Capítulo Dois

5.4K 471 52
                                    

"Há mulheres raras, que não se conquistam com promessas ou migalhas.
Que voam mesmo que tenham as asas magoadas, por que nasceram para ser livres. Há mulheres raras, que se comunicam com olhares.
Que sabem ser amigas nos bons e maus momentos.
Que merecem tudo sem precisar de tanto."

Autor: Geffo Pinheiro





A mente funcionava como queria, tinha vida própria, os pensamentos tomavam o próprio rumo independente de o quanto nos esforçamos para manter o foco. Rashad ultimamente possuía grande dificuldade para manter a concentração, quando menos esperava os caminhos de sua mente o levavam a encarar aqueles olhos esverdeados.

se fechasse bem olhos poderia visualizar com perfeição as curvas dos lábios que secretamente ansiava em provar, a pele morena que parecia reluzir aos seus olhos estava gravada em seu consciente.

Os dias correram e em nenhum deles Rashad deixou de pensar em Haiza. Tentou com afinco desviar o rumo que sua mente insistia em cursar, mas foi em vão.

Um sorriso singelo surgia em seus lábios toda vez que lembrava da doçura no semblante Moreno. E sorrateiramente seu coração o induzida a imaginar-la no lugar de Maibe.

O que seria de sua vida se tivesse  conhecido Haiza antes? Maibe não era tão sutil, espontânea ou.. livre. Rashad achou que essa palavra a definia bem, liberdade era como uma sala reservada onde só quem possuía uma tarja especial poderia entrar. 

Passou parte de sua vida almejando ser livre... livre de responsabilidades indesejadas, livre de obrigações que nunca pediu, livre de um senso de dever que não era seu. Lembrou de quando era jovem, ainda antes de sua fase adulta. Afoito por viver a vida do modo como queria, mas sempre sendo impedido. A frustração de se ver sempre diante de um muro, no qual nem ao menos conseguia rachar, o fez apenas Desistir.

Desistiu de lutar por isso, pela vida que queria, que sonhava. A sua vida não era diferente dos demais, nada iria mudar. Iria seguir a tradição e viver da melhor forma possível que as leis que regem o homem possa permitir.

As vezes achava hipocrisia o pensamento de que não tinha a vida que queria. muitas pessoas não tinham nem a metade do que ele tinha. Não era a pessoa mais rica do Egito, porém sua família era abastada e era bem nascido.

O destino parecia brincar com a vida tornando-a irônica. Pela lógica social os bem nascidos possuíam mais poder sobre sua liberdade, Haiza não vinha de uma família de poder e parecia ter tudo o que ele sempre sonhou.

Procurou afastar novamente tais pensamentos, não poderia passar tanto tempo pensando em uma mulher que mal conhecia, ela não era Maibe e duvidava que algum dia sequer chegasse a parecer com ela.

Não que desgostasse da mulher, todavia também não ansiava estar em sua companhia assim como agora ansiava com a imagem da morena. Como estaria vestida? Iria lhe reconhecer? Iria lhe sorrir da mesma forma doce e corar para ele como antes?

Suspirou incapaz de vencer uma pequena parte do seu corpo, o cérebro parecia ter mais força de vontade em lhe impor pensamentos  impróprios, do que as mãos em terminar um simples nó de gravata. 

Hoje era a cerimônia de casamento entre os Dahab e Mourrack, o convite havia sido estendido a algumas pessoas da presidência, o bom nome de sua família lhe servia para algo, afinal. Após quarente e cinco dias vivendo aquele conflito de pensamentos, encontraria Haiza novamente.



Sem ao menos desconfiar que seus pensamentos eram partilhados, Haiza viajava pelas páginas de uma das obras de As mil e uma noites ,  imaginado o quanto complicado e sorrateiro poderia ser o amor. Era adulta e madura o suficiente para entender que as estórias de seus livros não passavam de belos contos, mas gostava de acreditar que o amor de verdade não machucava, gostava de acreditar que toda história poderia ter seu toque de verdade. Amar era assim tão impossível? tão difícil? 

