PRIMEIRA PARTE: VONGRAIDA
NOAH REYMES
Vongraida
Quarta Era: Ano 600
O mundo reformula-se com a queda da areia na ampulheta do tempo, adaptando-se às necessidades da nova era, o ser humano segue esse padrão, como uma regra já estabelecida pelo universo. Mesmo no limiar da extinção usa o seu intelecto para deslindar a salvação. A Vontade protege-o que nem uma mãe zelosa.
Ao longo do fio da existência ocorreram três Dizimações, seguidas pelas mesmas mudanças de Era. A realidade de outrora acaba por se tornar lenda ou singela suposição, formam-se novos costumes, religiões e até reinos, o que despedaça correntes do passado. Não restou viva alma com o mínimo conhecimento sobre a primeira era, os documentos dessa altura foram reduzidos a pó devido ao folhear dos séculos.
Os Condor pereceram, levando consigo a terceira, a mais duradoura das quatro épocas, estendendo-se ao longo de dois mil e cem anos. A terceira Dizimação arruinara o ambiente, reduzira cidades colossais a ruínas, florestas a cinzas, fizera ruir montanhas e despedaçara diversos ecossistemas.
Vongraida fugia a essa regra, edificada no romper da nova Era, num reino distanciado do antigo continente. Jazia no Arquipélago das Oito, onde também habitavam os Vongreal: criaturas forjadas da necessidade do homem em quebrar o jugo de dois mil anos dos Condor.
Noah espreitava pela janela aberta, enfiado no âmago de uma torre centenária, enquanto o vento soprava levemente. Acostava-se no parapeito da janela, inspirou o ar fresco, sentiu o interior do corpo a esfriar, apreciando o aroma da noite, cheirava a rosas.
A lua graciosa relumbrava, iluminando a cidade pálida diante de si, a alegria afagava-lhe o orgulho. Ele fora um dos responsáveis por detrás da criação de Vongraida há quinhentos anos.
As dobradiças chiaram, a rogarem por uma boa oleada, até a porta de metal se abrir na totalidade.
Uma mulher, bem vestida, entrou na divisão, carenciada de enfeites ou mobília: algumas tochas decoravam as paredes, enclausuradas em seus suportes redondos, das suas chamas emanava uma onda de claridade que afastava porção da escuridão. A mulher caminhou, elegantemente, na direcção de Noah. Trajava um vestido cinzento até aos joelhos, o pescoço fino e curto fora adornado com colares prateados, sobrepostos uns nos outros, fios negros e ondulados caíam-lhe nas costas.
-Que fazes na torre, querido? – Inquiriu, saudando-o com um beijo caloroso. Juntos há seiscentos anos e o toque dela ainda o punha a corar desalmadamente. – Procurei-te pelo palácio inteiro.
-Admirava a cidade. – Revelou, solenemente.
- O sábio dos sábios não desperdiça o tempo limitado a venerar as suas obras mas sim a planear a próxima.
-Não sou nenhum sábio, nem possuo tempo limitado. – Tornaram-se a beijar, desta vez com uma maior pitada de paixão. A mulher pousou no colo do homem alto. – Kara, nós construímos isto! – Sussurrou-lhe ao ouvido, incentivando-a a admirar a paisagem debaixo de si.
A cidade de Vongraida estendia-se até tocar no mar cristalino. As pessoas caminhavam pelos passeios de pedra sem serem afligidas pela menor preocupação, o branco dos edifícios incontáveis, de pelo menos dois andares, entrelaçava-se com o brilho dourado das chamas das tochas, espalhadas ao longo dos trilhos serpenteados.
No centro de cidade jazia a igreja. Àquela distancia tornava-se uma missão impossível discernir os detalhes arquitectónicos que a tornavam um monumento de esplendoroso, seriam as esculturas e pinturas no seu corpo de pedra? A abóbada de vidro, onde reluziam várias cores distintas? Ou seriam as outras características, demasiadas para enumerar.
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A Canção Da Natureza(UM CAPITULO POR SEMANA)
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