VI - Fúria Alada.

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Deixei o troll arrumando a bagagem e segui a fada Áurea, não fazia ideia qual era o tipo de bagagem que um troll carregava, no entanto aquela era o tipo de pergunta que era preferível ficar sem resposta e eu tinha uma questão mais urgente para tratar. Áurea estava tão furiosa que poderia muito bem tentar me enganar, claro que seria um péssimo negócio que faria questão de lembrar ela se tentasse alguma gracinha. Retornamos para dentro da barreira encantada onde era sempre dia. A fada sentou-se em um trono feito de madeira de cipreste cuidadosamente esculpido. Ela estalou os dedos e imediatamente uma dupla de garotas trouxe uma caixa de madeira muito bem ornamentada.

- Aproxime-se guerreiro. – Áurea ordenou, não lembrava nem um pouco a fada educada de poucos minutos atrás. Nada como o orgulho ferido para revelar a verdadeira natureza de alguém. – Apesar de não ter matado o Troll, trato é trato. Aqui está o recipiente que pediu. – Ela abriu a caixa revelando uma garrafa feita inteiramente de cristal. – O ácido do fruto da meia noite não irá corroer.

- Excelente. – Peguei a caixa. – Foi bom fazer negócio com você Áurea.

- É uma pena que seja tão teimoso, preciso de um guerreiro forte ao meu lado e um guardião seria a escolha perfeita. – Será possível que essa mulher não desiste?

- Sinto muito senhora, mas vai ter que achar outro candidato ao cargo. Acasalar com fadas não está na minha lista de prioridades.

- Ora seu insolente... – O ultraje na voz dela até seria convincente se não fosse a malicia em seus olhos. – Você prefere o troll. – Olha quem está mostrando as garras.

- Não, prefiro alguém confiável. – Fechei a caixa. – Meu trabalho foi feito, se me dá licença preciso prosseguir viagem. – Virei as costas para a fada irada. Não sabia se tinha feito uma inimiga ou deixado ela mais instigada a continuar me perseguindo. Preferia que fosse a primeira opção, não precisava de uma doida para casar atrás de mim.

Já ansioso para sair de perto das fadas montei em Nevasca e embrenhei-me na floresta escura banhada pela noite. O troll estava à minha espera na entrada de sua caverna, ele trazia no ombro um tronco e na ponta estava amarrada uma trouxa do tamanho de uma abobora gigante.

- Finalmente guerreiro. Pensei que as fadas o tivessem feito prisioneiro. – A risada do Troll parecia mais uma tosse rouca.

- Não foi por falta de vontade. – Bufei. – Pode ir na frente senhor troll.

- Meu nome é Bernard. – É impressão minha ou ele acaba de me repreender? – E Tem certeza que não vai tropeçar no escuro?

- Não se preocupe comigo apenas ande. – Ele apenas deu de ombros e fez o que pedi.

Enquanto isso abri minha bolsa de acampamento e de lá tirei um bastão fluorescente. Era outra invenção terráquea que merecia meu respeito. Dobrei o bastão ao meio nos dois sentidos até que uma luz verde fluorescente amarela surgisse, segurei com a mão esquerda a cima da cabeça para iluminar o caminho para Nevasca poder ver o caminho. Eu via perfeitamente, mas minha montaria não e não iria correr o risco de ela tropeçar e se machucar.

A viagem estava sendo da forma que eu apreciava, no mais perfeito silencio. O único som ouvido era os das aves e animais noturnos entretido em seus afazeres. Sentia-me quase em casa, só faltava o frio de congelar o coração característico da Sibéria. A noite estava fria, mas nada que não fosse suportável, minha capa fazia muito bem seu trabalho de me manter aquecido. O silencio era propicio para pensar e novamente o tal do preferido do Acrab voltou a rondar minha mente.

Desde quando um monstro inescrupuloso como aquele renegado patife tem um preferido? E se isso for realmente verdade, esse sujeito pode ser pior que Lesath. Tal pensamento acendeu minha ansiedade, meu irmãozinho cuidou do escorregadio guardião e agora ele está preso e sem poderes em algum lugar secreto que os conselheiros escolheram, não que isso seja motivo para algum alivio.

Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018Onde histórias criam vida. Descubra agora