KAIRUS

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Bocejava, aguardando o seu convidado.

Sentava-se numa cadeira, moldada a partir de um tronco de madeira escura, mais leve e resistente que a do Continente Chandra. De acordo com Noah, pensou com desprezo. Os outros idiotas do Arquipélago tratavam esse como se fosse a personificação da Mãe, mas Kairus recusava-se. Nunca, para si não passava de Noah Reymes, o sujeito que os impedia de tomar as terras que lhes pertenciam. Metherel era um título demasiado grandioso para ele. A vasta maioria, dos integrantes da sua pequena rebelião, vivia aterrorizada que ele descobrisse o que planeavam. Kairus nem se atrevia a confidenciar-lhes a sua teoria, semearia o pânico, mas desconfiava que Noah suspeitava de si. Não conseguia achar outra razão que justificasse ter sido nomeado um dos Júri dos O'gejem. Era o melhor domador humano, sempre participara nos jogos, sendo o campeão em título há duas décadas. Agora fora promovido a Juri? Noah concedera-lhe a posição sabendo que jamais recusaria, para assim o manter debaixo de olho. Kairus pensou se a ideia não teria sido de Kara, o marido desta era muito mais directo, confrontar-lhe-ia directamente. Porém, a mulher engendraria um plano quase infalível para o apanhar em flagrante. Infelizmente para ela, ele era demasiado inteligente para se deixar denunciar.

A humidade embaciava a janela solitária, limitando a visibilidade do exterior. Tinha as pernas esticadas, com os pés apoiados na mesa quadrada, a única coisa feita a partir de pedra naquela espelunca. ...

Três pancadas fizeram estremecer a porta. Ergueu-se, apertando e rodando a maçaneta até escutar um click, fino mas estridente. Um punhado de homens entrou na sala, cada um com um ar mais preocupado que o outro. Kairus via-se incapaz de conter o seu desagrado, virando-se para o mais corpulento dos seis - chamado Cere - enquanto fechava, bruscamente a porta:

- Disse para vires sozinho! – Rosnou, enervado. Controlava-se para, num ataque de ira, não desencadear a Ligação, era possível suceder quando não tinha mão nas suas emoções. Era fulcral não cometer um erro tão crasso, pois desconfiava que Noah seria capaz de o pressentir assim e ele desconfiaria imediatamente de Kairus se encontrar onde se encontrava.

- Kairus, eles sabem! – Respondeu Cere, cujo queixo saído, e resguardado por uma manta de barba castanha, abanava. – O Metherel sabe. – Escutava as lamúrias dos restantes, encobertos nos seus mantos castanhos. – A Dalathel andou à tua procura.

- A Tasha?! – Soltou, surpreendido. Eles acenaram e deixou a mente trabalhar. Ela era ligeiramente mais nova que si, uma pessoa demasiado desconfiada para o seu gosto. Podia ser, assustadoramente, fisicamente similar ao seu precioso "Padin", porém partilhava a fibra interna de Kara: era inteligente e trapaceira. Ao recordar a história que afastara Tasha Reymes do povo sorriu: - Isso até pode nem ser mau. – Massajou a sua longa pêra. – Ela virá connosco! 

A Canção Da Natureza(UM CAPITULO POR SEMANA)Onde histórias criam vida. Descubra agora