Upper East Side, New York - USA
08:00 p.m
Mark
Achei que o meu dia não estava tão ruim quanto o do meu amigo Maurice, bem, até entrar no meu quarto.
Passei todo o tempo das aulas pensando em Kate, a líder de torcida mais bonita do colégio, e no que faríamos depois da aula.
Acabou que ela não quis nada além de um beijinho na bochecha e saiu rebolando como se eu fosse sair correndo atrás dela.
Obviamente eu não fiz isso.
Há mais garotas por aí, garotas que me querem inclusive.Não reclamei de nada do meu dia, nem dos pneus que furaram, nem de ter que caminhar metade do caminho até em casa, nem de tomar chuva.
Não posso dizer a mesma coisa do Rice, ele sabe reclamar na verdade, bem ao contrário da sua gêmea.
Há poucas coisas de diferente neles.
Beatrice herdou a calma e paciência da avó materna, tem um apetite realmente incomparável, e uma mania de ver vitrines de lojas.
Já o Maurice é a cópia viva do avô paterno na questão de gênio, é teimoso, e reclamão, e sem dúvida muito sarcástico.
Fora isso, a altura e o cabelo, os dois são idênticos.
Houve uma época, da quinta série até a oitava, que era impossível reconhecer qual era qual, eles tinham a mesma altura, usavam roupas iguais, o mesmo cabelo loiro escuro cortado até o ombro, a mesma massa corporal, até a voz era parecida.
E eles aprontavam muito na escola, eram chamados de Encrenca Evans.
Se acontecia qualquer coisa, se por acaso a peruca do diretor pegasse fogo enquanto ele fazia uma discurso, se o sapo do laboratório de ciências fosse parar no bule de café da sala dos professores, se a sala de aula ficasse infestada de insetos, sabíamos de quem era a culpa.
Uma vez eu confundi o Maurice com a irmã.
Bem, eu achava que estava conversando com o meu amigo, e no fim era a Beatrice.
Não preciso dizer que fiquei muito envergonhado.Mas a partir do ensino médio os irmãos mudaram um pouco, pararam de agir como antes.
Nunca soube o porquê.E não posso negar que sinto falta das brincadeiras deles, a peruca do diretor pegando fogo foi uma coisa bonita de se ver.
Mas voltando ao meu dia, depois que me despedi dos Evans eu entrei em casa e fui direto para o meu quarto.
E adivinhe?Dizer que aquilo era bagunça seria um tremendo eufemismo.
A situação em que meu quarto estava era sim a mãe da bagunça.A cama estava quebrada como se o Hulk tivesse pulado encima dela, o colchão estava todo rasgado, os lençóis em pedaços.
As prateleiras de livros estavam quebradas e os livros rasgados e espalhados pelo chão, o guarda- roupa escancarado e as roupas emboladas e rasgadas.
Minha tão adorada escrivaninha tinha marcas de garras, a janela estava quebrada, e minha cadeira acolchoada toda rasgada.
Senti um misto de ódio e indignação ao ver a cena do meu quarto destruído, e mais ódio ainda quando reparei que o meu notebook não estava no lugar.
Depois de sair do torpor do ódio corri até o quarto dos meus pais para ver se havia acontecido o mesmo que no meu, amaldiçoei meio mundo pelo caminho.
E não deu outra.
O quarto dos meus pais estava pior que o meu.Mas a única coisa que sumiu foi o meu notebook.
Como esse mundo é injusto. Porquê não levaram a vasta coleção de maquiagem da minha mãe?
Resolvi ir para a sala e esperar meus pais voltarem.
E logo depois disso meu pai chegou.— Tem uma viatura policial na frente da casa dos Evans. — ele falou — Parece que a casa está uma bagunça só, levaram a TV e alguns CDs.
Olhei para ele com cara de espanto.
Bem, parece que meu dia ainda foi melhor que o do Maurice afinal.
— Uhm, pai... — falei, já prevendo sua reação — Acho que os Evans não foram os únicos a terem a casa invadida.
Meu pai é um cara calado, sério e controlado, do tipo que encara uma situação — qualquer que seja — com calma. Então achei no mínimo estranho quando ele deu um pulo e exclamou:
— O quê? Outra vez! — ele saiu correndo pela casa tentando localizar a " área invadida".
E eu fiquei me perguntando: Como assim " outra vez"?
O quê ele quiz dizer com isso?
Nossa casa já foi invadida antes?E quem invadiria uma casa, deixaria a maior bagunça e levaria só um notebook ?
Ou no caso dos Evans, só a TV e uns CDs?
Quem faria isso? Ou, o quê?
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A Peste
AdventureO que você faria se descobrisse que todas as histórias que seus pais contavam são reais? Que todos os mitos e lendas que você aprendeu na escola não são apenas mitos e lendas? Que existe um mundo escondido a nossa frágil visão humana? Um mundo que é...