Este capitulo ainda está me revisão que não tenho tido muito tempo para o ver com mais atenção. Esta semana vou tentar lançar outro capitulo para compensar estas semanas pouco movimentadas.
Tasha era incapaz de conjurar a inspiração para desenhar, quantos anos se teriam passado desde que isso sucedera? Talvez a ultima vez que se vira com semelhante carência de entusiasmo fora no dia em que decidira afastar-se dos amigos.
Suspirou, sentada num banco, de mármore, do grandioso jardim da sua casa, incapaz de pensar noutra coisa que não o que ocorrera nos últimos dias. O reencontro com Arlan perturbara-a, sim disso não tinha duvidas. Porém, ver o suposto fantasma de Gila fizera tremer a sua alma, algo dentro de si alertava-a: não fora Gila a visitá-la! Os pais e Nalara tinham-lhe explicado incontáveis vezes: quando uma pessoa perecia a sua alma ia parar a Vashalar – o Canto Das Almas – de onde já não sairia, até ser reencarnada num novo corpo. As almas que ficavam aprisionadas no mundo corpóreo viam-se cingidas à forma que tinham tido em morte. Com o tempo o seu aspecto físico denegria-se, as suas emoções sofriam o mesmo destino, até não serem nada mais que deformações guiadas por raiva mal colocada. Conhecia uma única pessoa capaz de ver estas assombrações: a sua mãe. Ponderava, ocasionalmente, se possuía o mesmo dom, já presenciara certos eventos que instigavam suspeitas nesse sentido.
Pensou no pai, em como se esgueirara há duas noites atrás. Era um hábito seu, ele ausentava-se enquanto os restantes repousavam. Apreciava dar passeios nocturnos, na companhia de Leshi, ao longo do arquipélago, mas regressava sempre pela manha e já desaparecera há dois dias. Isso jamais sucedia. Tasha só via uma razão, o seu pai estava com os Fo'eaf, os autodenominados Filhos Da Natureza, era incapaz de compreender o porquê mas era a única justificação possível.
Ergueu-se do banco, visitada por uma ideia súbita, sorrindo. Talvez se conseguisse distrair.
Enrolara-se num vestido, o qual se arriava até às dobras dos seus joelhos, e num xaile escuro, onde tecera o desenho de uma árvore dourada. Passou o portão arqueado, cujas portas raramente se cerravam, que anunciava o término do jardim. A Ligação faiscou, pressentido Raidre nas redondezas, evitou comunicar com o companheiro para já. Se ele soubesse do seu plano tentaria impedi-la e Tasha odiava quando se intrometiam nos seus assuntos. Aceitava-o, não respondia nem tratava mal quem o fizesse, mas odiava.
Punhados de Vongreal sobrevoavam a cidade, rugindo entre si, pareciam estar a competir uns com os outros, cada um velejava nos céus, assaltados por salpicos toranja e azuis, tentando demonstrar que era o melhor voador. Desde o terremoto que os Vongreal voavam ou nadavam mais perto da ilha, para se assegurarem de que estava tudo bem. Em tantos séculos de existência e nunca tinha acontecido nada similar no arquipélago, era normal que os nervos de todos se encontrassem no limite.
Desceu a rua ingreme, cortou a enorme avenida principal, que se estendia até ao mar, através de umas vielas para chegar o mais depressa ao seu destino. Como conhecia bem os caminhos estreitos, sobrepostos uns aos outros, e confusos, percorreu-os sem dificuldade mas uma pessoa de Róis, ou de outra das ilhas, perder-se-ia ali. Perdeu um quarto de hora a percorrer aqueles autênticos labirintos até pisar o seu destino, cujo piso era mais terra que pedra.
O porto via-se lotado, os seus ocupantes soluçaram de espanto quando a avistaram. Tasha raramente saia do palácio, senão para visitar as ilhas mais selvagens ou a biblioteca de Vongraida, no horário em que tinha menos gente. Evitava a todo o custo o contacto humano, apesar da conversa com Breda ter espicaçado a sua curiosidade, queria saber quem eram os domadores que ambicionavam abandonar o arquipélago. Uma dúvida desconcertante atordoava-a: travaria essas aspirações ou juntar-se-ia ao dito grupo?
O mar investia contra as docas, mais agitado do que era habitual. Tasha pensou captar uma presença na distançia, debaixo das ondas, prevendo perigo. Esse pressentimento desvaneceu-se mas ganhara suores frios, ficando alerta. Que teria sido aquilo? Perguntou-se mentalmente, perscrutando o oceano, procurando o menor movimento suspeito. Quase conseguia escutar a sua própria agitação cardíaca, aquilo amedrontara-a, jamais sentira uma raiva tão pura.
