TASHA 2

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TASHA

Um par de empregadas, fardadas de verde, empurraram a porta de aço, aparentemente sem dificuldade, era mais leve do que parecia. O cheiro a carne deslizou até às suas narinas, agoniando-a.

O título da divisão mais ampla do palácio do Metherel pertencia, sem espaço para dúvida, à sala de cear. Quatro mesas rectangulares de madeira, suficientes para acomodarem quarenta pessoas, enfeitavam a divisão. Três candelabros oscilavam acima delas, abastados de velas acesas, filas de tochas ardiam nas paredes, ajudando a distribuir a claridade.

Tasha abriu o fecho da mala, de onde saiu Salmaela, ofegante e ansiosa por inspirar algum ar.

- Aquela é para ti! - Disse Noah, apontado para a tocha mais próxima da porta, os pequenos olhos encarnados da criatura faiscaram. Voou até à tocha, fitou a chama com fascínio e inspirou: o fogo foi sugado para dentro da pequena boca de Salmaela, até se extinguir. Um esgar de surpresa ecoou na sala, proveniente da mesa onde se encontravam os recém-desalojados, a maioria dos Skarch vivia tranquilamente na Terceira, era raro cidadãos de Vongraida verem um.

Tasha perscrutou os convidados, avistando Arlan, esfaqueada por sentimentos que julgou estarem enterrados. Lembrou-se do dia em que decidiram abandonar a ilha juntos, a meio do percurso Noah alcançara-os, obrigando-os a regressar a casa. Sorriu melancolicamente. O homem de meia-idade esforçou-se para não confrontar o seu olhar, espreitando sorrateiramente, de vez em quando. A mulher, chamada Deledre, fitou-os, obviamente aborrecida.

- Padin, não tenho fome. - O rugir do estômago contrariou-a, deixando-a envergonhada, de rosto borrado de vermelho. Noah riu-se baixinho enquanto a filha saiu da sala, seguida de Salmaela.

- Tasha que se passa? - Falou a Skarch no meio do corredor estreito, infestado de candeeiros e velas. Tasha reparou que a criatura salivava ao olhar para as chamas.

- Contínuas com fome? - Perguntou, espantada.

- Apanhei um susto de morte hoje!

- Qual é a ligação entre isso e a tua fome?

- Nunca ouviste o ditado?! - Exclamou, colocando a mão no peito descoberto para evidenciar o choque. - Um Skarch assustado é um Skarch esfomeado. - Tasha, depois de se deixar infectar por um leve sorriso, suspirou e Salmaela ficou muito séria, um traço raro nela.


- Tasha. – A voz estridente e o rosto oval evidenciaram preocupação. – Já te vi nervosa, zangada, irritadiça, resmungona, como hoje há tarde, e...

- Honras-me em demasia.– Falou, sarcasticamente.

- E já te vi agressiva mas nunca assim, pareces triste!

- Isto foi demasiado cruel. – Soltou mas uma Skarch não a compreenderia.

***

Tasha repousava na cama, o colchão era recheado por penas e lã, oferecendo-lhe a maior comodidade possível, dando-lhe a sensação de se deitar numa nuvem. Trajava um vestido de dormir até aos joelhos, enroscava-se nos lençóis quentes, sentido o calor a infiltrar-se em si.

A sua mente repetia a mesma acção vezes sem conta, para sua grande frustração, recordava-se de Arlan a olhar para si, depois lembrava-se como o achara belo há tanto tempo atrás, imaginando a sua aparência em jovem. O nervosismo preenchia-a, escutando o constante ribombar do coração no quarto silencioso. Desistiu de tentar adormecer, erguendo-se. A claridade da lua trespassava o vidro da enorme janela do seu quarto, ocultada por uma cortina leve e bege.

A Canção Da Natureza(UM CAPITULO POR SEMANA)Onde histórias criam vida. Descubra agora