Capítulo Nove

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"Há pessoas que tanto falam de si mesmas que acabaram perdendo a capacidade de escutar o outros."

- Roberta Pardo | RBD 

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- Alô - Haiza atendeu ainda sonolenta, não conferiu o horário, mas tinha certeza de que era muito cedo para receber uma ligação.

Ainda sentia as dores no corpo, do cansaço pelo excesso de trabalho e das horas extras que passara com amigos. Seu irmão Hashid era advogado e lhe havia aberto os caminhos para o emprego.

 Não demorou, depois que chegou a França e logo se inscreveu em um curso complementar a sua formação na faculdade, sentia a necessidade de ocupar a mente com algo.

A França não era como no Egito, o apartamento era espaçoso, mas não com trabalho o suficiente para lhe fazer esquecer as memórias que lhe fizeram ir parar ali. 

Hashid foi compreensível e motivador a incentivou a estudar e nunca pressionou. Com o tempo a dor se anestesiou, mas não desapareceu por completo.

Dois meses foi o tempo que levou para contar a seu irmão, que para surpresa de Haiza não esboçou qualquer reação, Hashid confessou que tinha quase certeza da razão pelo qual não sorria mais com a mesma frequência.  E alegou que o resto do mundo não enxergava a situação com critica.

Era estranho conversar com seu irmão sobre ter se entregado a outro homem, Mas eram só ele e ela agora, com quem mais iria desabafar? quem lhe ajudaria a se reestruturar ? Hashid tinha lhe aceitado sem julgar, havia sido criado na mesma tradição que ela, porém sempre teve uma visão a frente e não gostava de viver limitado. 

Levou mais um mês para que Haiza se acostumasse com os lugares que seu irmão a levava para se "ambientar"com o mundo exterior, a fumaça, o barulho alto, o intenso Zig Zag em espaços muito movimentados, pubs, cafeterias, casas noturnas.

- Não está mais no Egito, minha flor de Jasmin, não tenha reservas, viva ao menos um pouco. Tenha novas experiências. - Hashid lhe dizia.

Tudo era diferente, as pessoas falavam diferente, se comportavam diferente, se moviam diferente, por mais que não se sentisse "ambientada" Haiza se acostumou com o fluxo do novo mundo.

A rotina entre o trabalho e o curso não lhe dava tanto tempo para sair como seu irmão, mas tinha aprendido a apreciar alguma horas depois do expediente conversando com os colegas em algum barzinho irlandês que exala um forte odor de cerveja.

Essas horas a mais se divertindo haviam deixado com dores por toda a parte do corpo e nem mesmo abriu os olhos ao atender o telefone.

- Haiza?! que voz é essa? O que aconteceu está bem? - a voz de Ísis soava absurdamente estridente do outro lado.

- Estou Ísis! só com dor de cabeça. Que horas são, porque está me ligando agora?

As ligações de Ísis eram frequentes desde que partira a meses atrás. A amiga de berço, nunca a deixou, relatava sempre sobre a mãe e sobre os senhores Mourrack. 

- Estás bêbada? 

- Não, foi apenas uma horinha depois do trabalho ontem. Música alta, tive que gritar pra manter algum dialogo. Não lembro de ter bebido nada, Ainda não me acostumei com bebidas. 

- Já faz um ano...

- Eu sei, mas estou bem. Realmente Ísis. tenho trabalhado e feito amizades, eu tenho feito algo na vida, não se preocupe.

- É bom saber, mas eu liguei por outra coisa na verdade. - Ísis fez uma pausa. e Haiza aproveitou para tentar fazer a cabeça parar de latejar com uma massagem - Eu preciso de você Haiza. 

HaizaOnde histórias criam vida. Descubra agora