Distraiu-se ao avistar Draev na distância: o Vongreal marinho que ajudava os cidadãos a deslocarem-se de ilha para ilha. A enorme criatura rasgava a corrente pálida, na direcção das docas, arrastando um bote de madeira de médio porte, com uma longa e grossa corda amarrada na sua popa que fora enrolada em redor do dorso do Vongreal. Na embarcação vinham cinco pessoas.
Draev mudou abruptamente de direcção, deslisando de maneira a que as cordas arrastassem a embarcação, até esta ficar encostada aos cais de pedra branca. Os passageiros saíram, satisfeitos, pagando ao domador do Draev, Markesh.
- Que a Mãe vos acompanhe. – Disse Markesh aos clientes que começavam a subir a grande avenida, juntando-se às centenas de outros que as percorriam. Este largou o pescoço de Draev, pulando para o piso firme do porto.
- Olá, Domador. – Falou Tasha, esboçando o cumprimento que era obrigatário fazer a um domador. Markesh retribuiu o gesto.
- Olá, Tasha. Não sejas tão cortês, pequena. – Retorquiu o homem. O longo pescoço de Draev, tão cinzento e tão lotado de lapas, e outros moluscos, quanto uma rocha, virou-se na sua direcção. As suas costas eram cobertas por uma enorme carapaça quadrada e azul mas era o seu olhar que o fazia destacar, banhado, na totalidade, por um azul mais profundo que o mar. Tasha lamentava não poder conversar com o ser pois via a sagacidade em si, era o segundo Vongreal mais antigo, quase a atingir um século de existência. Invejava Nalara, apenas ela era capaz de conversar com qualquer um dos Vongreal devido aos seus talentos. – Há muito tempo que não te via. – Continuou o velho de barba farta e grisalha, olhos que mal se abriam e a expressão típica de alguém que não esperava mais da vida do que esta lhe dava. – Não envelheceste nada desde que te vi, parece que partilhas do azar da tua família. – O comentário pegou o seu interesse.
- Escolha curiosa de palavras. – Arqueou as sobrancelhas. – Acaso achais a imortalidade um azar? A maioria dos cidadãos não pensaria assim. É a mais privilegiada das honras, servir a mãe durante a eternidade.
- Não envelhecer é a mais triste das dádivas. – Por alguma razão, aquela constatação fê-la tremer. - Se é a mais grandiosa das fortunas porque te isolaste do povo que amas tanto? Porque te afastaste das tuas amigas? Acima de tudo, porque é que o rapaz que amavas teve uma filha com outra mulher? Uma sujeita bem odiosa, se queres a minha opinião. – Falou com a sua voz arrastada, englobado num traje verde húmido, que tresandava a peixe. No seu tempo livre Markesh era o pescador mais célebre das ilhas. – Eu sou velho Tasha, sei que custa perder pessoas. Nem imagino o que seja saber que jamais envelhecerei mas que aqueles que amo ficaram idosos e morrerão e eu assistirei a tudo isso. Deve ser uma dor imensurável...
- Eu sobrevivo. – Encolheu os ombros.
- Pois sobrevives, és uma sobrevivente como o teu pai, mas quase mais ninguém daqui o é. Estamos acomodados a esta boa vida e, infelizmente, ela findará um dia.
- Não o sabemos.
- Pois não. – Terminou o domador, sorrindo melancolicamente para o horizonte, encarando o sol moribundo. – Talvez não seja um fim mas o quer que seja já chegou. – Ao acabar de falar, relançou a multidão nas suas costas, demandando quem queria viajar até outra das ilhas. Angariou meia dezena de clientes, escalou para o pescoço do seu Vongrael. – Adeus Tasha, gostei de te ver.
- Espera. – Demandou a mulher, quando Draev se preparava para partir. - Sabes onde está Karius? – Markesh pareceu curioso com o requerimento.
- Pensava que o odiavas.
- E odeio. – Retribuiu, fungando. Odiava Kairus mas ele dar-lhe-ia as respostas que procurava. Markesh partiu, depois de partilhar com Tasha o paradeiro de Kairus, o qual Tasha buscaria para descobrir algo sobre o grupo de possíveis desertores.
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A Canção Da Natureza(UM CAPITULO POR SEMANA)
Fantasy1 LUGAR NO CONCURSO RED FOX EM FICÇÃO GERAL. 2 LUGAR EM FANTASIA NO CONCURSO WATTPAD GOLD TALENTS. 2 LUGAR EM FANTASIA NO CONCURSO PARTO MENTAL. "O mundo reformula-se com a queda da areia na ampulheta do tempo, adaptando-se às necessidades da nova...