3 - O mal que nos rodeia

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Manhattan, New York - EUA

Grand Hotel, 06:30 p.m

Lisa

Pela varanda do meu quarto observo o sol se por dando lugar a noite.

Respiro fundo pensando na minha vida.
Muitos diriam que tenho uma vida fácil, tudo que eu poderia querer.

Mas não é bem assim.
O que eu mais queria eu não tenho : uma família de verdade.

Meu pai é um bilionário poderoso, dono de uma enorme rede de hotéis e outras diversas empresas, sendo tão rico obviamente ele não tem tempo pra mim.

E minha mãe... Nunca cheguei a conhecê-la na verdade, ela morreu quando me teve.

Então o que me sobra é isso... O dinheiro.

Baixo meu olhar para as pessoas que passam na rua. Parecem formiguinhas seguindo seu caminho.

Não me incomodo com a altura, já que estou a mais de trezentos metros do chão, e nem com o fato de morar num hotel.
É legal até.

Os funcionários são legais e este é o melhor hotel da cidade.
Saio a hora que quero, faço o que eu quiser, então não tenho do que me queixar.

Só acho que seria melhor se eu pudesse compartilhar esses momentos com o Sr. John Carter, mais conhecido como meu pai.

Suspiro e levanto a cabeça, apreciando a vista.

Eis uma boa coisa de se morar na cobertura: poder apreciar o por do sol.

Sempre amei minha cidade, mas seria muito bom apreciar a vista de um lugar mais aberto, mais rural.

Uma brisa fria passa por mim, é agradável e me refresca, mas logo ela se torna gelada.

Ás vezes eu sinto como se estivesse sendo observada, sinto uma sensação ruim.

E dessa vez não foi diferente.
É como se alguma coisa maligna estivesse por perto e essa coisa estava tentando colocar suas garras em mim.

Tento sair de perto do parapeito, mas não consigo.
A coisa parece estar bloqueando meu caminho, me empurrando para cair.

Então vou recuando, recuando até estar montada no concreto frio do parapeito.

A coisa estava me empurrando para a morte, eu podia sentir suas garras geladas em meus braços.

E então ela me empurrou e eu despenquei de cabeça.

Senti o frio da presença maligna recuar enquanto duas mãos quentes agarravam meus tornozelos.

- Lisa! Querida, o que foi isso? - meu pai pergunta enquanto me puxa para junto de si.

- Eu, n-n-a-n-n-a sei. - gaguejo enquanto lágrimas ameaçam cair dos meus olhos.

- Calma, respire meu amor.

- Foi, - digo engolindo em seco - uma coisa fria... ruim.

Levanto o rosto para seus olhos cinzas, eles estão pensativos.

- Gia tis thysíes kai tis prosforés, paradóste mas apó to kakó pou mas perivállei. - ele sussura, depois me abraça forte. - Não sei o que faria se algo lhe acontecesse.

- Pai, - digo sem jeito - o que o senhor disse antes?

Ele não me responde apenas suspira.
Me pergunto o que ele terá dito. Parecia uma língua antiga, talvez grego, literalmente.
Só sei que a presença fria sumiu. Mas não sei se terei coragem de dormir sozinha.
A coisa pode voltar.

- Venha minha filha, não quero que você fique sozinha.

O que sempre acaba acontecendo, penso sarcástica.

- Sei o que você está pensando, eu trabalho demais. - ele fala enquanto me conduz para a sala de TV. - Mas posso trabalhar de casa, só não fazia isso para não atrapalhar você.

- Me atrapalhar? - o encaro, indicando a casa. - Esse lugar é enorme! Eu nem sei quando o senhor está em casa.

- Sinto muito minha pequena. - chegamos a sala e sentamos no sofá. John Carter me observa com olhos tristes. - Eu fiz o melhor que pude, mas sem a sua mãe não é a mesma coisa.

E ele começa a chorar.
Nunca vi meu pai chorando, ele é sempre a compostura em pessoa.

- Papai... - falo enquanto o abraço. Lembro que quando eu era criança éramos mais próximos, mas a medida que eu crescia ele ia se distanciando.

- Você se parece tanto com ela...

E ele me falava isso sempre, que eu era idêntica a minha mãe, exceto pelos olhos.
Tenho os olhos dele.

- Não vai mais acontecer, eu prometo. - meu pai fala em meio as lágrimas. - Não vou perder você também, não vou.

- Pai, eu...

- Não, eu deveria ter cuidado melhor de você. Sua mãe me daria uma surra se soubesse que eu deixei a menininha dela em perigo.

- Mas pai, o quê...

- Me escute agora Lisa. - ele ergue meu rosto para encará-lo, tira algo de dentro do paletó e me entrega. É um papel velho com algumas palavras escritas. - Isto é uma oração que os gregos antigos usavam para afastar o mal, e foi o que eu disse a pouco.

- Uma oração? - encaro meu pai - Não sabia que o senhor fazia orações...

- Isso não vem ao caso agora, apenas aprenda essa oração. Não vou deixar que nada lhe aconteça. Eles não podem entrar aqui.

Resolvo não perguntar quem seriam " eles " enquanto penso no quanto realmente conheço sobre meu próprio pai.

Ele olha para mim e me dá um sorriso bondoso.

- Não se preocupe querida, tudo ficará bem.

Mas não consigo pensar assim.
O que era aquela coisa que eu senti tão maligna?

E mais importante ainda, e isso não saia da minha cabeça:
Meu pai parecia saber o que era aquela coisa e que ela queria algo.
Eu.

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