Cards On The Table

259 14 21
                                    

O golpe que acertou meu maxilar jogou meu rosto para a lateral. A dor latente tomou meu lábio e o sangue quente inundou minha boca com seu conhecido gosto de ferrugem.

- Responda! - O homem gritou contra meu rosto. O cabelo bagunçado já era tomado por suor de seu esforço, os olhos escuros se perdiam entre o castanho e o preto.

Toda aquela situação era uma grande piada para mim. A o que eu pensava ser quatro horas atrás eu fui acordada com um balde de água gelada naquela mesma cela de paredes de concreto puro, chão cinza e sentada em uma cadeira de alumínio impossível de se quebrar. Mãos e pernas amarradas sem pudor e duas câmeras voltadas para meu rosto. Sozinha, nenhum sinal de Elizabeth ao meu redor.

Richard estava a minha frente junto a Esteves, seu lacaio mexicano com sérios problemas com cigarro a julgar pelo seu hálito me usando de saco de pancadas sem pausa até que Moody recebesse uma ligação que não lhe deixou nem um pouco feliz. Ele saiu da sala junto ao Sr. Maracas e não voltou mais apenas o Tequila, usando um soco inglês na mão direita. Aquele cara era o esteriótipo perfeito dos Mexicanos. E agora ele fazia perguntas que pensei já terem as respostas. Como por exemplo:

- Onde esteve durante a tempestade?! - Perguntou outra vez.

O que me levava a pensar que não tinham provas o suficiente para me incriminar e que o fato de me torturarem daquele jeito colocaria Moody em problemas se não fosse justificado. Talvez uma confissão lhe desse uma promoção ou ao menos salvasse seu pescoço.

- Onde?! - Gritou.

- Com a sua mãe. - Ri da minha própria piada e outro golpe acertou meu rosto, me forçando a encarar o chão na direção contrária. - Olha só, atingimos um outro nível do interrogatório. Certo Sr. Tacos? - Lhe encarei outra vez. - Seu bigode deve estar tão orgulhoso agora. - Mais um soco e um fio de sangue escorreu para o chão. - Essa coisa é tão grande que tem vida própria. - Ri em deboche.

O homem sacudiu a mão direita manchada por meu próprio sangue com uma expressão azeda, o maxilar rígido e a respiração controlada eram algo prazeroso de se ver.

- Você é louca não é? - O olhar desgostoso do homem me tirou um sorriso cheio de dentes. - Ferraram com sua cabeça... - Assentiu para si mesmo.

- É relativo. - As palavras se misturavam aos traços de sangue, escorrendo por meus lábios. - Para um homem com sanidade o louco é o que faz loucuras, mas para um homem que comete loucuras o louco é quem tem o poder de comete-las e mesmo assim não as faz. - Minha coluna se arqueou com o soco em meu estômago. - Louco é aquele que não se controla, então no seu caso... Sim, eu sou. Mas as melhores pessoas são assim, certo?

- Eu estou cansado dos seus jogos. - Agarrou meu ombro, apertando o músculo até que a dor tomasse a carne. Sorri em resposta e ele franziu o cenho.

- Mas que pena... - Pendi a cabeça para a lateral. - Estamos apenas começando... - Lhe acertei com uma cabeça forte, ele cambaleou para trás com nariz sangrando. Insultando em sua língua algo que eu tinha certeza que envolvia minha mãe. - Uhhh, isso deve doer.

Ele rosnou e avançou ajeitando o soco inglês em minha têmpora. O impacto mandou o ambiente para uma volta num carrocel sem freios, realidade se misturando a alucinações que vinha evitando com piadinhas e golpes. O que ele não sabia era que quanto mais me acertava mais as vozes, cheiros e sensações desapareciam.

- Hm, esse foi um bom golpe. - Assenti, sacudindo a cabeça. - Meus parabéns. - Cumprimentei. Ele grunhiu em impaciência antes de me atacar mais uma vez.

A porta se abriu atrás de mim e eu virei o rosto para o vidro de observação a minha esquerda, vendo de quem se tratava pelo reflexo. Cabelos loiros presos em um coque social, batom vermelho e maquiagem suave. Calça social cinza, camisa de seda azul escura abaixo do casaco banco. O lenço amarrado no pescoço era da mesma cor. O som dos saltos ecoava por todas as paredes.

IMPERIUMOnde histórias criam vida. Descubra agora