Capitulo IX: Sozinho

45 5 1
                                    

Watson:

Fiquei trancado no meu escritório a noite toda aos prantos, não consegui dormir, fiquei-me martirizando depois de tudo o que aconteceu, não tinha forças para nada. Depois de tudo o que eu fiz por eles? É assim que vão retribuir? Me traindo, mentindo para mim. Não sei quem fez pior, eu por confiar, Lucy por trair minha confiança e amizade, ou Scarlett por me trair com Franklin. Não queria ver nenhum deles nunca mais, devolveria Scarlett, mandaria Lucy para o irmão e iria-me mudar para longe, qualquer lugar que eu não pudesse vê-los. O pior foi a dúvida e a desesperança, eu estava estonteante com a possibilidade de ser pai, talvez no fundo sempre sonhei com isso e não tivesse-me dado conta ainda, mas agora isso se tornou um pesadelo, não sabia se era meu ou não. No fundo desejei que fosse meu para amar e cuidar, mas se por outro lado não fosse, não assumiria obrigação alguma com a criança.

O sol já se fazia presente quando resolvi sair do escritório. Desci e fui para cozinha comer sozinho, como sempre. Fui até o quarto de Scarlett e não a encontrei, revirei o quarto e não encontrei nada dela, ela tinha partido. Malditos. Ao menos espero nunca mais encontra-la, talvez fosse melhor assim, mas antes teria que contar a família e deixar claro que não a queria de forma alguma. Fui até o quarto de Lucy e a encontrei no quarto deitada sobre a cama dormindo, seus olhos estavam vermelhos e desconfie que passou a noite em claro chorando e só conseguiu dormir pouco, do lado da cama suas malas já se faziam prontas para partir, por um segundo tive pena dela, mas assim que lembrei toda a confusão que eu estava a raiva voltou, isso também era culpa dela, mentiu para mim, eu nunca esperaria isso dela, mas o fez, me traiu. Lembrei do beijo e senti o ódio atravessar meu corpo, senti culpa naquele ato e o que fez comigo foi muito pior. Cheguei a pensar que sentia algo especial por ela, mas agora isso é impossível.

Voltei para meu quarto e senti que algo estava errado, fui até a escrivaninha e quando abri tive uma péssima surpresa, todas as joias e dinheiro que ali estavam haviam sumido, fui roubado pela minha esposa e seu amante. Aquelas eram joias de família, passadas de geração a geração, custavam muito, tanto no valor quanto por sentimentos. Meu sangue ferveu e derrubei tudo que estava na mesinha no chão em um golpe só, baguncei minha cama no processo de fúria, agora ele tinha ido longe demais, ele jurou que destruiria minha vida e conseguiu, roubou tudo de mim, meu dinheiro, minha esposa, minha felicidade e esperança, no fundo cheguei a sentir que ele estava certo, tudo fora um erro, eu tinha roubado tudo dele sem pensar? Não, não sei. Nada fazia mais sentido, eu tinha feito tudo que estava ao meu alcance para ver as pessoas que eu amava e me importava felizes e bem e todos me traíram, estava sozinho no mundo. Não poderia mais me mudar porque boa parte dele se foi com Franklin. Tudo o que eu queria agora era paz, mas era a última coisa que eu iria conseguir nesse momento.

Fui até o estábulo e eu mesmo cuidei do cavalo e aprontei da carruagem, ninguém falava comigo apenas olhavam atentos todos os meus movimentos, medo ou receio talvez, isso me causava muito desconforto e não ajudava em nada a situação. Quando voltei encontrei Lucy arrumada e parada perto da porta.

— Estou pronta senhor.

— Fique no seu quarto não mandei te chamar, quando for a hora mando avisar. — minha voz exalou o ódio que eu sentia.

— Está bem senhor, vou ficar esperando. — disse ela com a voz fraca e chorosa.

— No me chame de senhor. Não fale comigo.

Ela deu meia volta aos prantos, uma voz de dentro de mim me alertou dizendo que eu tinha sido rude demais, porém a outra dizia que ela mereceu.

Um tempo depois mandei chama-la e fomos de carruagem até a propriedade de lorde Cárter, meio-irmão de Lucy. Não falamos nada a viagem toda, cada um olhava para um lado e senti suas lagrimas caindo quando chagávamos perto do lugar. Assim que paramos ela me olhou com lágrimas nos olhos.

— Me perdoa, não fiz por mal, tive medo de te perder. — disse segurando as lagrimas ao máximo. Deu uma pausa e continuou. — Eu te amo. — desmoronou em lágrimas e saiu da carruagem aos prantos.

Eu fiquei parado sem conseguir-me mexer ou sequer respirar, meu coração mais uma vez foi atingido no meio como se uma adaga atravessasse ele inúmeras vezes. Pedi que seguisse viagem ainda sem conseguir-me mexer, eu a fiz sofrer tanto quanto ela me fez sofrer.

Assim que cheguei em casa fui para o escritório e por lá fiquei sem coragem de ir até a casa da família Anderson e magoá-los com a verdade. Eles me traíram e agora eu sinto que estou traindo, traindo as famílias os entregando a verdade amarga.

Em um rompante de coragem entrei na carruagem e fui até a casa dos Anderson fui muito bem recebido até contar a verdade. A mãe logo estranhou a falta da filha e questionou se ela estava doente, disse que não mais o assunto era sério, contei tudo que Scarlett estava grávida, festejou a princípio, disse que descobri que ela estava me traindo com meu primo desde de o começo e que fugiu com ele na noite passada levando tudo o que era meu e terminei dizendo que se ela voltasse estaria devolvendo-a. A mulher empalideceu e começou a proferir palavras ofensivas a mim até entender de verdade a situação. Por fim desmaiou e a nora teve de ajuda-la.

Fui embora me sentindo mal pela pobre mulher que acaba de ter uma filha jogada para a vida, uma mulher rebaixada por toda a sociedade.

Voltei para casa e me enfiei no escritório tentando processar tudo que aconteceu e o abandono e a solidão me abraçavam como uma velha amiga que a muito não me via, e de fato era verdade, mais uma vez a solidão me acolhia em seus braços, chorei no vazio e no silêncio perturbador que me atingia por todos os lados.

Segredos e Paixões (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora