Essa possibilidade existia caso ele for realmente tão perigoso quanto faz parecer ser.

Mas naquele momento iria me encarregar de sepultar as três harpias, a que atingi com minha flecha congelante também não teve salvação. A seta a atingiu no peito congelando instantaneamente seu coração. Cavei as três covas uma ao lado da outra ao pé de um salgueiro perto de onde elas estavam acampadas. Eu não precisava fazer isso, sentia uma verdadeira antipatia por aquela espécie; no entanto eram guerreiras e como tal mereciam respeito. Ao terminar aquele trabalho mórbido estava suado e sujo. Queria desesperadamente me lavar e tirar toda aquela sujeira de mim.

Deixei os três túmulos para trás e fui a procura de Nevasca. Corri mantendo a mesma cautela de antes, não era porque as mulheres ave foram derrotadas, que eu poderia baixar a guarda. Não sabia que outras surpresas estariam à minha espera naquela floresta desconhecida. Ao chegar onde havia deixado minha égua, ela fez questão de me farejar e sem nenhuma cerimônia bufou na minha cara mostrando seu descontentamento. Sem sombra de dúvida precisava de um banho urgente.

Cavalguei por entre as árvores procurando por qualquer indicio de água, poderia até ser uma poça desde que desse para eu me lavar. Me contentaria com um simples banho de gato. Parecia que havia passado horas de procura e começava a perder a esperança quando captei o som familiar de uma queda d'água. Segui o barulho até encontrar uma cachoeira. A queda d'água era de mais ou menos de dois metros de altura, o lago em volta era de uma água tão cristalina que era possível ver os peixes nadando no fundo.

Venci a vontade de mergulhar de imediato e primeiro fui dá atenção a minha montaria. Afrouxei a cela, tirei os arreios e servi uma generosa porção de milho. Enquanto ela se fartava escovei os pelos brancos, só parei quando os deixei brilhando, com essa tarefa cumprida me livrei de minhas roupas imundas. Teria que lavar essas e outras que já troquei antes que ficasse sem nenhuma muda de roupa limpa, e o odor delas trouxesse meus inimigos até mim, podia até estar exagerando, mas nunca se sabe. Tudo é possível.

Mergulhei na água naturalmente morna e nadei até que aquela água imaculada levasse embora toda a sujeira que estava em mim. Voltei a superfície quando meus pulmões gritaram por oxigênio, ao imergir suguei uma grande quantidade de ar, a sensação de alivio preencheu cada célula de meu corpo. Sacudi os cabelos e abri os olhos. Ouvi risinhos não muito longe de onde estava, senti uma presença muito próxima de onde estava. Se fosse inimigo eu estava em desvantagem, pelado e desarmado.

Olhei em volta a procura do intruso. Avistei uma garota sentada em uma pedra no pé da cachoeira. Estreitei os olhos tentando identificar que criatura era aquela e em que tipo de encrenca estava prestes a me meter, ela tinha longos cabelos negros enfeitados com raminhos que cresciam na beira do lago, vestia um vestido verde que me parecia ser feito da mesma vegetação que crescia no fundo do lago. Soube o que ela era quando mergulhou a mão na água e essa se misturou com o liquido. Era uma hidríade, ninfa das águas. Desde que eu não perturbasse o ecossistema, não poluísse essas águas ela seria inofensiva.

Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018Onde histórias criam vida. Descubra agora