O grupo que eu perseguia não esperava por um ataque pela retaguarda, a final estavam seguros que a estratégia adotada por eles não fora descoberta. Era sempre um erro ficar superconfiante. Mesmo não achando que corriam risco deixaram alguns homens para trás por precaução, não eram tão tolos a final. Mal sabiam que ao fazerem isso me deram meu plano de ataque. Iria causar baixas na retaguarda até encontrar com o contingente principal, aí então instalaria o caos nas fileiras inimigas atacando em horários diferentes fazendo com que a desordem os enfraquecesse até que se dispersassem. Sorri mentalmente diante da imagem quem se formava em minha cabeça. Sim, seria divertido.
- Com todo respeito senhor, mas ir até lá sozinho é suicídio... aquelas criaturas... – O murmúrio pesaroso de Ramon tirou-me de meus devaneios.
- Quer ver seu povo livre ou não? – Arqueei uma das sobrancelhas. - No momento sou sua única opção. – Ramon fitou-me por longos segundos antes de assentir dando-se por vencido.
- Não precisa vir comigo. Só diga-me que criaturas são essas. – Já havia descartado os vampiros, eles não se arriscariam a virar torresmo debaixo do sol escaldante dessa dimensão, eles se consideravam superiores demais para correr tal risco.
- Tudo bem... São uma mistura de homem com cabeça de boi... – O homem remexeu-se desconfortável.
- Minotauros! – Minha animação o assustou. – Isso fica cada vez melhor. – Eles não são lá muito inteligentes, mas são ótimos oponentes.
- Isso é bom? – Ramon olhou para mim como se eu fosse louco.
- Sem dúvida. Qual graça teria se eu acabasse com eles facilmente? – Ponderei, ele continuou olhando esquisito para mim. – Continue, diga-me que outras criaturas faziam parte desse exército.
- Monstros verdes, grandes com largura de um barril e muito fedorentos.
- Ogros. Temos ogros e minotauros no mesmo time, com sorte eles vão acabar se matando antes de chegar ao destino final, mas como não acredito em sorte, eu mesmo farei isso acontecer. – Sim, isso ficava cada vez mais empolgante. – Isso é suficiente. Termine seu jantar e depois vá dormir está tarde.
Fiquei acordado pensativo mesmo depois que Ramon adormeceu. Bolava mil e uma maneiras de invadir o vilarejo e derrotar os invasores; no entanto em cada uma encontrava uma falha. O que fazer com os derrotados? Sim, porque se os deixasse ir era certeza que dariam um jeito de avisar os outros o que aconteceu acabando assim com o elemento surpresa. A pesar de tudo sou um guardião e temos nosso código de honra que não nos permite matar nem a pior das criaturas se não for por legitima defesa ou para salvar outras vidas. Talvez essa situação se encaixe na segunda opção, se bem que não seria a primeira vez que quebraria essa regra e nem seria a última. Decidido no que faria resolvi aproveitar as poucas horas de escuridão para dormir.
Na manhã seguinte comecei a desfazer o acampamento, lavei a panela suja de ensopado no rio passando cascalho no fundo para retirar a fuligem escura onde o fogo aqueceu o alumínio. Ramon parecia um novo homem depois da boa noite de sono e estava pronto continuar sua fuga, ele não escondia sua descrença em mim e parecia contar com minha morte. Pobre tolo de pouca fé.
- Vai mesmo fazer isso senhor? – Ramon questionou pela terceira vez desde que comecei a desfazer o acampamento. Limitei-me a grunhir, ele podia entender como quisesse. – Ainda acho perigoso e suicida, mas estarei intercedendo aos deuses do meu povo para que o recebam com honras no pós vida.
- Com todo respeito Ramon; se não calar a boca quem vai para o pós vida é você. – Apertei a barrigueira da cela e subi em seguida. – Diga-me como chegar a seu vilarejo – Pedi sem paciência.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Guardiões. - Orion. O caçador. #Cte2018
Fantasy#RaposaDeOuro Orion. O misterioso e letal guardião é uma muralha de gelo intransponível em vários aspectos. Ninguém em toda sua existência foi capaz de ultrapassar essa barreira e o platinado orgulhava-se disso; porém muita coisa mudou e ele irá tra...