Just Another Problem - Parte 3

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As vezes tudo o que o mundo deseja é te transformar em alguém que não quer ser, alguém que não pode ver no espelho e que detesta com tudo o que existe dentro de si. Uma mentira, uma marionete controlada pelos desejos de outros.

Não é sempre que encontramos uma escapatória, um modo de fugir da aparentemente impossível maré de seu cativeiro. E muito menores são as vezes em que não se estraga tudo, em que realmente podemos deixar aquilo para trás para seguir um caminho traçado por nossos próprios sonhos.

Na maior parte do tempo pessoas apenas escapam de um problema para se chocar contra a parede de uma segunda cela, ainda mais resistente e alta que a última. Com o triplo de seu tamanho e prestes a desabar sobre a sua cabeça, desaparecendo com seu corpo entre as pedras. Para sempre.

Coisas como essa te fazem pensar se ao menos merecia algo melhor do que recebeu desde o começo. Nos fazem imaginar que seu lugar era de fato do lado de dentro da cela de ferro enferrujado e chão gelado, completamente largada a companhia de seus maiores inimigos internos.

Te faz questionar tudo o que conhece, tudo o que acredita e se culpar por algo que não tinha como mudar. Apagando o rastro do lutador que existia antes para substitui-lo com um covarde de pernas quebradas que sonha em correr atrás dos sonhos. Amargurado com a própria falha e medroso demais para tentar outra vez.

Ela sequer podia acompanhar o que se passava por sua mente naquele momento, não percebeu quando um par de braços contornaram seu pescoço e o rosto úmido do vulto de cabelos louros se afundou contra seu ombro. O som de seus soluços mais se parecia com ecos, perdidos em sua quase completa surdez.

Lexa ouviu a explicação da médica pouco depois de sua pergunta, justificando o estado do garoto, começado em seu longo desmaio para logo em seguida evoluir para uma condição ainda mais grave. A mulher entendeu cada palavra que disse, mas não sentia que ainda tinha compreendido o que aquilo significava.

Os tristes olhos verdes piscaram entre os borrões até finalmente encontrarem a fonte do som, entre as silhuetas desfocadas de Bellamy e a doutora a esquerda da cama. A garganta se fechou quase completamente, o peito disparou e os lábios se partiram em busca de ar quando os músculos tensionaram em um reflexo.

Aden estava um tanto pálido, olhos fechados de maneira pacífica, um hematoma roxo esverdeado tomava o espaço entre sua sobrancelha esquerda e o topo da maça do rosto. Os lábios partidos de maneira relaxada como cada músculo em seu pequeno e adormecido corpo, fornecendo passagem para o longo tubo conectado ao recipiente metálico de oxigênio junto a máquina do lado esquerda de sua cama. Ambas as costas das mãos estavam envolvidas em fita adesiva branca, prendendo o par de agulhas e suas conexões enquanto uma porção de fios serpenteavam sobre seu tórax, saindo das inúmeras telas e componentes de luzes piscantes e ruídos irritantes a direita.

Clarke a apertou com força entre os braços, Lexa finalmente liberou a primeira de muitas lágrimas e tirou os olhos do filho para fecha-los com força. Lábios tremendo em tristeza e sobrancelhas se franzindo suavemente enquanto a respiração já ofegante acelerava ainda mais. As gotas escorreram pelas bochechas, deslizaram pelo maxilar até finalmente caírem sobre o ombro de Griffin, que encharcava sua camiseta de maneira parecida.

Bellamy engoliu o amargo sabor em sua boca quando a médica o sorriu sem dentes e gesticulou para a saída, pedindo que desse um tempo as duas mães. Não achava certo deixar a loira sozinha com Maxine, mas não foi uma escolha que a mulher o permitiu fazer. Sabia que as duas tinham o direito te der privacidade em um momento como aquele.

Poucos segundos depois Lexa e Clarke estavam sozinhas com seu filho, estranhamente adormecido sobre a cama. Continuaram abraçadas por quase dez minutos, incapazes de se separar para ter a excruciante sensação lhes apertando o coração mais uma vez.

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