IV - Grande herói.

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Depois que os minotauros foram derrotados o vilarejo entrou em festa, cada habitante fazia questão de demonstrar sua gratidão mesmo eu usando minha cara de tanto faz, eles não se intimidaram com minha indiferença. Como resultado depois de tirar minha montaria de seu esconderijo e acomodá-la no estábulo, fui obrigado a entrar na comemoração. Agora eu me encontrava na taverna do vilarejo que não cabia mais um alfinete e mesmo assim eles teimavam em colocar mais gente. A música tocava sem parar enquanto bebida e comida pareciam brotar do chão. Instintivamente refugiei-me na mesa mais escondida e discreta que havia por ali. Perdi as contas de quantas vezes me esquivei de abraços e demonstrações de afeto efusivas. Parecia que estava preso em um pesadelo que não conseguia acordar.

Puxei o capuz sobre a cabeça aproveitando-me para camuflar-me nas sombras, enquanto houvesse bebida, comida e música a festa duraria. Enquanto isso teria que esperar o momento propicio para sair dali. Por enquanto bebericaria a cerveja sem álcool que colocaram em minha mesa e belisca o pedaço generoso de carne assada no prato a minha frente. Segurei a caneca pela aseia com a destra e toquei o fundo do objeto com o indicador e usei meu dom para deixar a bebida gelada. Tomei o primeiro gole apreciando meu bom trabalho.

Encostei-me na parede de pedra começando a viajar em meus pensamentos. Tinha algo me incomodando, os Miotauros que enfrentei hoje eram de longe os mais despreparados que já havia enfrentado. Claro que em grupo eles metiam medo e faziam bastante estragos, mas sozinhos foi como abater cordeirinhos. Isso me fazia deduzir que esses exércitos sequer foram treinados. Acrab estava contando com a quantidade não com a qualidade e tem esse tal preferido. Que ser será esse que amedrontou um brutamontes com chifres com a força de um trator. Seja lá quem fosse, gostaria muito de encontra-lo, pode ser que seja um oponente respeitável.

Fui tirado de meus pensamentos pelo estrondo da porta da taverna sendo aberta. A força usada fora tanta que pensei que um bicho selvagem havia invadido o lugar. Levantei a cabeça para ver quem era o recém-chegado. Não era um bicho, mas parecia um. O sujeito parecia que desconhecia algo chamado fazer a barba, ele lembrava um personagem de um desenho animado antigo...Brutos do Popeye. O sujeito olhou em volta com cara de poucos amigos e pela forma que era olhado de volta o sentimento era reciproco.

- Então? Não vou ser servido? – Ele trovejou. A contra gosto alguém entregou-lhe uma caneca. – Onde está o nosso herói? - Carrancudo o brutamontes olhou em volta. Um a um olharam para onde eu estava. Será possível que esse pessoal não sabe o que é discrição? – Aquele varapau platinado? – Ele riu alto. Me limitei a encará-lo ponderando se partia a cara dele logo ou esperava mais alguma asneira. – Só pode ser uma piada. – Ele continuou rindo.

- Cale a boca Kristen! – O taverneiro bradou. – Onde você estava a proposito? Tremendo debaixo da cama?

- Cale-se Knut. Vocês são ingênuos demais para perceberem quando estão sendo tapeados? Quanto que o forasteiro já cobrou pelo servicinho? – Certo, quebrar a cara dele não vai ser suficiente. – Não acham esquisito que poucos dias depois que aqueles monstros invadem nosso vilarejo esse forasteiro chega?

- Ele matou os monstros seu tolo. – Alguém gritou dentre os que estavam presente.

- Exatamente e agora pode ficar com o dinheiro que vai tirar de vocês só para ele. – Já chega. Peguei uma flecha e a coloquei no arco. – Ah! – O tal do Kristen berrou e desabou no chão segurando a perna. Minha flecha atravessou a panturrilha dele. Levantei e caminhei sem pressa até ele.

- Um conselho. – O olhei de cima. – Antes de sair por aí insultando, levantando hipóteses, sugiro que saiba de quem e com quem está falando porquê da próxima vez pode ser que não tenha sorte de acabar apenas com uma flecha na perna. – Segurei a haste e sem dó puxei de uma só vez. O fazendo gritar a plenos pulmões. – Só mais uma coisa. – Limpei a ponta afiada da flecha e a coloquei na aljava. Ele tinha sorte que não tinha usado uma das minhas de ponta dentada, aquelas sim faziam um pelo estrago de fossem puxadas pela haste. – Você tem nome feminino caso não saiba. – O riso foi geral abafando o som das lamurias do grandalhão.

Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018Onde histórias criam vida. Descubra agora