7 - Perguntas sem respostas

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Manhattan, New York - USA

08:25 p.m

Lisa

Sabe aquela sensação de ser constantemente vigiada?
Passei a senti-la desde o dia que aquela coisa me atacou.

Decorei a oração que meu pai me deu, e a repito sempre que tenho a sensação dos olhos sobre mim.
O senhor Carter passou a fazer o trabalho em casa, e vive passando pelo meu quarto perguntando como eu estou.

Respondo apenas com uma outra pergunta, do tipo: Você sabe grego? E o que era aquela coisa?

Mas ele sempre foge da pergunta, muda de assunto ou fala que não está na hora ainda.
Fico sem entender nada, como sempre.

Só sei que há algo estranho no ar. Estranho e perigoso.

***

— Você está bem mesmo, filha? — Senhor Carter pede pela enésima vez. — Não sei porquê tem ido na escola, parece tão abatida.

Estamos jantando, a sala é iluminada com luzes claras que realçam a fineza do ambiente.
Um lustre de cristal pende sobre nossas cabeças, pequenos arco-íris trespassado seu meio.

A sopa de ostras segue intocada no meu prato.

— Você deve gostar mesmo daquela escola. — meu pai segue falando. — As aulas estão quase acabando, estamos quase nas férias e você continua indo.

Tecnicamente já estamos de férias. A minha escola é que é estranha e exige que os alunos fiquem estudando até quando o começo de julho. Pelo menos nossas aulas voltam só dia 20 de setembro.

— Eu gosto de lá. Dos meus amigos. — erguo meu olhar para ele. — Mas, pai, sobre aquele dia...

— Eu sei filha. Mas esse não é o momento. — finge mexer em seu prato. — Daqui a dois dias podemos falar sobre isso.

— Mas...

Seu telefone toca e ele sai da sala, sinalizando com a mão para eu esperar.

— O que tem em dois dias...?

***

— Seu aniversário! — Trice fala, empolgada. — Vai ser o evento da semana. Temos que preparar tudo, sei que você não quer festa, mas podemos fazer só uma reuniãozinha entre amigos...

Até o momento eu não tinha me dado conta, mas em dois dias eu faria dezesseis anos. E em dois dias meu pai falaria sobre o que aconteceu.
Tinha que haver uma ligação entre isso.

— Você vai, não é Helena? — Trice cutuca a morena com o cotovelo. — Sei que você vai gostar.

Uma das qualidades de Beatrice é sua incrível capacidade de fazer amigos e conquistar as pessoas.
Mesmo Helena, que eu notei ser muito introvertida, sorri e se interessa pelas conversas graças a Trice.

Observo a garota de cabelos pretos enquanto ela discute com  Trice sobre o melhor núcleo de varinhas.
Ela tem uma beleza nobre, quase grega, eu diria. Gostei dela quando Trice nos apresentou, apesar de nunca te-la visto na sala.
Talvez seja porquê eu sou muito desatenta.

Ou, como Trice diria, porquê eu só vejo Edgar e fico pensando nele.
Não é para tanto, só tenho uma certa quedinha pelo cara, mas é só.

— O que você acha Lisa? — ouço a voz de Trice, me tirando de meus pensamentos. — Pena de Fênix ou coração de dragão?

A olho confusa, mas depois entendo do que ela está falando.

— Pena de Fênix, muito poderosa. — respondo.

— Vinte e oito centímetros , maleável, em azevinho. — Helena completa.

Beatrice sorri.

— Viu, eu falei que vocês iam se dar bem!

***

Aquela sensação estranha estava me coroendo.
Algo estava atrás de mim...
Tentara me matar...

Gia tis thysíes kai tis prosforés, paradóste mas apó to kakó pou mas perivállei...

Não, não tem nada atrás de mim. Nada vai me fazer mal.

Com toda essa paranóia resolvi sair um pouco daquele prédio claustrofóbico e andar pelo Central Park.
Devia ter ficado em casa.

Logo que botei os pés na grama do parque senti que alguém estava me seguindo.
Mas olhando para trás não encontrava nada.

Meus passos me levaram, muito rapidamente, de volta para o prédio.

Mas antes de entrar no elevador me virei e vi algo de relance.
Parecia um homem, vestindo roupas camufladas e um chapéu de safári.
Ele olhava diretamente para mim.

***

— Peço a todos que levem estas folhas para seus pais assinarem e me entreguem no dia de amanhã. — a senhora Tom, nossa professora regente, ia falando enquanto passava pelas carteiras distribuindo papéis. — É a autorização para o passeio que ocorrerá no fim de semana. Iremos até a Estátua da Liberdade, depois passaremos pelo Museu Metropolitano e encerraremos com um piquenique no Central Park.

Olho para o papel em minha frente com desânimo.

— Espero que todos possam ir. — ela se vira para a turma, já na frente da sala. — Não poderei acompanhá-los, mas o novo professor de história o fará.

— Você vai, não é Lisa? — Trice sussura, do seu lugar ao meu lado direito.

Faço que sim com a cabeça.
É o melhor jeito de espairecer. Sair um pouco daquele prédio e ver mais pessoas.

Mas mesmo com toda a animação da turma para o passeio não consigo deixar de pensar no dia de amanhã.

***

O que eu esperava que acontecesse?
Meu pai me confessando ser um espião disfarçado ou algo do tipo?

Não mesmo. Não aconteceu nada.
Apenas a mesmice de sempre e minha idade aumentando.

Senhor Carter mentira novamente, não me falou nada, apenas me abraçou e me deu parabéns.
Como se o tal papo do Vou te contar tudo tivesse sido coisa da minha cabeça.
Falei com as meninas e decidi não fazer nada no meu aniversário, não quero ter mais essa preocupação.

Desde o dia que vi aquele homem estranho tenho tido pesadelos, dores de cabeça e vertigem.
Ainda bem que semana que vem acabam as aulas, e eu nem sei se irei a semana toda.

Mas se eu não fosse Trice ficaria histérica e sobraria para a pobre Helena aturar a Evans dando chilique.
Minha cabeça está explodindo, só consigo pensar no meu pai e no que ele não me conta.

Que segredo tão misterioso ele esconde?
Por que eu não posso saber?

Só isso me vem a mente quando deito para dormir, e logo caio num sono conturbado e cheio de pesadelos.

A PesteOnde histórias criam vida. Descubra agora