Olá, desde já gostaria de agradecer a quem tem acompanhado a história, lido votado e comentado. Em apenas um mês esta história atingiu mil e duzentas leituras, espero que atingem muito mais e continuem a gostar.
EM EDIÇÃO:
A manhã compareceu, de mãos dadas com o silêncio senão pelos murmúrios delirantes de Bardos. Andrej nem pestanejara, fizera o necessário: arrancara o membro desfeito do sujeito da cor da noite. Estancara a hemorragia, enrolando o seu cinto acima da enorme brecha no membro ensanguentado, apertando-o fortemente, até o ferido guinchar. Depois decepara Bardos, evitando que se esvaia-se em sangue, rezando para a ferida cauterizar bem, sem infectar. Aquela não era a primeira vez, nem seria a última, que faria algo semelhante, o pai instruíra-o a se responsabilizar pelos seus homens ou compatriotas, recompensando-os ou castigando-os pessoalmente, sem recorrer a terceiros. Dizia sempre: Um bom governador não se esconde atrás de nenhum homem, dá sempre a cara, mesmo quando não o é aconselhável pois pode ser visto como um acto de coragem e esta incita admiração e respeito. Essa conduta tão banal arrecadava a admiração dos demais, longe de ser algo a que aspirasse, era um homem reservado, odiava quando a atenção recaia sobre si, uma das incontáveis inconveniências de nascer um Ventura.
Ao findar o Nevão os soldados começaram a abandonar os casebres, com o chegar da borrasca tinham-se apressado a arranjar abrigo, resguardando-se no primeiro local que encontrassem. Aglomeravam-se no pátio, desprovido dos corpos que o guarneciam anteriormente, agora ocultos algures nas entranhas da neve, já não existia o menor traço do massacre da besta.
Andrej, contou os homens, captando um pormenor alarmante.
- Somos menos que metade! – Constatou. Faiscaram alguns murmúrios surpresos. Um soldado, cuja tez contrastava com a cor da capa branca, enfaixada nas costas da armadura reluzente e feita de aço, que o indicava como sendo um membro da baixa-Ventura.
- Senhor capitão. – Curvou a cabeça, um sinal de deferência no exército, os soldados já o tomavam como responsável pela campanha, o substituto natural de Gregory. Ainda lhe custava digerir a realidade das últimas horas. – Metade das tropas partiu com o ataque daquela criatura. - O seu tom grave evidenciava um certo desapontamento, enlaçado com ira. – Se quer a minha opinião, devíamos ir atrás deles. – Cravou a atenção nas réstias da tropa.
- A maioria dos Ventura permanece, segundo o que vejo.
- Sim, capitão. Foi a infantaria, a maioria fugiu. – O seu escudeiro provavelmente copiara a atitude. Andrej era incapaz de acorrentar o choque, seguro de uma coisa, quem o mirasse notaria pela sua expressão o seu estado de perplexidade.
- Isso vai para além de loucura! Fugiram para o meio de um Nevão, não acredito! Centenas de homens mortos apenas por terem medo.
- Não sabemos se morreram senhor. Devíamos procurá-los e se houver sobreviventes castigamo-los devidamente. – Acrescentou alguém na multidão.
- Nunca ninguém regressou de um Nevão! – Retribuiu, sentindo o olhar pesado. Achou deveras curioso, restar sobretudo os Ventura, salvo poucas dezenas de membros da infantaria. Uma reputação molesta via-se eternamente ligada para com os Ventura: infames por se encobrirem detrás dos seus homens ou fugirem ao primeiro sinal de perigo. Porém, equipavam-se com o melhor metal e armas, contrariamente aos integrantes da infantaria, revestidos pelas coisas mais frágeis e defeituosas. Mal o monstro iniciou a sua contagem sangrenta, dilacerando as armaduras de aço como se não fosse nada, temeram verdadeiramente pelas suas vidas, se aço não travava os golpes seria o couro reforçado a consegui-lo? Provavelmente, temeram partilhar o destino de Gregory Clove, apreciando mais as suas chances contra o Nevão. Levou uma das mãos à testa, enquanto a outra segurava o elmo, apertando os cabelos para aliviar a tensão. Estudou a imagem, constatando o óbvio. – Também perdemos os Snowden, teremos que retomar a marcha a pé. – Praguejou.
