Poeta

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Hoje faço-me de poeta onde outros o foram.

Procuro o que escrever,

Sentada e com o café a arrefecer.

O cigarro queima-se à medida que a caneta pentra o papel,

As gentes apressam-se e o poema forma-se.

Sem qualquer ideia,

Cinco e meia da tarde.

A caneta parece não querer colaborar,

Tudo o que queria era que Pessoa me explicasse como ser poeta sem ideias.

Pessoa, porque não me contas o teu segredo?

Como ser poeta em Lisboa,

Como carregar o fardo das palavras.

Um quarto para as seis e Pessoa ainda não me explicou,

Explica-me porquê.

Porque é que os meus desejos e medos se manifestam através de palavras que eu não compreendo,

Explica-me a obscena paixão que me consome a por completo.

Ensina-me,

Ensina-me a ser poema e não poeta.

Porque ser poeta é ser escravo,

Ser poeta é ser apaixonado pelo povo.

Ser poeta é viver de extremos,

Ser poeta é sangrar das mãos e de peito vazio implorar por misericórdia.

Explica-me como não escrever,

Explica-me é isto uma bênção ou uma maldição?

Pois eu não entendo,

Eu não quero entender.

Eu não quero deixar o cigarro queimar-se e o café arrefecer,

Eu não quero que sejam seis da tarde e eu esteja a escrever.

Procurei Pessoa,

Não o encontrei.

Enquanto isso,

Hoje faço-me de poeta onde outros o foram.

-Uma carta à Brasileira. 

Deixa-me divagarOnde histórias criam vida. Descubra agora