Os livros contavam tantas contradições e complicações, contudo final feliz era garantido.  A vida não se distanciava muito disto, todos tinham a parte difícil e a fase ruim em suas vidas, porém em algum momento alcançam alguma felicidade seja em qualquer área que fosse. Ninguém vivia infeliz ou feliz para sempre. Todos vivem do conjunto desses momentos. 

E era essa esperança de que tudo um dia passava que a fazia sorrir sempre e esperar pelo melhor.

Fechou o livro contra gosto e se posicionou diante do espelho soltando os bobes de cabelo que sua mãe havia prendido, para dar ênfase a leves ondas naturais de suas madeixas de ébano. A mãe, Zaara Saad insistia, para que se apresentasse adequadamente em todas as ocasiões sociais que frequentava com o Mourrack, segundo ela, isto melhoraria as chances de um bom casamento.

Senhora Hamadi respeitava a atitude de Haiza em querer esperar que alguém lhe despertasse o amor, mas Haiza sabia que secretamente ela também desejava lhe arrumar um bom casamento.  No ano em que finalizou a faculdade, este havia sido o assunto da vez, sendo abafado apenas pelo casamento de Ísis. 

Pensar na amiga a fez voltar a si e terminou de se arrumar, talvez alguém estivesse precisando de ajuda, enquanto estava ali viajando em seus pensamentos romancistas. 


A cerimonia era pela manhã e tudo correu como o esperado. Haiza andava discretamente por entre as pessoas, verificando tudo e procurando algo em que pudesse ajudar. Seu vestido azul céu era recatado e belo e não passava despercebido aos olhos de Rashad que a acompanhava sempre que entrava em seu campo de visão.

Não era algo que pudesse evitar, sempre que aquele corpo movia-se com a graça de um anjo, se via preso por aquela visão. O sorriso discreto e educado lhe perturbava mesmo a distancia. A cerimonia acabou antes mesmo que ele percebesse que já havia começado.

Se levantou e preparou-se para a série de apertos de mãos e sorrisos forçados. Uma fila de rostos passou por ele e nem ao menos saberia dizer se conhecia todos. Assim que acabou, procurou pelos noivos para os cumprimentar, o casal se despedia dos pais da noiva. Aproveitou a situação e parou ao lado de Haiza, despediu-se dos noivos e acenou para os Mourrack.

- Haiza querida, você se importa de ir para Cairo na frente? Inrham e eu iremos de carro e chegaremos mais tarde... não vou poder ajudar Ísis em muita coisa.. - Hamadi dizia a menina encabulada ao seu lado, mas seus olho repousavam no rapaz que continuava parado ali.

- Claro Senhora.. 

- Como Ísis e o marido acabaram de sair, dentro de meia hora nosso jato levara alguns convidados, Consegue se organizar para sair com eles menina? - 

Haiza acenou e saiu rapidamente dali, estava inquieta com a presença de Rashad.

Hamadi olhou nos olhos do homem que seguia Haiza pelo olhar.

- O Senhor é..? - perguntou o fazendo desviar os olhos para ela.

- Tarek.. Rashad Tarek. Trabalho com os Dahab a alguns anos...

- Tarek? és filho de Samir e Layla ? - Hamadi interrompeu. Uma ideia lhe ocorrendo repentinamente.

- Sim senhora, meus pais...

- Eu conheço seus pais. vamos me conte, como está a sua mãe... continua insuportável?

Rashad se viu preso nos braços da animada senhora que lhe encheu de perguntas por longos minutos intermináveis.. apesar de falar com frequência a mulher era animada e cheia de vida, lhe fez sorrir alguma vezes e quando deu por si estava no jato a caminho de Cairo, para uma festa de casamento na qual nem ao menos pretendia ir.

Tentou declinar do convite silencioso educadamente, mas a mulher parecia fingir não entender suas  intenções e as barreiras de Rashad foram completamente derrubadas quando viu Haiza se juntar aos passageiros.

HaizaOnde histórias criam vida. Descubra agora