TASHA 4(2)

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TASHA

As palavras de Breda tinham-na impulsionado naquela demanda: - Sim, o povo idolatriza a tua família e o Metherel é como um pai para nós. Infelizmente, existem aqueles que se encontram saturados e consideram a vida aborrecida no arquipélago. Querem regressar às terras de onde nós, e os nossos antepassados, descendemos. A maioria delas é movida somente pela curiosidade em explorar terras novas mas outros falam em conquistar o continente com a ajuda dos Vongreal. - Quem a mandara isolar-se do seu povo? Assim mantinha-se ignorante às intrigas e rumores populares. Porém, jamais se arrependeria da sua decisão, antes sofrer na solidão do que ser estrangulada pela mágoa em ser a única sobrevivente da sua geração. Uma trágica inevitabilidade. Bem tentava conformar-se com esse futuro, no entanto o seu estômago contorcia-se quando pensava nisso.

Abanou a cabeça, determinada a pensar noutra coisa: Kairos. Conhecia-o desde sempre, ou seja, detestava-o desde sempre. Era um homem de natureza trapaceira, nunca conseguira confiar nele. Noah citava regularmente um ditado, o qual ela seguia fielmente. – Respeita o próximo, trata-o como teu igual e conquistarás o seu respeito. Trata-o com desconfiança ou desprezo e receberás o que deste. O sujeito em questão duvidada de tudo e todos, torcendo o nariz para o mundo. Tasha sentia-se desconfortável perto dele, desconhecia porquê mas tinha uma confiança inabalável nos seus sentidos.

Começara por onde Markesh sugerira, num estabelecimento da praça alta. Subiu uma rua larga, pejada de movimento, virou há direita e encontrou o edifício em questão. No seu letreiro estava escrito "Lágrima". Lágrima era uma taberna onde, ocasionalmente, se encontravam Domadores. Vongraida era a ilha onde, salvo uma dúzia de excepções, habitavam as pessoas sem ligação com os Vongreal. Tasha analisou o interior, inesperadamente limpo, e nem um traço de Kairus. Era um facto conhecido que ele passava a maioria das suas tardes a beber ali, tornara-se um cliente tão regular que até já tinha uma cadeira e mesa reservadas só para si.

Procurou-o noutros bares mas, eventualmente, desistiu da sua demanda. Já ponderava se ele não estaria noutra ilha. Só sabia o seguinte, se realmente existisse um grupo que estivesse a considerar desertar o arquipélago, Karius era um dos seus integrantes. Talvez o líder, ou fundador.

O sol deslisava para fora de cena quando descortinou, novamente, uma presença pouco amigável, oculta algures no seio do mar. Um segundo depois já não pressentia nada. Estaria a imaginar coisas, ou deveria averiguar aquilo? Devia ser impressão sua, convenceu-se.

***

O brilho do astro nocturno fazia a cidade cintilar, abaixo de si. Encontrava-se de costas para os portões do palácio, admirando a bela cidade, escutando a cantiga dos animais noctívagos e o rosnar baixo dos Skarch negros, escondidos algures no breu. Vongraida, assim como qualquer outra das ilhas do arquipélago, era além de bela. Seria mesmo capaz de a abandonar? E Raidre? Nunca mais tinha discutido isso com ele, ele ainda partilharia essa sua intenção? Recordou a figura de Gila e o seu aviso. Pela primeira vez em muito tempo, estava dividida. Sim, queria partir, a sua vida seria demasiado extensa para a passar ali, mas seria pelo melhor? Aquele aviso, ou quiçá ameaça, assustara-a de uma forma que era incapaz de descrever. Queria falar com o Pai, ansiando pelo seu regresso.

Teve a sensação que a Mãe escutara as suas preces, pois ao passar pelo arco que a fazia entrar no grandioso jardim avistou Noah e Kara sentados no banco, fitando-a.

- Olá, filha. – Falou Kara, com a típica voz doce.

- Precisamos de falar. – Acrescentou Noah. 

A Canção Da Natureza(UM CAPITULO POR SEMANA)Onde histórias criam vida. Descubra agora