5 - Cuidado, Mark anda lendo mangás demais

56 23 141
                                    

Upper East Side, New York - USA

07:05 a.m

Beatrice

Observo a geladeira a minha frente pensando no que comer no café.

Ainda bem que quem invadiu nossa casa ontem não levou a comida.

Se fosse eu e não pudesse levar a comida por que era muita daria um jeito de levar a geladeira com tudo.
Meu irmão diria que isso é um pensamento de baleia grávida.

E sim, ele é um chato às vezes, mas é meu adorado irmão.

Decido por comer um pedaço do bolo de chocolate que a mamãe deixou.
Ela não pode sair do hospital, por que a minha tia está realmente muito mal.

- Bom dia adorada irmã. - Rice fala entrando na cozinha e sentando numa cadeira. - Poderia me servir com um pedaço desse bolo?

- Bom dia adorado irmão, mas claro. - respondo enquanto sirvo o bolo.

Eu deveria explicar a parte do "adorado" e " adorada", mas não sei como, deve ser coisa de gêmeo.
É uma brincadeira nossa na verdade, desde que me entendo por gente nós sempre falamos isso um pro outro.

- Hoje o dia vai ser longo. - meu irmão suspira.

- Nem me fale. Mas como a vó Anne diz : Calma, tudo tem que ser feito com calma.

- E você, é amante dessa filosofia. - Rice fala entredentes.

- Sou. E você meu irmão é a cópia do velho Jack Evans, chato e resmungão. - sorrio - Sinto falta dele.

- Eu também. - Rice admite, deixando a frustração de lado. - Ele era um ótimo avô.

Deixamos o silêncio preencher o ar.
Lembranças do vovô Jack invadem minha mente.

A velha casa em Iowa, o balanço de pneu, as histórias que ele contava.
Ele realmente era um ótimo avô.

- O papai já saiu? - Maurice rompe o silêncio.

- Já. Ele ia passar na delegacia ver se algo novo surgiu e depois ia ao hospital.

- A mamãe vai ter uma crise.

- Eu sei.

- E nós temos que arrumar tudo isso. - ele bufa apontando toda a bagunça.

- Eu sei.

Não pudemos arrumar nada ontem porque os policiais estavam recolhendo possíveis pistas.

- Vamos logo, senão vamos nós atrasar. - falo. - Papai disse que o tio Harry vai levar a gente hoje.

- Ótimo, vamos. Espero que o pneu não fure hoje.

***
A viagem até a escola no carro dos Carytton foi estranhamente silenciosa. Era como se alguém tivesse despejado tenção no ar.

Quando finalmente chegamos e descemos na calçada da escola, depois do pai de Mark já ter desaparecido no trânsito, nosso vizinho abriu a boca:

- Eu não sei vocês, mas acho que tem algo podre no Reino da Dinamarca. - ele diz olhando para os lados. - Melhor conversarmos na biblioteca, é mais seguro e não tem ouvidos abelhudos por perto.

Tanto eu quanto Rice o olhamos estranho, mas o seguimos até a biblioteca. Nos sentamos numa mesa afastada da porta.
Apesar do lugar estar vazio Mark insistiu que o fizéssemos.

- Olha, eu sei que passo muito tempo jogando video game, lendo mangás, literatura policial e tal, mas isso não me torna paranóico, certo? - cheguei a me assustar, já que os olhos dele estavam meio arregalados.

- Explique. - Rice pede.

Mark suspira, e seus olhos voltam ao normal.

- Invadiram a casa de vocês certo? - concordamos com a cabeça. - A nossa também foi invadida.

- Sério? - ele me olha com uma expressão que diz eu tenho cara de estar brincando?

- Sim, e o mais sinistro é que levaram apenas o meu notebook. - ele fecha a cara, e balança a cabeça com desgosto. - Porquê justo o meu notebook?

Dou de ombros.

- Pelo menos você ainda tem uma TV.

Mark olha para os lados novamente.

- Já tiveram a sensação de estarem sendo vigiados?

- Tem câmeras aqui, cara. Você está meio paranóico. - meu irmão ri.

- Disse o cara que estava só ossos e nervos ainda à pouco. - provoco.

- A questão é que, a mesma coisa que entrou na minha casa também deu uma passadinha na de vocês. Meu pai disse que estava tudo revirado...

- Sim, mas espera... - o olho com os olhos franzidos. - O que você quis dizer com " a mesma coisa"? Obviamente foi uma pessoa que fez isso, alguém muito desocupado por sinal.

O sinal toca. Me levanto, os chamando pra ir para a aula.

- Eu não sei Trice, quando eu contei pro meu pai, e vocês conhecem ele, todo calado e controlado, só faltou gritar que aquela não era a primeira vez. - passamos pelos corredores lotados de alunos indo e vindo, e Mark baixa a voz. - Eu só sei que essa tal invasão já aconteceu antes, segundo meu pai.

- Agora que você falou, nosso pai também não pareceu muito ele com esse tipo de notícia. O velho ficou calmo demais. - coço o queixo. - Mas vamos pra aula, depois falamos disso.

***

- Eu não deveria ter vindo hoje, não estou me sentindo muito bem. - minha amiga Lisa fala, se espreguiçando.

- Parece que você não dormiu nada. O que houve?

Ela pisca os olhos, distraída.

- Muitas coisas.

- Digo o mesmo, você perdeu o Will Foster vomitando na cantina ontem. - estremeso. - E também o fato de terem invadido minha casa.

Ela dá um pulo de repente.

- Sério? O que houve? Você está bem? - chacoalha meus ombros enquanto questiona.

- Estou, foi só um roubo qualquer. Os caras não levaram nada muito caro.

Ela suspira aliviada.

- Ainda bem.

- O Mark e o meu irmão criaram uma teoria de que alguma criatura invadiu nossas casas pra fazer bagunça.

- A casa dele também foi invadida? - Lisa engole em seco, parece estar tremendo.

- Foi. Levaram o notebook dele. O cara só sabe lamentar sobre isso e xingar os desgraçados.

A cutuco, pois parece que minha amiga está em outra dimensão.

- Ei, olhe aquilo. - aponto para uma mesa distante no refeitório, com apenas uma pessoa sentada nela, mordiscando um hambúrguer. - Não é Edgar Williams? Parece que ele levou uma surra...

Lisa ergue o queixo para girar o garoto de cabelos pretos e compridos até na altura dos ombros, ematomas marcam seus braços musculosos.
Ela sempre teve uma quedinha por ele, desde que o dito chegou na cidade, faz três anos.

- Talvez. - ela sorri de canto. - Ou talvez tenha batido mais do que levou.

Também sorrio e o sinal toca, nos mandando de volta para a aula.

Quando estamos saindo viro meu rosto para trás e vejo que Edgar está olhando em nossa direção.
Ele não é o único.

Na ponta direita do refeitório uma menina de cabelos pretos altera seu olhar irá para mim ora para o garoto, enquanto anota algo num caderno.

Seus olhos de repente se cravam nos meus, como se me dissessem fuja, enquanto há tempo.

A PesteOnde histórias criam vida. Descubra agora