ESTE CAPITULO FOI DIVIDIDO EM DUAS PARTES POIS SENTI QUE FICAVA DEMASIADO EXTENSO.
PERTO DA FRONTEIRA DE WINTHER.
CASTELO
Andejava pela ponte, segurando o livro que lhe pesava os braços escanifrados. O piso de madeira tremelicava e feria, ocasionalmente, os seus pés desnudos, já parara para arrancar várias farpas dolorosas, rezava para não se injuriar ainda mais. Se queria pertencer à ilustre ordem dos Cava'en'dish necessitava de separar a mente da dor, a razão que incentivava semelhante teste. A Grande-Sábia ditava, regularmente: A Vontade é a nossa salvadora, possibilita que usemos a sua fonte inesgotável de energia e se a queremos servir jamais nos podemos preocupar com a banalidade que é a dor. Um Cava'en'dish serve um só propósito: livrar este continente do mal, independentemente do nosso estado físico. Cedrica mordia o lábio para não gritar, impedindo-se de demonstrar a menor fraqueza à Sábia-menor que a observava. Nem podia sequer lançar o menor olhar à mulher, ali fora ensinada a focar-se apenas na tarefa em mão, ignorando a paisagem que a contornava.
Uma hora escorreu, até a Sábia a mandar parar. Do peito de Cedrica esvoaçou um suspiro de desafogo, os seus pés franzinos viam-se ensopados em sangue e controlava-se para não arrancar as farpas de madeira cravadas na sua carne. A brisa mais debilitada incitava as suas feridas a arderem mas necessitava de aprender a ignorar o ardor, pois chegara o momento.
Deu um relance à paisagem, em breve ver-se-ia, novamente, obrigada a ignorá-la. Tremeu, pois o vestido apertado e remendado não a resguardava do frio impiedoso, encarou a noite desprovida do menor traço da lua, em troca deparava-se com serpentinas de estrelas que piscavam para si. A imagem do palácio, nas suas costas, perdia-se na escuridão, tornando-se quase impossível discerni-la. Uma fieira de rochas pontiagudas jazia no final da fenda sobre qual a ponte flutuava, atada entre dois penhascos. A coitada que tivesse o azar de ser ali levada tinha apenas uma certeza, a queda garantia a morte. Ou seja, não podia cair da ponte!
- Prepara-te! - A voz seca da Sábia-Menor arrepiou-lhe a pele, preparava-se para o que se avizinhava, tentando desconectar-se mentalmente da dor, esta dificultava a Conexão.
A ponte foi abalroada por uma força imperceptível que a abanou bruscamente, deixou de conseguir pensar ao escutar o romper das cordas que seguravam a ponte, a qual caiu no negrume. Agarrou-se à madeira, enquanto o coração martelava-lhe o externo, entoando:
- Grandiosa Vontade, nossa salvadora, rezo para que me dês a tua bênção, permite que use a tua força. - Como sempre, a prece brotou, imediatamente, os seus frutos. O calor nasceu nas suas entranhas, alastrando-se e acalorando cada fibra do seu corpo, um odor a queimado impregnou o ar. A dor, aliada ao pavor da queda iminente, procurava estilhaçar a sua concentração, porém Cedrica conseguiu: sustentou-se na fé inabalável em como tudo correria bem e imaginou. A Vontade a seu redor prestou a sua influência.
A ponte ficou suspensa no ar, sem se ver suportada por algo. Subitamente, escalou o vácuo, até regressar ao topo, novamente posicionada entre os dois desfiladeiros- Segundo o desejo de Cedrica, as cordas redobraram de tamanho e enrolaram-se em torno de algo, para a ponte ficar de novo bem presa. Utilizou a Vontade pela última vez ao fazer as farpas desprenderem-se da madeira e voarem para longe, agora livre de caminhar, sem o menor receio, até local onde a ponte terminava e estava a Sábia-menor.
Cedrica baixou a cabeça ao encontrar-se frente à Sabia-menor. A primeira lição que recebera em Castelia fora a de nunca olhar uma delas nos olhos, sendo uma aprendiz estava demasiado abaixo na cadeia alimentar do colégio, somente encarar o olhar de uma Sábia seria tomado como a maior das afrontas.
- Não deixas de me surpreender. - Falou Alivida, enrolada no típico xaile cinza, ornamentada pelas jóias mais reluzentes. - Acedes em poucos segundos e sem a menor dificuldade. És, sem sombra de dúvida, a mais dotada do Castelo. - Captava orgulho e admiração na voz, sem se sentir elogiada. Cedrica era a sua maior crítica, a primeira a identificar os defeitos nas suas próprias acções, na sua opinião demorara demasiado tempo a ser invadida pela Vontade por mais que a mulher elogiasse a velocidade com que o fizera. Cedrica não queria apenas ser uma Sábia, as suas aspirações iam muito além desse cargo: ambicionava alcançar o cargo máximo da instituição centenária, tornar-se a Grande-Sábia.
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A Canção Da Natureza(UM CAPITULO POR SEMANA)
Fantasía1 LUGAR NO CONCURSO RED FOX EM FICÇÃO GERAL. 2 LUGAR EM FANTASIA NO CONCURSO WATTPAD GOLD TALENTS. 2 LUGAR EM FANTASIA NO CONCURSO PARTO MENTAL. "O mundo reformula-se com a queda da areia na ampulheta do tempo, adaptando-se às necessidades da nova...