Aftershocks

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Toda a movimentação da noite passada não durou tanto quanto as duas imaginavam que seria. Sim, elas dormiram juntas em uma das noites mais tórridas e movimentadas de todos os tempos, mas nenhuma delas podia ignorar a sensação de que algo estava faltando. Uma última peça do quebra-cabeça que insistia em desaparecer em baixo do tapete, aquela peça que tinha de se encaixar perfeitamente no último espaço remanescente que você leva de maneira feliz até seu lugar até perceber que na verdade não era ali que se encaixava.

O som do canto de um passarinho alegre, a brisa da maré sacudindo as arvores no declive em frente ao quintal e nos fundos da casa vizinha. Os raios de sol as nove da manhã escapando pelo vidro, deslizando calmamente pelo chão e as peças de roupa espalhadas por todos os lados antes de finalmente alcançar um braço caído para fora da cama.

Lexa franziu o cenho, sua expressão pacífica se transformando em uma rabugenta antes de se mover suavemente no colchão. Respirou fundo e se deixou sorrir quando sentiu um beijo carinhoso em seu pescoço. Ergueu o braço dormente e segurou a cintura da loira deitada ao seu corpo, o polegar alisando a pele nua suavemente enquanto Clarke fazia o mesmo com pernas enroladas as suas da mesma maneira que acontecia em todas as manhãs dos últimos dois anos.

- Bom dia... - Clarke murmurou em sua rouquidão. Os dedos massageando a nuca da morena sonolenta com suavidade.

- Bom dia... - Lexa respondeu o cumprimento com mesma preguiça, sequer abriu os olhos.

Houve um minuto de silêncio calmo, quando Lexa estava prestes a dormir mais uma vez Clarke abriu os olhos e ergueu a cabeça para longe do corpo de sua amada, observando seu rosto pacífico e sonolento por quase um minuto antes que finalmente quebrasse o silêncio.

- Lexa. - Cochichou.

- Hm? - Ela respondeu com um suspiro. Sequer prestava atenção na realidade ao seu redor, mas Clarke despertou no mesmo instante.

A loira estava em um dilema. Ela não sabia o que aquela noite significava, não sabia o que aconteceria dali em diante e o medo de que falar em voz alta sua dúvida fizesse Lexa se afastar outra vez calou sua boca no mesmo instante.

Ao mesmo tempo que quisesse saber Clarke não iria sacrificar a mais nova proximidade com a garota que amava daquela maneira, sabia que seria muito pior se recebesse uma resposta que não gostaria. Então ela falou no que pensava.

- Nada... - Clarke respondeu movendo a cabeça em negação antes de voltar a se aninhar a mulher outra vez, a segurando com um pouco mais de força dessa vez.

Talvez ela tenha feito a coisa certa, já que na mente de Lexa aquilo não passava de um lance de apenas uma noite, algo que não ia se repetir por mais que quisesse. Mesmo que gostasse de Clarke com todo seu coração a traição não lhe permitia confiar na mulher o suficiente para que algo mais fosse construído entre as duas.

E mesmo que se mostrasse pacífica naquela manhã o rosto de Clarke e todas as mortes que viu em sua alucinação voltaram em pesadelos. A mantendo alerta para os riscos de uma aproximação maior que aquela e para o tipo de perigo que sua presença exercia entre todos do grande grupo.

Cerca de uma hora mais tarde Lexa se levantou da cama com um suspiro e cara amassada. Vestiu a calcinha e o sutiã e se abaixou para apanhar a calça jeans largada pelo chão, Clarke observou a tudo em silêncio. Coração angustiado por não saber o que dizer em um momento como aquele. Algo dentro dela lhe dava a certeza de que aquilo nunca mais poderia se repetir, a mastigando por dentro.

Lexa amarrou os cadarços com força, odiando ter de fazer aquilo e vestiu a camiseta dando uma boa olhada no dia ensolarado de mar calmo do lado de fora. Se voltou para a loira na cama, lhe olhando por alguns segundos enquanto buscava a arma sobre o chão no canto direito do ambiente.

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