12- Uma reunião de velhos conhecidos

37 9 63
                                    

Helena

O que você faria se te dissessem que você quase foi morto por um Cão do Inferno? Ou que Ciclopes te atacaram?

Uma pessoa normal teria encaminhando quem o disse até um bom psiquiatra, ou lhe comprado uma camisa de força.
Mas eu não era normal, por isso acreditei no que o professor disse. E aqueles cinco também não deveriam ser...

A referência de Hannibal ao meu avô só me fez ter certeza de que a hora chegara. Ele viera atrás de mim, como meu avô disse que aconteceria...
Por quê? Ora, eu sou diferente, embora pareça ser apenas uma garota comum...
Eu pertenço a uma linhagem que se estende desde a criação dos seres humanos. Eu sou um Legado.
Um Legado dos deuses, da civilização antiga, dos mestres que os humanos adoravam.

E isso, segundo meu avô, é algo realmente bom, embora perigoso. Bom porque tenho habilidades que outras pessoas normais não têm ( só não sei quais), perigosa porque há seres dispostos a me matar por esse motivo.

É por isso que eu sou assim, calada, distante, mais nos livros do que na vida real. É como eu me escondo.
Mas uma hora o perigo nos bate à porta, e não há como fugir. E foi o que aconteceu.

Por isso, dos presentes na companhia de Hannibal, eu fui a única a não estranhar nada do que ele disse ou fez. Já tinha até ouvido falar das formas de transporte usadas pelos semideuses e legados, mas nunca tinha tentado.
E por mais estranho que tenha sido, eu gostei. Achei divertido.

E ali estava eu, num banheiro desconhecido mas agradavelmente perfumado, pensando em como fora bom ter sido criada por um avô tão inteligente na Grécia.
O velho Ícaro pode parecer ranzinza e chato, mas ele é uma ótima pessoa e sabe falar sobre vários assuntos. Sua carapaça protetora só está ali para garantir que eu não corra perigo, pois o velho não aguentaria me perder, como perdeu minha mãe.

Ele nunca me contou como aconteceu, só diz que ele a perdeu para essa vida maldita, nunca o escutei culpando alguém em especial, mas acredito que tenha sido culpa do meu pai, quem quer que seja ele.

Só sei que meu avô me ensinou tudo que eu sei sobre mundo mitológico, que de mitológico só tem o nome. Mas sei que ele ainda me esconde muitas coisas, e é pensando nisso que sigo Hannibal quando ele sai do banheiro.

- Que lugar será esse? - ouço Lisa resmungar, vindo logo atrás de mim.

- Olha, acho que vamos descobrir, já vejo a luz no fim do túnel. - Mark aponta logo a nossa frente, onde o corredor em que estamos acaba em um retângulo de luz.

Ando até lá e atravesso a porta, com a curiosidade fervendo em meu estômago.

Quando meus olhos se acostumam com a luz posso ver detalhadamente cada centímetro do lugar.
É uma grande sala, uma mistura de escritório e sala de reuniões. Dos dois lados da sala estão alinhadas lado à lado várias mesas com computadores, e no centro uma mesa com lugar para pelo menos vinte pessoas. A luz no local é muito forte, e faz meus olhos arderem.
Mas o que me deixa de boca aberta por pelo menos um minuto, - e meus amigos ficam da mesma maneira - é que sentadas nas cadeiras, na mesa de reunião, estão sete pessoas, entre elas o meu avô.

- Bem, chegamos a tempo para a reunião! - Hannibal fala, andando até a mesa. - Eu realmente não achei que fosse vê-los tão cedo, meus amigos!

Depois de conseguir fechar a boca a abro novamente.

- Você conhece nossos pais? - Trice está com os olhos arregalados.

Noto que os adultos sentados nas cadeiras estão com expressões de descontentamento.

- Bah, era só o que me faltava! - meu avô reclama. - Você não podia ter apenas ligado, Hannibal? Tinha que me fazer ficar encharcado até os ossos?Bah!

Hannibal solta uma gargalhada.

- Mas aí não haveria graça alguma meu amigo. - ele diz. - Além do mais, eu quero discutir a grande irresponsabilidade dos outros pais presentes neste recinto.

Vovô olha para os outros pais e balança a cabeça.

- O que esperar dos Evans e Carytton, senão o caos? - comenta.

- O aconteceu com Bella não foi nossa culpa, senhor Amateus. - um dos homens, com incríveis e sinceros olhos azuis, fala. - Nossos filhos e a educação deles é uma escolha nossa.

Os outros concordam com a cabeça.

- Ei, ei, ei... pera lá um minutinho, - Maurice caminha até a mesa e se senta próximo a um casal, que devem ser seus pais. - Vocês todos se conhecem?

- É uma longa história meu querido. - uma mulher de cabelos negros e sedosos o encara com ar bondoso.

- É verdade, aconselho a todos que se sentem. - o professor pigarreia. - Essa vai ser uma longa e complicada história...

***

- Vamos começar do princípio... - Hannibal abriu os braços, enquanto meus amigos o olhavam com espectativa. - Eu creio que vocês devam conhecer os mitos gregos, correto?

Mark balançou a cabeça.

- Zeus, Poseidon, Hera, e o Olimpo... - ele disse, coçando a cabeça. - Isso aí...

- Mais ou menos, mas tem muito mais que isso. E sobre mitologia em geral? - o professor olha para cada um de nós. - E sabem de algo como boi Tatá, lobisomens, fantasmas, essas coisas do folclore, conhecem?

Eu já ouvi falar dessas coisas que ele mencionou, e de outras mais, embora não tenha visto nada do tipo. Devo isso ao meu avô, ele sempre me contou histórias sobre as diversas mitologias do mundo, e eu sabia que não eram apenas histórias. Sabia que eram parte de mim.

- Nosso avô nos contava histórias sobre deuses e monstros, não é meninos? - Trice dá uma cotovelada em Rice e Mark, que estão sentados ao seu lado. - Mas acho que vocês dois nunca prestavam atenção.

- Com licença Hannibal, - um dos homens, vestindo um terno Armani, fala, creio que seja o pai da Lisa. - Eu concordo com o senhor e sei que não há como evitar mais esse momento, chegou a hora de dizer a verdade aos nossos filhos...

- Mas a questão é exatamente essa! - uma das mulheres se pronuncia, tem os olhos castanhos gentis e o sorriso de Mark. - Escolhemos não dizer a verdade a eles, para mantê-los seguros.

- Mas eles já presenciaram coisas demais, Suzy. - meu avô rebate em voz pastosa. - Não há como desver aquelas coisas, nem com sua magia, Hannibal.

Olho para cada um deles tentando entender como se conhecem, e porquê meu avô foi hostil com o Evans pai e o Carytton pai, mas não com a mãe de Mark...

- E é por isso que estamos todos aqui. - o professor bate palmas e se levanta, numa típica posse teatral. - Para revelar os segredos escondidos e esclarecer os mistérios...

Meu avô me olha preocupado.

- Se preparem meus jovens, porque agora vocês vão saber de tudo!

A PesteOnde histórias criam vida. Descubra agora