Capitulo XX: Fuga

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Scarlett:

Fomos até uma taberna mal frequentada, havia poucos homens ali e todos fediam e usavam um palavreado chulo, sentia repulsa assim que coloquei os pés naquele lugar, fedia a bebida, urina e suor. Franklin pediu um quarto para nos dois, senti medo e me arrepie com todos aqueles olhares voltados para mim, ele percebeu e gritou para que cuidassem da própria vida.

Nosso quarto também fedia, estava sujo e tinha uma mulher na porta com um olhar de provocação. Franklin nem sequer olhou para ela, apenas disse que não precisava do serviço deles, pensei em protestar dizendo que precisava que o quarto estava imundo, porém tive receio de saber qual era exatamente o serviço que ela fazia.

Ele arrumou a cama e deixou as coisas em cima dela, eu não sabia o que fazer, não queria estar ali de forma alguma.

— Não se preocupe daremos um jeito.

— Que jeito Franklin? — perguntei frustrada e irritada por ele ter-me levado aquele lugar. — Como conhece esse lugar? — minha voz era de fúria.

— Já estive aqui algumas vezes quando era mais jovem.

— Sinto até arrepios por ouvir isso, sinto nojo desse lugar.

— E de mim? Sente nojo agora? — a voz dele saiu fira.

— Não foi que quis dizer, desculpa, mas sou uma dama não estou habituado a um lugar tão vulgar como esse.

— Pois trate de se acostumar, não tem mais aquela vida de regalias. — sua voz era fria e isso me dava certo medo.

— Quem era aquela mulher? — perguntei receosa.

— Uma mulher da vida, aquela é Alda uma mulher que vende o corpo como uma forma de se alimentar, a mãe dela ensinou tudo que sabia para ela, o pai só Deus sabe quem é e onde se encontra.

— Como sabe tanto sobre ela? — disse irritada.

— Ela me contou da última vez que estive aqui, faz cinco anos.

— Dormiu com ela? — dessa vez minha voz era fria como gelo.

— Não é da sua conta, meu passado não lhe diz respeito.

— Vou considerar como um sim. — falei para mim mesma, virei as costas ainda com ódio e fui até a janela, abri com receio e nojo e vi algumas mulheres rodeando um bando de homem imundos e bêbados percebi que o homem que escolhi viver era ou foi um deles, sujo por fora e por dentro.

— Pare de pensar mal de mim, fizemos uma escolha e nem um de nós dois pode voltar atrás agora, já está manchada Scarlett ninguém além de mim ira quere-la. — aquilo doeu mais do que uma facada. Senti as lágrimas escaparem dos meus olhos sem poder controlar.

Senti ele me abraçar por trás e seus lábios tocarem meus cabelos, agora sujos de poeira.

— Desculpa, não fiz mal. Eu te amo. — não sabia mais se era verdade, tinha minhas dúvidas.

Ele me levou até a cama e me beijou, como sempre fazia depois de me desagradar, um beijo pedido de desculpas.

— Eu sinto muito por tudo isso, vou dar um jeito. Vamos passar o resto do dia aqui e dormir, amanhã partiremos.

— Para onde? Um lugar sujo como esse? — disse com raiva.

— Tenho uma pequena casa em uma cidade aqui perto, mas fica um pouco demorado nessa situação. Tenho que cuidar de nós todos, do nosso filho também.

— Outro lugar sujo como esse então. — ele me abraçou e me beijou.

Deitamos na cama, senti repulsa da situação, mas era melhor do que dormir ao relento. Demorei mais consegui dormir nos braços de Franklin.

No dia seguinte acordamos cedo e comemos o que o lugar oferecia, senti meu estômago embrulhar com a comida oferecida, ao invés de colocar para dentro estava a um passo de jogar tudo que tinha para fora, no entanto não tive outra opção a não ser engolir com custo a comida.

Fomos os dois no cavalo e logo a animal cansou com o peso, paramos para descansar um pouco e para o cavalo descaçar e seguimos comigo no animal e Franklin andando. Paramos para comer poucas vezes, passávamos em lugares pouco frequentado para que ninguém nos reconhecesse ou desconfiasse de algo. Em certo ponto ele negociou uma carroça velha com um garoto mal trapinho, ela era desconfortável e tinha pouco espaço, porém adiantou muito no trajeto.

Paramos no final do dia em outra taberna, tão ruim quanto a primeira, essa era mais barulhenta e os bêbados pareciam gritar mais alto. As mulheres oferecidas tinham um pouco mais de classe, não eram tão caipiras. Uma delas revirou o olho ao me ver e ouvi quando disse para a colega que eu seria uma corrente a altura, me senti mal por ouvir aquilo, nunca me entregaria daquela maneira.

Dormimos pouco e o outro dia foi igual ao anterior. No total foram três dias, três dias enfrentando o cansaço e a fome, dormindo em lugares horríveis até finalmente chegar numa casa velha e suja. Ao contrário dos últimos lugares em que dormi aquele seria o melhor, era de Franklin, não fedia bebida e não tinha mulheres se vendendo. Estava suja de poeira e isso dava para melhor.

— Sei que não é o que está acostumada, porém é tudo que posso te oferecer no momento.

— Daremos um jeito.

As próximas semanas foram para limpar e organizar o lugar, tentamos economizar para não levantar suspeita e gastar tudo de uma vez. Ele começou a trabalhar com o sapateiro e eu cuidava da casa, não podia fazer muito, principalmente estando grávida, nada iria durar pois a barriga só crescia.

Ele me tratava bem em alguns momentos e mal em outros, era pior do que eu grávida. Mas em geral estava tudo bem na medida do que era permitido com a situação. 

Segredos e Paixões (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora