Let Me Be - Parte 2

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- Isso é um terrível engano! - O garoto de quatorze anos choramingou, se arrastando pelo chão coberto de sangue enquanto a figura no final do corredor marchava na sua direção.

O som metálico da ponta do facão se arrastando no solo e traçando uma linha ondulante atrás do corpo da garota de dezoito anos. O rosto manchado de sangue fresco e os olhos verdes mais se parecendo com os portões do inferno diante do garoto assustado e esguio. Ele não comia a quase três semanas, o cabelo castanho era manchado por tons diferentes de poeira, sangue e suor. As roupas estavam rasgadas e surradas e o cansaço era como nunca havia visto antes.

- Por favor! Eu não fiz nada errado! - Ele implorou assim que suas costas bateram contra a parede no final do corredor.

O som dá risada sinistra de Lexa foi a última coisa que ouviu quando seus pés pararam a vinte metros da presa e as luzes do cenário macabro de caça se apagaram. Ele não podia mais ver nada, apenas ouvir o som tenebroso e áspero da lâmina contra o chão, cada vez mais alto.

O jovem e inocente Warren não sabia como havia parado ali, apenas despertou em uma cama manchada de sangue com paredes tomadas por respingos avermelhados e corpos espalhados pelo chão, alguns se amontoando em pilhas nos cantos do ambiente tomado pelo fedor pútrido da morte. Ele se levantou arregalando os olhos assim que encontrou o cabeça de um esqueleto infantil com menos de meio metro deitado ao lado de seu corpo e tentou se afastar o máximo possível dos ossos, mas acabou caindo sobre o chão a esquerda do colchão e pousando em cima do corpo tomado por larvas e outros germes.

Um homem de barba longa, pele escura, pungente e gelada. Mordidas por seu abdômen, pescoço e qualquer outra parte do corpo que pudesse oferecer carne o suficiente para ser rasgada por uma porção de dentes afiados e fortes. Warren se afastou daquele pesadelo a centímetros de seu rosto com pressa, escaneou o quarto infantil de paredes pintadas em tons de azul com detalhes em verde que mais se pareciam com olhos do que estrelas, o observando em cada passo e encontrou sua única saída no ambiente sem janelas.

Uma porta branca, bloqueada por uma dezena de corpos empilhados com olhos abertos, bocas tomadas por moscas, narizes servindo de passagem para germes, tripas prestes a escorrer para o chão de feridas de todos os tamanhos. Um deles parecia segurar o próprio intestino, o horror era tanto que sua expressão desesperada havia congelado em seu corpo. Warren quase vomitou quando uma barata do tamanho de seu polegar se moveu para fora da boca escancarada da mulher.

O garoto sentiu os olhos arderem em medo, o corpo quase não respondia aos seus comandos e ainda assim ele reuniu coragem para fazer seu caminho em direção a porta. Tropeçou em um par de pés decepados, amassou alguns dedos liberando o som crocante de ossos se partindo e ignorou o ruído das ratazanas, cavando entre os corpos para construir sua saída entre os músculos de carne podre.

Foram longos minutos removendo corpos de seu caminho, um deles simplesmente se desfez em pedaços quando o garoto lhe puxou pela mão. Não havia nada que não tivesse rolado pelo chão, nem mesmo dedos. Era como uma escultura de pedaços, um quebra-cabeça de carne humana e sangue que lhe fez temer o monstro que teve a frieza de fazer algo daquele tipo. O sangue era tão viscoso e podre que ele mal conseguia segurar a maçaneta. Os dedos escorrendo em meio ao caldo gorduroso e pungente de sangue e carne até que finalmente pudesse girar o punho para destrancar a porta.

Ele não ficou aliviado em sair daquele depósito de corpos, pelo contrário. A cozinha que encontrou a sua frente lhe fez ter vontade de voltar para dentro e trancar a porta.

- Meu Deus... - Ele não pode segurar as lágrimas dessa vez. - Por favor, me ajude. - Implorou, os olhos observando a insanidade em suas verdadeiras cores. Pintadas por todos os lados ao seu redor.

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