IMPERIUM

O Juiz

Clarke e eu havíamos nos separado no telhado. Ela achou mais seguro seguir para o proprio quarto já que em poucos minutos eu teria minha primeira aula com Shapiro. Que ninguém sabia do que era capaz para me tirar do quarto.

Eu dei um beijo de despedida em minha noiva e a observei seguir pelo caminho de concreto, virando as costas para o amanhecer com olhos na escuridão da outra ponta da mansão. Os cabelos loiros se balançando com a brisa suave e se misturando a explosão alaranjada ao nosso redor.

Enquanto eu lhe olhava a paranoia veio mais uma vez. O sentimento de que Clarke escondia algo de mim não veio sozinho, se espalhando por meu corpo junto ao calafrio assim que senti meu celular vibrar de maneira constante em meu bolso.

Levei a mão ao aparelho e observei sua tela. Que chuviscava, oscilava e tremia em traços de cor negativa. Franzi o cenho, pensado ter quebrado o celular por acidente de alguma maneira, mas as letras começaram a surgir em meio a meu próprio reflexo.

"O que é o passado sem o presente? O que o é início sem o fim?"

- Mas que merda?

"Nada. Apenas palavras sem sentido no mundo atemporal do progresso sem fim." - Franzi o cenho, encarando a tela por um segundo antes que as palavras voltassem a surgir da escuridão. - "Eu sou tudo e nada. A paz no desespero, a luz na escuridão, a alegria na tristeza. O que sou eu?"

- Que tipo de jogo é esse? - Bufei.

"É um jogo onde apenas um pode vencer." - Os pelos de meu braço se levantaram e eu encarei os arredores. Procurando por qualquer intruso que seria responsável por aquilo.

- O que...

"Há quatro características que um juiz deve possuir: escutar com atenção, responder sabiamente, ponderar com prudência e decidir imparcialmente." - As palavras de Sócrates nunca foram tão odiadas na história.

- Eu não sei quem você é ou o quer de mim, mas-

"Eu sou o Juiz, você o julgado." - Sacudi a cabeça em negação com um sorriso debochado.

- O que quer?

"A pergunta certa é: Você é culpada ou inocente?" - Meus dedos se apertaram no aparelho. - "O dia de hoje será usado como seu julgamento. Se inocente você receberá uma recompensa até as 21 hrs de hoje, se culpada seus erros serão a causa da morte de um tão culpado quanto você nesse mesmo horário."

- O que?!

"Não me teste."

A tela se apagou completamente antes mesmo que eu pudesse dizer mais alguma coisa. Apertei o botão abaixo do visor e o display comum do aparelho voltou a surgir. Uma porção de mensagens e notificações, mas nenhum rastro de ligação ou qualquer outra coisa parecida. Nem mesmo as mensagens que recebi na noite passada existiam na caixa de entrada.

Abri o aparelho com pressa, procurando por grampos ou qualquer outra anomalia que pudesse explicar aquilo, mas não havia nada. Nem mesmo um grão de poeira. Me virei, procurando pelo teto, floresta e campo e tive o mesmo resultado. Nada.

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Eu estava pronta para o treinamento. Cabelo arrumado, farda vestida, cadarços amarrados, esperando que Shapiro chegasse enquanto observava a floresta em frente a estrada de cascalho. Os troncos de árvore pareciam se transformar em silhuetas, figuras incapusadas que espreitavam ao meu redor, se misturando as peças daquele mistério.