O mundo andava a enlouquecer. Pela primeira vez parara para pensar sobre a besta, inquirindo-se de onde viria e o que faria caso a tornasse a encontrar. Já deixara de deliberar sobre a origem do terremoto que abalara o reino há poucos dias, quase dizimando a vila pacata de Dodd, onde habitava, desencadeara uma avalanche, nas montanhas próximas de Dodd, que quase engolira a povoação. Esse tremor apunhalara-o com um grande mau pressentimento, uma voz diminuta nos cantos mais esquecidos da sua mente gritava-lhe que existia uma ligação entre isso e a criatura que os assaltara.
- A pé? – Inquiriu o sujeito escuro, chamava-se Febim, um dos homens em que Andrej mais confiava.
- Continua a querer atacar aqueles ladrões? Perdemos as condições que...- Acrescentara outra voz rouca.
- Lorde Gregory faleceu e não pudemos fazer nada quanto a isso. – Elevou a voz, tornando-a o mais rígida possível. – Como seus vassalos, é uma vergonha da qual jamais nos livraremos. – Rostos envergonhados abaixavam-se a seu redor. – Porém, podemos salvar o seu filho. Devemos-lhe isso! – Bradou, rezando pela saúde de Darren Clove. Caso o resgatassem, não herdaria o posto do pai, seria invocado um Concelho e aí se iniciariam os que Andrej tanto repugnava, sabendo que seria um dos grandes candidatos. Era tudo uma questão de apoios, ele possuía-os em demasia, cuidadosamente adquiridos pelo seu pai. – Vamos procurar as carroças, não devem estar assim tão enterradas na neve. Precisamos de alimento para a viagem. – Pelas suas estimativas apenas um punhado de quilómetros os superava do seu destino, não deixaria de ser uma árdua caminhada, tornando-se fulcral alimentar as tropas esfomeadas.
Os seus pés, agasalhados por couro e depois por aço, enterravam-se na neve, enquanto regressavam por onde tinham vindo. O muro que circundava a aldeia vira a sua altura diminuída a metade, pois o nível da neve subira consideravelmente. O frio redobrara a agressividade, o corpo de Andrej tremia e tinha o rosto a arder. A temperatura sofria uma queda escandalosa mal um Nevão se ausentasse, nunca ninguém fora capaz de explicar semelhante fenómeno. Claro a culpa era sempre atribuída a Cether, um homem céptico como Andrej nem acreditava na existência dos Condor, movido pela crença de que havia uma justificação razoável detrás de tudo.
Ficaram chocados ao depararem com as carroças. Pegadas enormes marcavam a neve, o seu sangue gelou, ouvindo o ranger de dentes dos militares nas suas costas, não se devia ao frio.
Cacos de madeiras espalhavam-se ao longo da brancura. Compreendeu imediatamente que eram as sobras das carroças, inexplicavelmente destruídas: correu e procurou nos escombros, precisando de ajuda para mover as maiores peças de madeira, procurando réstias da comida que tinham guardado ali. O esforço presenteou-o com um pingo de cansaço, apenas para encontrar migalhas, a comida esfumaçara-se. Foi varrido por um pressentimento, sentia-se observado. Ergueu-se num pulo, fitando a distançia, apenas para avistar o banco infindável, alarmado.
- E agora capitão? – Perguntou alguém.
- Continuamos para norte. – Ordenou, sem a mínima vontade de andar tantos quilómetros na neve sem comer nada e, para piorar a situação, convencia-se de que a criatura os observava de algures, camuflada na neve, culpando-a pela destruição das carroças. Era mais inteligente do que lhe dera crédito, um predador a brincar com a presa, privando-a do seu alimento e consequentemente das forças. Assim não ofereceria tanta luta quando a devorasse.
Iniciaram a caminhada e Andrej jamais retirou a mão do punho da espada, a qual já substituíra, sempre em constante alerta.
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A Canção Da Natureza(UM CAPITULO POR SEMANA)
Fantasy1 LUGAR NO CONCURSO RED FOX EM FICÇÃO GERAL. 2 LUGAR EM FANTASIA NO CONCURSO WATTPAD GOLD TALENTS. 2 LUGAR EM FANTASIA NO CONCURSO PARTO MENTAL. "O mundo reformula-se com a queda da areia na ampulheta do tempo, adaptando-se às necessidades da nova...